Lancei recentemente pela editora Leya o livro Guia Politicamente Incorreto da Históriado
Brasil, uma reunião de informações esquecidas e episódios irritantes e
desagradáveis a quem se considera vítima de "grandes potências",
"exploradores" e "imperialistas". Deixo para os leitores do MSM alguns
exemplos.
Zumbi tinha escravos
Nos anos 70, os historiadores marxistas projetaram no
Quilombo de Palmares tudo o que imaginavam de sagrado para uma sociedade
comunista: igualdade, relações de trabalho pacíficas e comida para
todos. Sabe-se hoje que o quilombo do século 17 estava mais para um
reino africano daquela época que para uma sociedade de moldes que
surgiram mais de um século depois. Zumbi provavelmente descendia de
imbangalas, os "senhores da guerra" da África Centro-Ocidental.
Guerreiros temidos, eles habitavam vilarejos fortificados, de onde
partiam para saques e sequestros dos camponeses de regiões próximas.
Durante o ataque a comunidades vizinhas, recrutavam garotos, que depois
transformariam em guerreiros, e adultos para trocar por ferramentas e
armas. Esse modo de vida é bem parecido ao descrito por quem conheceu o
Quilombo dos Palmares. "Quando alguns negros fugiam, mandava-lhes
crioulos no encalço e uma vez pegados, eram mortos, de sorte que entre
eles reinava o temor", afirma o capitão holandês João Blaer.
Décio Freitas inventou dados sobre Zumbi
Os historiadores marxistas que engrandeceram Zumbi
tinham um problema: não há sequer um documento dando detalhes da
personalidade ou da biografia do líder negro. Para resolver esse
obstáculo, Décio Freitas mentiu sem culpa. No livroPalmares: A Guerra dos Escravos,
Décio afirma ter encontrado cartas mostrando que o herói cresceu num
convento de Alagoas, onde recebeu o nome de Francisco e aprendeu a falar
latim e português. Aos 15 anos, atendendo ao chamado do seu povo, teria
partido para o quilombo. As cartas sobre a infância de Zumbi teriam
sido enviadas pelo padre Antônio Melo, da vila alagoana de Porto Calvo,
para um padre de Portugal, onde Décio as teria encontrado. Ele nunca
mostrou as mensagens para os historiadores que insistiram em ver o
material. A mesma suspeita recai sobre outro livro seu,O Maior Crime da Terra.
O historiador gaúcho Claudio Pereira Elmir procurou por cinco anos
algum vestígio dos registros policiais que Décio cita. Não encontrou
nenhum.
Quem mais matou índios foram os índios
Nas bandeiras ao interior do Brasil, geralmente
apontadas como a maior causa de morte da população indígena depois das
epidemias, havia no mínimo duas vezes mais índios - normalmente dez
vezes mais. Sobre a mais mortífera delas, a que o bandeirante Raposo
Tavares empreendeu até as aldeias jesuíticas de Guaíra, os relatos
apontam para uma bandeira formada por 900 paulistas e 2 mil índios
tupis. "No entanto, nestas versões, o total de paulistas parece
exagerado, uma vez que é possível identificar apenas 119 participantes
em outras fontes", escreveu o historiador John Manuel Monteiro no livroNegros da Terra.
Cogita-se até que o modelo militar das bandeiras seja resultado mais da
influência indígena que europeia. "É difícil evitar a impressão, por
exemplo, de que as bandeiras representavam uma predileção tupi por
aventuras militares", afirma o historiador Warren Dean.
Os portugueses ensinaram os índios a preservar a floresta
Apesar de muitos líderes indígenas de hoje afirmarem que
o "homem branco" destruiu a floresta enquanto eles tentavam protegê-la,
esse discurso politicamente correto não nasceu com eles. Nasceu com os
europeus logo nas primeiras décadas após a conquista. Os portugueses
criaram leis ambientais para o território brasileiro já no século 16. As
ordenações do rei Manuel I (1469-1521) proibiam o corte de árvores
frutíferas em Portugal e em todas as colônias. No Brasil, essa lei
protegeu centenas de espécies nativas. Em 1605, o Regimento do
Pau-Brasil estabeleceu punições para os madeireiros que derrubassem mais
árvores do que o previsto na licença. Conforme a quantidade de madeira
cortada ilegalmente, o explorador poderia ser condenado à pena de morte.
João Goulart favorecia empreiteiras
A informação vem do próprio Samuel Wainer, no livroMinha Razão de Viver.
De acordo com o jornalista, então diretor do Última Hora e um dos
principais aliados do presidente, o esquema da época era aquele famoso
tipo de corrupção que hoje motiva escândalos. "Quando se anunciava
alguma obra pública, o que valia não era a concorrência - todas as
concorrências vinham com cartas marcadas, funcionavam como mera
fachada", escreveu Wainer. O que tinha valor era a combinação feita
entre homens do governo e das empresas por trás das cortinas.
"Naturalmente, as empresas beneficiadas retribuíam com generosas
doações, sempre clandestinas, à boa vontade do governo."
Os guerrilheiros comunistas não lutavam por liberdade
De dezoito estatutos e documentos escritos por
organizações de luta armada nos anos 1960 e 1970, catorze descrevem o
objetivo de criar um sistema de partido único e erguer uma ditadura
similar aos regimes comunistas que existiam na China e em Cuba. A Ação
Popular, por exemplo, defendia com todas as letras "substituir a
ditadura da burguesia pela ditadura do proletariado".
Leandro Narloch é jornalista.
Compre aqui o livro "Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil", de Leandro Narloch.
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