segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Como os clérigos entendem o mundo dos negócios: realidade versus caricatura



Ex-Diretor do Center for Entrepreneurial Stewardship do Acton Institute
Há pouco tempo, enviei uma pesquisa para os pastores protestantes de grandes igrejas, a maioria com mais de mil fiéis por domingo. A pesquisa fazia uma série de perguntas sobre economia, negócios, governo, e vários assuntos sociais. Apesar de ainda estar trabalhando numa série de estatísticas, as respostas a duas perguntas em particular foram impressionantes.
Setenta por cento dos líderes religiosos que responderam a afirmação: Sem supervisão cerrada do governo as grandes empresas irão abusar dos seus poderes, indicaram os seguintes quesitos como resposta: “concordo plenamente com”, “concordo com” ou “não tenho opinião formada sobre”.
Trinta e nove por cento, ao responder a afirmação: Porque os negócios normalmente não funcionam dentro de um padrão moral, cada vez mais a regulação governamental é necessária, indicaram como resposta: “concordo plenamente com”, “concordo com” ou “não tenho opinião formada sobre”.
Talvez os colapsos no mundo dos negócios como o caso da Enron e da Worldcom ainda estejam frescos nas mentes, e façam com que esses pastores protestantes olhem de modo suspeito para a maioria das pessoas do mundo dos negócios. Em alguns casos, a suspeita é, sem dúvida, justificada. Talvez, no entanto, haja um motivo diferente, menos justificável para essa suspeita – uma tendência a caricatura.
As caricaturas dos homens de negócios são tão antigas quanto as próprias corporações. Não é um fenômeno da era pós-Enron. Desde Ebeneezer Scrooge de Charles Dickens, passando pelo ganancioso banqueiro Mr. Potter do clássico “A felicidade não se compra” e chegando à Montgomery Burns dos Simpsons, a personagem é a mesma: os líderes dos negócios. Os homens de negócio são seres com uma insaciável fome de poder que querem dominar o mundo.
Recentemente, num fim de semana, tive uma oportunidade única de passar três dias com os CEOs, CFOs, COOs, presidentes e vice-presidentes de empresas de médio porte a multinacionais. Estavam presentes empresas dos seguintes países: Holanda, Alemanha, França, Itália, Austrália, África do Sul, Índia, Grã Bretanha, Suíça, Brasil, Singapura, Luxemburgo, Tailândia, Áustria e Estados Unidos.
Os líderes religiosos que responderam a minha pesquisa imaginariam que a maior parte das conversas, palestras e painéis de debate focalizavam a questão do domínio e expansão do poder. Talvez os pastores mais cínicos acreditem que quando tais tipos empresariais se juntam, a conversa gira em torno de iates, automóveis luxuosos e mansões. Essa é a caricatura.
A realidade é diferente. O foco da conferência era a criação de valores. Mais especificamente, os participantes discutiram como não ser meramente lucrativo, mas como adicionar valor econômico em suas empresas para beneficiar os acionistas, empregados, fornecedores, consumidores e a sociedade. Como um observador, posso testemunhar que os comentários feitos poe essas pessoas poderosas e bem-sucedidas foram o extremo oposto da caricatura.
Os líderes empresariais experimentam uma tremenda pressão porque o bem estar de muitas pessoas depende das capacidades de tomar a decisão correta, no momento certo. Os participantes da conferência condenaram práticas tais como: pensar a curto prazo para ganhos financeiros rápidos, manipulação de balanços financeiros, comportamento não ético, uso do dinheiro dos acionistas para adquirir negócios que não acrescentam valor e tratar os empregados como commodities.
Falaram da absoluta necessidade de uma ética forte, não só como meio, mas como fim e uma forma de honrar a todos com quem fazem negócios. Tópicos como transparência, honestidade, trabalho árduo, e tomada de decisões firmes sempre voltavam à tona.
Talvez o fato mais surpreendente – dadas as recentes controvérsias sobre os salários e bônus dos executivos – esse grupo pleiteava uma compensação dos executivos afixada não só pelas perdas e lucros, mas que pudessem ser manipuladas por uma variedade de meios. Em vez disso, propuseram a idéia de que como o valor total da empresa sobe e desce, assim deveria variar a compensação dos executivos. Advogaram a necessidade de fixar os salários e bônus dos empregados ao valor acrescido ou ao valor perdido, de modo que o empregado tenha interesse no futuro da corporação. Quando a empresa cresce e se torna mais valiosa (um critério maior do que meras perdas e ganhos), todos os executivos e empregados ganham.
Debates como esses renovaram a minha admiração pelo peso que essas pessoas carregam. Nenhum deles pareceu não estar levando a sério suas responsabilidades. Não houve indicação de que estavam nos negócios somente para benefício próprio. Pareciam entender o papel abrangente e substancial que possuem na construção das empresas, que, com o passar do tempo, valorizam suas sociedades.
Será que todos os líderes de empresas são tão conscientes assim sobre seus negócios? É claro que não. Em todos as posições sociais há aqueles que abusam do poder dado ou ajem de modo pouco ético e destrutivo. Apesar da presença de pessoas imorais nas grandes empresas, não creio, no entanto, que tais pessoas são a norma. Infelizmente, um alto percentual de meus colegas no clero têm uma visão diferente e preferem a caricatura à realidade.

0 comentários:

Postar um comentário