Por Gregory Viscusi, da Bloomberg, no Estadão:
Muamar Kadafi pode deixar a Líbia sem um meio de se evitar um novo banho de sangue. Quando na Tunísia e no Egito, os manifestantes conseguiram a saída dos seus líderes, ambos os países tinham uma Constituição estabelecendo a transferência de poder para interinos que agora negociam um caminho para a democracia. A Líbia, onde Kadafi reina desde o golpe que destituiu a monarquia em 1969, não tem Constituição ou partidos políticos e os sindicatos estão proibidos há mais de 35 anos.
Muamar Kadafi pode deixar a Líbia sem um meio de se evitar um novo banho de sangue. Quando na Tunísia e no Egito, os manifestantes conseguiram a saída dos seus líderes, ambos os países tinham uma Constituição estabelecendo a transferência de poder para interinos que agora negociam um caminho para a democracia. A Líbia, onde Kadafi reina desde o golpe que destituiu a monarquia em 1969, não tem Constituição ou partidos políticos e os sindicatos estão proibidos há mais de 35 anos.
“Se
Kadafi sair, um enorme vazio será criado, não apenas político, mas
também social e econômico”, afirmou Diederick Vandewalle, professor do
Dartmouth College. “Não há nenhuma organização que possa interagir
entre o governo e os manifestantes.”
A
Líbia, que possui uma das maiores reservas de petróleo da África, pode
estar se preparando para um período mais longo e mais sangrento de
revoltas do que seus vizinhos enquanto Kadafi agarra-se ao poder e não
há nenhum outro líder que possa ser uma alternativa.
“Um
novo mergulho no caos é uma possibilidade real”, disse Ettore Greco,
diretor do Instituto de Assuntos Internacionais de Roma. “O governo
repressivo de Kadafi foi de uma escala totalmente diferente que o da
Tunísia e do Egito.” Embora Kadafi tenha criado um governo que, segundo
ele, deu poder ao povo por meio dos chamados Comitês Populares líbios,
o país não tem uma classe política ou um grupo de oficiais do Exército
que possa assumir o poder, como no Egito.
Em 11
de fevereiro, o presidente Hosni Mubarak cedeu o poder aos militares,
que suspenderam a Constituição e dissolveram o Parlamento, declarando
que governarão o país por seis meses ou até a realização de eleições.
A
falta de uma identidade nacional também complica as coisas. Em 1934, a
Itália fundiu três províncias otomanas capturadas em 1911. O país
tornou-se independente em 1951, sob o rei Idris, cujo apoio era mais
forte ao norte. Kadafi destituiu Idris e assumiu o poder em 1969. “A
Líbia foi uma criação artificial”, disse Vandewalle. “A falta de
identidade nunca foi um problema solucionado.”
Líderes
de mais de cem tribos poderão ser a única saída para a crise, segundo
Ronald Bruce St. John, autor de três livros sobre a Líbia. “A afiliação
tribal foi fundamental porque Kadafi destruiu a sociedade civil na
Líbia”, disse o escritor. “Se este movimento continuar ganhando
velocidade e derrubar o regime, as tribos tentarão criar um novo
sistema político”.
Mas
tribos não serão substituto de um processo político, disse Shashank
Joshi, membro associado do Royal United Services Institute, de Londres.
“É difícil haver um processo democrático de fato se as pessoas votam
por razões ligadas à tribo, como já vimos em alguns países africanos”,
afirmou.
(…)
“O poder, teoricamente, tem como base um sistema de comitês populares e o Congresso Geral do Povo, eleito indiretamente, mas na prática são estruturas manipuladas de modo a assegurar o domínio contínuo de Kadafi, observou a Freedom House no seu último relatório anual. “Organizar ou reunir algumas pessoas, qualquer coisa que possa parecer um partido político, é motivo de punição, e as pessoas podem ser condenadas a anos de prisão e até à morte. Não há uma imprensa e sindicatos independentes.” Aqui
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“O poder, teoricamente, tem como base um sistema de comitês populares e o Congresso Geral do Povo, eleito indiretamente, mas na prática são estruturas manipuladas de modo a assegurar o domínio contínuo de Kadafi, observou a Freedom House no seu último relatório anual. “Organizar ou reunir algumas pessoas, qualquer coisa que possa parecer um partido político, é motivo de punição, e as pessoas podem ser condenadas a anos de prisão e até à morte. Não há uma imprensa e sindicatos independentes.” Aqui
Por Reinaldo Azevedo
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