Rio - O comportamento pouco democrático do presidente do Equador, Rafael Correa, foi decisivo para instalação do cenário de instabilidade governamental e crise de relacionamento no país, segundo analistas ouvidos pelo Terra nesta sexta-feira. "Esta história de bater no peito e ver quem grita mais alto para conseguir as coisas só piorou a situação, o jeito como ele age provocou a situação. O presidente deveria encarar isso como uma lição de governabilidade", afirmou o professor e pesquisador do laboratório Tempo Presente da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Daniel Chaves.
Apesar de Chaves considerar excelente o governo de Correa, desta vez, para ele, o presidente causou um transtorno da ordem. "Os responsáveis pela segurança, fizeram a insegurança", disse ele e afirmou que o presidente precisa aprender que nem tudo é resolvido "por quem é mais macho".
Centenas de policiais foram às ruas do país e tomaram vários quartéis, entre eles o maior, de Quito, protestando contra um decreto ratificado pelo Congresso Nacional que acaba com os bônus de oficiais de polícia e das Forças Armadas. Os manifestantes também ocuparam o aeroporto internacional da cidade.
Os eventos na quinta-feira terminaram com o resgate, por soldados e policiais de elite, de Correa de um hospital na capital do país, onde foi mantido contra vontade durante várias horas por policiais dissidentes. O presidente foi resgatado após troca de tiros entre os soldados e os policiais que participavam do cerco a Correa.
Para o professor de Relações Internacionais da Unicamp, Reginaldo Moraes, o cenário do Equador é similar ao que vem sendo observado na Bolívia, Venezuela, Paraguai e outros. "Os países da América Latina estão querendo promover mudanças e estão encontrando oposição", disse Moraes. Segundo ele, "qualquer distribuição de renda diferente, gera protestos". A dificuldade em dialogar do presidente Rafael Correa agravou ainda mai o sentimento de insatisfação entre os policiais, de acordo com o professor. Segundo Moraes, porém, nos próximos dias deve haver uma reorganização no país e a situação deve se normalizar.
Golpe de Estado
Em entrevista à imprensa do Equador na madrugada desta sexta-feira, o presidente disse que o ocorrido se tratava de um golpe de Estado articulado pelos partidos de oposição. A possibilidade foi descartada pelos especialistas entrevistados pelo Terra.
"Houve uma dramatização por parte do presidente, não acredito em um golpe, a saída é a conciliação", disse Chaves. O professor de Relações Internacionais, Reginaldo Moraes, tem a mesma opinião e considera o momento vivido pelo país latino como uma "situação tensa".
O coordenador do Instituto de Estudo Econômico Internacional da Unesp, Luis Fernando Ayerbe explica que um protesto salarial se tornou mais profundo e ganhou conotação política. Em relação à situação interna, Ayerbe diz que "com certeza o Correa saiu prejudicado". No entanto, ele ressaltou o apoio internacional, dos países da Unasul, em caso de um possível golpe de Estado.
"Agora, ele precisa se fortalecer, dialogar com a população e parar de querer controlar pela força". Ayerbe descartou um golpe de Estado, se o presidente tomar as devidas providências e negociar os salários com os representantes dos manifestantes.
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