A História Positivista trata a Idade Média como período infrutífero para a "humanidade" (Europa), pois nela a ignorância e a comunicação oral predominavam, onde a escrita foi banida ou enclausurada dentro dos mosteiros. Afinal, pelo fato de não ter sido uma sociedade letratada é possível desconsiderar todas os atributos sociais, culturais, tradicioanais como identitários de experiências e produção do conhecimento desse período?
Respostas a este tópico
- Olá Hider! Bom tópico. Quando penso em Idade Média também lembro dos Carolíngios, com sua arte, sua cultura letrada e até mesmo seu renascimento. Pode não ser a regra daqueles tempos, mas fez parte deles. A classificação de história medieval como idade das trevas é uma classificação criada pelos iluministas, se não me engano. Abs!!
- IDADE DAS TREVAS:Termo outrora utulizado para descrever o declínio da cultura latina e a desordem que se gerou na Europa nos séculos V e VI após o colapso do Império Romano do Ocidente.Os historiadores contemporânios evitam o termo pela implicação óbvia que os valores romanos eram os únicos civilizados.
- Ao ler recentemente um livro muito interessante do medievalista Jacques Le Goff não fiquei surpreso com o que ele define por idade média ou “idade das trevas”. Para ele existiram duas, pelo o menos na nomenclatura, sendo que uma delas ele considera extremamente produtiva principalmente no âmbito cultural; desde arquitetura, pinturas, músicas... Quando se pensa nas perseguições, no número surpreendente de iletrados, na inquisição, nas péssimas condições de vida relacionadas aos maus tratos dos senhores feudais, temos então a idade das trevas. Mas o ponto importante é que Le Goff separa as coisas, lembrando que o nome idade média foi criado por alguns intelectuais que consideravam a “Antiguidade” muito mais gloriosa e produtiva, remetendo-se diretamente à Grécia e Roma. Se formos ponderar, é claro, que logo após o declínio de Roma um primeiro rei “bárbaro” ocupa o trono e a partir daí surge um período dominado principalmente por povos por eles assim considerados (ignorantes, barbaros). Então temos um período glorioso seguido por um declínio cultural e intelectual para então surgir a modernidade. A idade média seria um verdadeiro hiato entre esses dois períodos.
- O termo "Idade Média" e "Idade das Trevas" começou a ser usado pelos renascentistas e isto pode ser observado no livro "Idade Média - O Nascimento do Ocidente" do Hilário Franco Júnior já na sua introdução. Não podemos, de forma alguma, colocar definitivamente este período como um período de Trevas. Teve suas contribuições científicas, artísticas e é lá na Idade Média que temos o início da formação das nações ocidentais. Pra ser sincero discordo até mesmo da periodização histórica que nomeou o período como Idade Média. Como bem colocou alguém antes de mim este termo vem de estar no meio de dois períodos gloriosos: greco-romano e renascimento da cultura greco-romana. Todavia como fugir do termo? Enfim, todo período tem "trevas" e "luzes". Mas até as "trevas" e as "luzes" depende de quem vê.
- Todo período tem sua importância e história própria, a idade média não foge disso. E tem uma história encantadora com muitos altos e baixos, entre primeira idade, alta, central e baixa. Nos nossos tempos esse termo não existe mais. Como já foi citada a idade média nos trouxe muitas coisas como um valor cultural que reflete ainda hoje, nasceram as nações européias e por aí vai. (; Sim a classificação de “idade das trevas” foi criada pelo iluminismo, séc XVII.
- Penso que já está claro , pelo menos para quem procura se aprofundar um pouco mais em história, que chamar a Idade Média de idade das trevas é uma bobagem, que só serviu para aqueles que queriam enaltecer a razão como a coisa mais importante para o ser humano. Então a Idade Média, dominada pelo pensar religioso, com suas fogueiras prontas para queimar aqueles que apresentassem idéias diferentes das estabelecidas só podria ser identificada com idade das trevas. Devemos fugir desse maniqueismo, que não ajuda em nada no processo de construção do conhecimento.
- A expressão "Idade da Trevas" foi uma visão construida a partir do renascimento e redimensionada pelos intelectuais iluministas. Esta visão esta carregada de preconceitos contra um periodo conhecido como Idade Média. Tal visão já não é mais compartilhada pelos historiadores atuais, que apoiados por diversas obras sobre o assunto, já esta comprovado o valor cultural da época medievalista!. Sabemos que a visão de um determinado período da história sempre vai ser marcado por fortes preconceitos ou desclassificações!. Dentro da historiografia temos vários exemplos deste tipo!
- Media aetas, médium aevum, em latim, significam idade do meio, um intervalo, um paretenses entre Antiguidade prestigiosa e uma época nova, moderna*. Expressões que ressoam como termos ornados de indiferença a um período de mil anos, tempo marcado por suas particularidades, valores próprios de sua época. Os humanistas valorizaram o seu tempo por meio de uma desqualificação da Idade Média, a colocando como o tempo de obscurantismo, barbárie. Enfim, a idéia de um milênio imerso em trevas corresponde a interesses precisos: a propaganda dos humanistas, de início, e, mais, tarde, o elã revolucionário dos pensadores ocupado em solapar os fundamentos do regime antigo, do qual a Idade Média é a quintessência. * Os termos foram retirados do livro a civilização feudal de Jerome Baschet. Publicado pela editora Globo em 2006.
- Penso que podemos analisar a questão pela própria ideologia de poder exercido pela Igreja, que por pretensões de manter seu status quo, não poderia ser questionada em suas ações e atos. Caso o conhecimento se disseminasse pos meios educativos da transmissão de idéias hipóteses e verdades este status quo do clero encontraria-se ameaçado.
- Apesar do termo identificar esse período com menosprezo, devemos resaltar que é difícil não fazer relação entre "trevas" e inquisição, invasões, sistema de servidão, falta de acesso aos documentos históricos, perseguições religiosas, repressão...
- Creio que a principal intenção dos renascentistas eram , através de sua visão preconceituosa, denotar que a idade média não foi um período de grande desenvolvimento intelectual, onde a igreja com seu teocentrismo procurava mostrar que tudo que acontecia com o homem e com o mundo era da vontade de Deus. Nesse aspecto, o renascentismo contestava relevando a ciência, a razão e a vontade humana ,assim eles procuravam mostrar que eles pertenciam a "idade das luzes" e om alguma das caracteríticas já citadas buscavam o avanço.
- A função de legitimar o período moderno como proeminente em relação ao período anterior, e a Idade Antiga também, logo é só lembrar que a era moderna tem como característica principal o resgate da antiguidade. Fiz uma resenha do livro A Idade Média explicada aos meus filhos, RJ: Agir, 2007, do Le Goff e ele explica direitinho essa questão. Não obstante, contrapondo a essa visão ideológica, Jacques Le Goff trabalha o conceito de “Longa Duração” principiando uma indagação em relação a duração do período medievo. Em seu livro A Idade Média explicada aos meus filhos com um subtítulo intitulado A Idade Média “boa” e a “má”, Le Goff articula a interpretação obscura do mundo medieval atrelada a essa ruptura calcada pela “era moderna”, pois, é assim que é subentendida a reforma causada pelo “Renascimento”, onde, os humanistas e iluministas tentaram passar a ideia de uma época obscurantista e triste, logo o autor não nega sua obscuridade, mas evidencia que em relação a Antiguidade o período teve muitos desenvolvimentos significativos e é considerado o momento do nascimento da Europa. O mesmo defende sua perpetuidade até o século XVIII. Até o século XVIII, pois, é somente nessa era que a “revolução industrial” divide as águas que propiciariam uma nova “divisão historiográfica”, logo, somente a mesma com sua revolução das máquinas, acabaria com o “Antigo Regime” e o sistema “feudal” que caracterizou a Idade Média como “má”. Le Goff evidencia que o nome (“Média”) dado ao período que periodicamente vai de “1000 a 1500”, também é uma relação de não aceitação de sua durabilidade. Le Goff elucida que, as artes bárbaras encontradas nas catedrais foram intituladas de “góticas”, principalmente no Renascimento (propulsor da era moderna); a arte românica que caracterizava a Igreja por volta do século XII, também evidencia que o mundo medievo não manteve uma total ruptura com a Antiguidade, valendo-se valorizar a Antiguidade Clássica (ideal da renascença em reviver aspectos greco-romanos). “Resumindo, a Idade “Média” é aquela que se estende entre dois períodos que são tidos como superiores: a Antiguidade e os Tempos Modernos, que começam com o Renascimento - uma palavra também particular, a Antiguidade “renasce”, a partir dos séculos XV e XVI, como se a Idade Média fosse um parêntese!” [p. 17] Vale ressaltar que o mundo medievo já fora caracterizado por um Renascimento, o Carolíngio e toda essa síntese abordada por Le Goff, nos remota todo um advento medieval nas manifestações Modernas, pois, a Idade Média já vinha propondo sua reforma social. Não sou medievalista, porém História é mudança e permanência e não acredito na superioridade de um período pelo outro, cada um tem sua peculiaridade. Isso pode entrar numa discussão da ideia de progresso dos positivistas, onde é calcada essa periodização (vale ressaltar, que é só um recurso didático) na ideia de progresso (evolução), enfim, isso vai longe.
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