O episódio refere-se ao duro conflito pelo poder entre o rei de França Filipe IV , dito "Filipe, o Belo" (1268-1314) e o Papa, que com sua bula "Unam Sanctam", de 1302, impunha a supremacia papal sobre todos os monarcas da Terra, e contestava o direito do rei de França de impor a cobrança de impostos ao clero francês.
Filipe IV reagiu à bula papal convocando um Concílio contra Bonifácio e definindo-o como "simonista e herege". Enviou seu conselheiro Guilherme de Nogaret (1260-1314) à Anagni a fim de prendê-lo, com a ajuda da família romana Colonna, feroz rival dos Caetani, a família do Papa.
O Papa nasceu por volta de 1235 em Anagni, pequena cidade situada a aproximadamente 65 km de Roma, para onde tinha transferido a residência papal, e estava no auge de seu poder.
Depois de sua eleição em 1294, em 1300 ele tinha proclamado o Primeiro Jubileu e, em 21 abril 1303, fundou o "Studium Urbis", a primeira Universidade em Roma, mais adiante rebatizada de "la Sapienza".
O incidente aconteceu em 7 setembro 1303 e é conhecido como "atentado de Anagni" pelo insulto sofrido pelo Papa, mas na Itália é conhecido como "a bofetada de Anagni", porqué conta-se que um dos Colonna na ação da apreensão tinha realmente golpeado o Papa com uma bofetada, enquanto outras crônicas relatam que Colonna teria sido parado a tempo por um dos francêses, talves o próprio Nogaret.
De acordo com uma das versões dos acontecimentos Bonifácio tentou fingir-se de morto para escapar à apreensão, mas o caráter forte do Papa sugere uma versão mais digna de crédito: ele teria esperado os conspiradores sentado em seu trono papal.
Nogaret teria ordenado que o Papa deveria segui-lo até Lyon, para ser destituído de suas funções pelo Concílio convocado lá pelo rei, mas o Papa teria respondido: "aqui está o meu pescoço, aqui está a minha cabeça, morrerei, mas morrerei como Papa!".
Parece também que Sciarra Colonna tinha intenção de matar o Papa, influenciado pelo ódio da família, mas Nogaret o dissuadiu da ideia porque desejava conduzir o Papa vivo até Filipe IV.
Bonifácio conhecia Nogaret porque este tinha sido enviado por Filipe IV como embaixador junto ao Papa em 1300, e elaborou um relatório vívido e colorido desta experiência.
De acordo com outros relatos, a expedição de Anagni foi na realidade uma ideia sugerida a Filipe IV por Nogaret em fevereiro de 1303, sendo que, em 7 de março do mesmo ano, Nogaret recebeu uma mensagem codificada pela chancelaria real, na qual ordenavam-lhe "alcançar aquele determinado lugar ... a fazer o que você creia ser adequado", e, em 12 de março de 1303, durante uma assembléia solene celebrada no Louvre, o conselheiro pronunciou um discurso no qual atacava duramente o Papa e exigia a convocação de um conselho geral a fim de examinar o seu caso, e então julga-lo.
Nogaret foi recompensado pelo rei para a expedição com uma grande quantia em dinheiro e também com a aquisição de terras.
Em 09 de setembro, após dois dias de aprisionamento em seu próprio palácio, Bonifácio foi libertado pela população de Anagni mas, estando muito doente, ele morreu cerca um mês após o atentado, em 11 de outubro, e foi enterrado em Roma, na capela Caetani, na Basílica de São Pedro.
No palácio dos Papas de Anagni ainda existe a "sala da bofetada", onde conta-se que aconteceu o incidente.
O pelotão de 300 italianos e francêses (de acordo com outras fontes eram 1600) que aprisionou o Papa tinha partido de Roma, e era liderado por Nogaret e pelo príncipe Giacomo Colonna (conhecido como Sciarra devido seu caráter agressivo e controverso); parece que, antes de invadir o palácio papal, os conspiradores acamparam na aldeia de Sgurgola, onde tinham sido arengados por Giordano Conti desde o cume duma pedra (que hoje é conhecida como "pietra rea", isto é "pedra ruim"), colocada na entrada da aldeia.
Conti foi conduzido pelo odio contra o Papa, que o tinha privado de suas possessões em Sgurgola, e igualmente a rivalidade entre os Caetani e os Colonna era grande, pois, 7 anos antes, um dos Colonna apoderara-se de um tesouro que era transportado por um neto do Papa. Este, por retaliação, tinha mandado arrasar a cidade de Palestrina, centro das possessões dos Colonna que, por sua vez, acusavam Bonifácio de ter forçado o seu antecessor, Celestino V, a abdicar, acusando-o de ter invocado o demônio e ter instigado os fiéis a que o idolatrassem.
Dante Alighieri menciona o acontecimento na Divina Comédia, (Purgatório, XX, 85-93):
85
Perché
men paia il mal futuro e il fatto, veggio in Alagna entrar lo fiordaliso, e nel vicario suo Cristo esser catto. 88 Veggiolo un'altra volta esser deriso; veggio rinnovellar l'aceto e 'l fele, e tra vivi ladroni esser anciso 91 Veo el novo Pilato sì crudele che ciò nol sazia; ma senza decreto porta nel Tempio le cupide vele. |
85 Para que menor pareça o mal futuro
e já feito, vejo em Anagni entrar a flor-de-lis, em seu vigário Cristo ser apreendido. 88 Vejo que zomban uma vez mais dele; vejo revelar-se o vinagre e a bílis, e entre vivos salteadores ser matado 91 Vejo um novo Pilatos tão cruel que esto não sacia-se; mas sem direito no Templo traz as suas ávidas velas. |
Tudo isso foi dito por Dante, apesar de não admirar de maneira alguma Bonifácio VIII, pois este tinha participado indiretamente para seu exílio em Florença, apoiando o partido “negro”. Além disso, Dante colocou Bonifácio no Inferno da sua Comédia, no terceiro fosso (XIX, 52-57 e 76-87), entre os simonistas, aqueles que venderam as coisas sagrados, e que expiam as suas culpas sendo enterrados de cabeça para baixo e com os pés envolvido em chamas.
Dante põe a chegada de Bonifâcio ao inferno num período sucessivo à sua visita, e o acontecimento é previsto pelo Papa Nicolau III, em sua volta condenado, e que anuncia a próxima chegada, além de Bonifâcio, também de Clemente V.
Despois do atentado de Anagni, o confonto entre a Igreja e os Reis de França resolveu-se em favor destes, com a eleição em 1309 à cadeira de São Pedro, depois do intervalo de Bento XI, do Arcebispo de Bordéus, Bernard de Got, com o nome de Clemente V, que transferiu o papado para Avinhão, onde ficou até o ano de 1377.
Em 1311, Guilherme de Nogaret obteve de Clemente V a absolvição para os participantes do atentado de Anagni, que tinha sido negada por seu antecessor Bento XI, que ao contrário daqueles, tinha excluido os conspiradores da absolvição geral de 12 de maio de 1304 e os tinha condenado, explicitamente, com a bula Flagitiosum scelus do 7 de junho de 1304.
Em troca da absolvição, o Papa Clemente V pediu a participação na Cruzada seguinte e um determinado número de peregrinações em Espanha e França, que, de qualquer modo, Guilherme não realizou.
sites visitados:
http://perso.orange.fr/jean-francois.mangin/capetiens/capetiens_7.htm
http://www.comune.anagni.fr.it/papianagni1.htm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Bonif%C3%A1cio_VIII
http://pt.wikipedia.org/wiki/Filipe_IV_de_Fran%C3%A7a
http://pt.wikipedia.org/wiki/Guilherme_de_Nogaret
0 comentários:
Postar um comentário