03 de outubro de 2010 | 0h 00
Análise: José Roberto de Toledo - O Estado de S.Paulo
A queda de Dilma Rousseff (PT) na pesquisa Ibope foi homogênea. Ela caiu praticamente em todos os segmentos de renda e escolaridade, perdeu eleitores no Sul, no Sudeste e no Nordeste, e entre homens e mulheres. Há sinais de que a internet e a religião podem ter tido papel chave nesse movimento.
A consistência na queda sinaliza que não se trata de oscilação eventual da candidata do PT, mas, possivelmente, a retomada de uma tendência de queda que ela havia demonstrado no começo da semana passada. Sugere também que a causa é algo que atinge indiscriminadamente eleitores de todas as classes sociais e regiões do País.
A novidade da reta final da campanha foi a queda de Dilma entre os eleitores evangélicos. Até o começo da semana, a petista havia perdido 7 pontos nesse segmento. Entre outros motivos, por causa da polêmica na internet sobre sua opinião a respeito do aborto.
Vários vídeos explorando a mudança de posição da petista sobre o assunto viraram hits de audiência no YouTube. Em um deles, ela aparece defendendo, durante entrevista em 2007, a descriminação da prática. Em outro vídeo, um pastor pede aos fiéis para não votarem em ninguém do PT, por causa das posições do partido sobre o aborto. O clipe de 11 minutos tinha sido visto 2,8 milhões de vezes até ontem.
A grande beneficiária da queda de Dilma foi a evangélica Marina Silva (PV), que cresceu entre irmãos de fé e empatou com José Serra (PSDB) nesse segmento, que soma 20% do eleitorado.
A campanha de Dilma acusou o golpe e agiu rápido para estancar a sangria de votos. Organizou uma reunião de última hora com líderes religiosos na quarta-feira e estimulou bispos e pastores evangélicos, como Edir Macedo, da Igreja Universal, a pregarem o voto na petista.
Num primeiro momento, a estratégia pareceu funcionar e as pesquisas realizadas no meio da semana passada mostraram Dilma estabilizada, inclusive entre os evangélicos.
A pesquisa de véspera indica que a onda de rejeição à petista se estendeu dos evangélicos para os católicos. Dilma manteve sua intenção de voto entre os primeiros, mas caiu entre os fiéis da Igreja. Bispos e padres católicos também pregaram contra a descriminação do aborto nas últimas semanas. O efeito só está aparecendo agora.
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