13/11/2010
às 7:29 Leia editorial do Estadão: O fracasso da reunião de cúpula do Grupo dos 20 (G-20), formado pelas maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento, aumenta o risco do jogo sujo no comércio internacional e de um prolongamento da crise. A desordem cambial, o assunto mais importante do encontro, continua sem solução. As moedas chinesa e americana - yuan e dólar - permanecerão depreciadas e sujeitas a maior desvalorização, porque as políticas serão mantidas nos dois países. Os demais, incluído o Brasil, continuarão pagando pelos desajustes globais.
Depois de dois dias de conversas e trocas de acusações, os chefes de governo reunidos em Seul emitiram um comunicado e vários documentos, num total de 90 páginas, sem um só compromisso importante além daqueles assumidos nas quatro conferências anteriores, desde novembro de 2008.
O lançamento de um Plano de Ação de Seul foi insuficiente para disfarçar o impasse em torno da questão mais premente. Os documentos contêm o compromisso de avançar para um sistema cambial de mercado. Todos prometem evitar a desvalorização competitiva, usada para baratear os produtos nacionais e encarecer os estrangeiros. A lembrança dos anos 30 do século passado, quando o protecionismo e a depreciação cambial derrubaram o comércio e afundaram o mundo na Depressão, continua viva. Mas a imagem das misérias de oito décadas atrás ainda é insuficiente para levar os governos das maiores economias a uma cooperação mais ampla.
Há cinco semanas, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn, lamentou o enfraquecimento recente da cooperação. A pior fase da crise foi superada, como lembrou, porque os governos do G-20 agiram em conjunto para deter a quebradeira dos bancos e estimular a atividade.
Duas ou três vezes naquela semana a advertência foi repetida: a recuperação será retardada, se faltar a colaboração obtida nos primeiros encontros de cúpula do G-20. Não há solução isolada para a crise: esta frase foi um mantra na assembleia do FMI, mas as palavras parecem ter perdido o poder de acicatar consciências.
A experiência da cooperação, durante dois anos é mencionada nos oito primeiros parágrafos do comunicado final. A rememoração é acompanhada de uma advertência. Ainda há riscos e “o crescimento desigual e os desequilíbrios cada vez mais amplos alimentam a tentação de abandonar as soluções globais e partir para ações descoordenadas”. O alerta se completa: ações desse tipo “só poderão levar às piores consequências para todos”.
Mas a maior parte dos compromissos é mera repetição - às vezes com algum acréscimo - de ações já combinadas. Os governos continuam prometendo planos confiáveis de ajuste fiscal de médio prazo. Devem agir porque a dívida pública no mundo rico está quase insustentável. Mas é preciso ter cuidado, porque as economias continuam dependentes de estímulos.
Houve avanço nas propostas para reforma do sistema financeiro, graças ao trabalho técnico de instituições multilaterais. Coube ao G-20 registrar a boa nova. Já se decidiu, também, como será a redistribuição de cotas e votos no FMI, com vantagens para as grandes economias emergentes. Mas nenhuma dessas mudanças contribuirá a curto prazo para a superação da crise.
Os líderes combinaram aprofundar o trabalho de avaliação conjunta de suas políticas. Haviam dado o passo inicial na reunião de Pittsburgh, em setembro de 2009. O FMI, responsável pelo trabalho técnico, já apresentou o primeiro relatório, mostrando com números como será prejudicial um afrouxamento da cooperação. Revestido de equações, o mantra da coordenação parece ainda mais convincente.
A presidente eleita, Dilma Rousseff, tomará posse num ambiente global muito menos propício que o dos primeiros seis anos da gestão petista. Deverá esforçar-se, como já prometeu, para atenuar os efeitos do problema cambial e das más condições externas.
Será prudente se combinar suas ações com a manutenção do câmbio flexível - cuidado também já prometido. Obterá resultados mais seguros e duradouros se cuidar amplamente do problema da competitividade, sem se preocupar só com o câmbio.
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