segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
ECONOMIA NA VISÃO CRISTÃ
Dom Fernando Arêas Rifan*
No início desse ano, participei em San Diego, Califórnia, de um Congresso sobre doutrina social da Igreja, com a participação de 40 Bispos de 18 nacionalidades, promovido pelo Acton Institute, dado por professores de economia e sociologia vindos de diversos países. Interessante que, em muitos pontos, coincidiu com o tema da conferência no final do seminário “Economia social de mercado: uma nova visão”, proferida em uma das sedes da Câmara dos Deputados, em Roma, pelo economista italiano Dr. Ettore Tedeschi, presidente do Instituto para Obras Religiosas (IOR), que trata da crise econômica, suas raízes, a lei natural ignorada e a criação de um bem-estar somente material.
O orador recordou que a economia de mercado foi definida pelo economista italiano Luigi Einaudi como “uma terceira via entre o capitalismo e o socialismo, que garante a liberdade individual freando seu instinto egoísta, através de critérios de subsidiariedade e de solidariedade. Nem estatismo nem capitalismo exagerado. Mas, para que funcione tem que ser baseada na doutrina social da Igreja, porque ela tem experiência e valor. A doutrina social da Igreja foi a forma mais eficaz de tornar o amor efetivo, apesar de que, como diz Bento XVI a caridade desvinculada da verdade não pode subsistir”.
Existem, porém, algumas condições: “A doutrina da Igreja, para poder funcionar, requer um Estado que não seja ávido. A economia social de mercado, como primeiro objetivo, deve usar os recursos disponíveis de maneira eficiente e obter resultados mais eficazes. Segundo, tem de assegurar o progresso integral, tendo presente a unidade corpo-alma do homem. E precisa distribuir a riqueza criada, não só por caridade, mas também por sustentabilidade”.
O que há hoje é uma crise de sentido. “A encíclica diz que, se a liberdade vem antes da verdade, o homem imaturo raramente chegará à verdade e, portanto, não saberá distinguir entre meios e fins e confundirá o uso dos instrumentos. E os instrumentos são neutros. Não existe banco ético nem finanças éticas; existe o homem ético, que faz as finanças de maneira ética e moral, ou seja, dando sentido às suas ações. É o homem que dá sentido ao uso dos instrumentos”.
“E Bento XVI, na Caritas in veritate, lembra: não se pode prescindir das ações humanas e do pleno respeito pela vida e não se pode fazer um plano de desenvolvimento econômico se o progresso é apenas material, porque o homem não é apenas um animal material”.
“Temos negado a dignidade da vida e estamos fazendo progressos apenas materiais. E agora está em discussão a lei sobre a eutanásia. Para provocar, direi: é uma lei econômica, porque não se podem manter os velhos, que custam muito quando não nascem crianças; é uma questão de orçamento. Este é o paradoxo da globalização consumista. É o que o Papa chamou de ‘desenvolvimento econômico não-integrado'. Porque o homem se esqueceu de que tem uma alma; considera somente um corpo, pela influência do niilismo e do relativismo”.
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney
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