Em 358, quando Libério
voltou do exílio, o Imperador quis que Libério e Félix governassem
conjuntamente a Igreja. O povo se
rebelou e levou Félix a deixar a cidade de Roma. Pouco depois, Félix tentou tomar a brasílica
Iulii no Trastevere para oficiar, mas o povo o obrigou a sair de novo. Retirou-se então de Roma e morreu junto à Via
Portuense em 22/11/365.
No início do século VI os
acontecimentos do século IV não eram claros aos cronistas, de modo que Félix
foi considerado Papa legítimo e identificado com um mártir do mesmo nome
sepultado junto à Via Portuense; por isto passou a ser recordado no
Martirológio Jeronimiano aos 9 de julho. - Está claro, porém, que Félix não foi
nem Papa legítimo nem mártir.
Félix III, Papa, governou de
483 a
492.
Félix IV, Papa, pontificou
de 526 a
530.
Félix V, antipapa, foi
eleito "Papa" (= antipapa) nos tempos do Papa Eugênio IV (1431-1447). Em 1439, o cardeal de Arles e 32 eleitores
(dois quais apenas onze eram bispos), reunidos em Brasília, escolheram o duque
Amadeu VIII de Savoia para chefiar uma facção oposta à Santa Sé. Os eleitores pretendiam continuar assim a
ação de um Concílio que, iniciado em Brasiléia (Suíça), fora transferido pelo
Papa legítimo Eugênio IV para Ferrara (Itália) em 1438; a facção que permaneceu em Basiléia, não
aceitara a transferência do Concílio. O
antipapa tomou o nome de Félix V, e foi residir em Lausannne (Suíça). Em 1449 renunciou, vindo a morrer em 1451
reconciliado com a Igreja e o Papado. - Como já foi dito, Félix V é o último
antipapa da história.
Cristóvão
Contra o Papa Leão V
(903-904) insurgiu-se o cidadão romano Cristóvão em setembro de 903. Deteve a sede papal durante quatro meses, ou
seja, até janeiro de 904. Não há como
atribuir foros de autenticidade ao seu comportamento.
Leão VIII
O imperador Oto I (936-973)
da Germânia opunha-se ao Papa legítimo João XII por motivos políticos. Foi então a Roma, convocou um Sínodo local,
para o qual chamou o Papa João XII (4/12/963).
Este tendo-se recusado a comparecer, o Imperador fez eleger como
antipapa um leigo, ao qual foram conferidas todas as ordens sagradas e o título
de Papa Leão VIII; este devia ser pessoa de costumes dignos, mas fora ilegitimamente
eleito, já que a Sé papal não estava vacante.
A população de Roma permaneceu fiel ao Papa João XII, de modo que em
janeiro de 964 houve uma revolta em Roma, durante a qual Leão VIII sofreu um
atentado. João XII, que deixara a
cidade, aproveitou a ocasião para voltar a Roma; um Sínodo reunido em Roma
declarou nula a eleição de Leão VIII no ano de 965.
João XVI
João Filagato era de origem
grega, nascido na Calábria. Tornou-se bispo de Pavia. O Imperador Oto III enviou-o a Constantinopla
como legado seu. Quando voltou do
Oriente para Roma, na ausência do Imperador, a facção dos Crescêncios, que
dominava Roma, o proclamou Papa, talvez à revelia do próprio Filagato, que
tomou o nome de João XVI em abril de 997.
Era então Papa legítimo Gregório V (996-999); este teve que fugir de
Roma, embora gozasse de apoio do Imperador, Quando este retornou a Roma, depôs
João XVI e o relegou para um mosteiro.
Como se vê, trata-se de um antipapa devido à ingerência de interesses
estranhos aos da Igreja.
Bento IX
Teofilato era o filho de
Alberico III da família dos condes de Túsculo, e sobrinho dos dois últimos
Papas Bento VIII (1012-24) e João XIX (1024-32). Quando morreu este último, o pai impôs aos
leitores a pessoa de Teofilato, que em 1032 foi eleito Papa com o nome de Bento
IX. Este tinha entre vinte e cinco e
trinta anos de idade e se achava totalmente despreparado para tão elevado
mister. Levou vida mais semelhante à de
um senhor deste mundo do que à de um Papa.
Em 1045 os romanos elegeram, como antipapa, Silvestre III, que durou
apenas cinqüenta dias. Diante do
mal-estar reinante em Roma, Bento IX, resolveu renunciar ao Papado a
1º/05/1045. Em seu lugar foi eleito o
presbítero João Graciano, com o nome de Gregório VI (1045-1046). Um Sínodo em Sutri, orientado pelo Imperador
Henrique III, declarou depostos o Antipapa Silvestre III e o Papa Gregório VI
(20/12/1046). Outro Sínodo reunido em
Roma aos 24/12/1046 depôs Bento IX (que já renunciara havia muito) e elegeu
Clemente II. Quando este morreu (19/10/1047), Bento voltou a Roma e usurpou a
cátedra de Pedro de 8/11/1047 a 16/07/1048, quando as forças do Imperador o
obrigaram a ceder a sede a Dámaso II; este governou apenas três semanas, pois
faleceu aos 9/08/1048. - Quanto a Bento
IX, ainda viveu até 1055 ou 1056; há quem diga que se arrependeu e terminou os
dias no mosteiro de Grottaberrata, como há (como São Pedro Damião) quem afirme
o contrário.
São estes fatos que explicam
seja Bento IX nomeado duas vezes nas listas dos Pontífices Romanos; somente a
primeira referência é legítima; a Segunda estada na cátedra de Pedro foi
ilícita ou usurpatória.
Silvestre III
O pontificado de Bento IX
(1022-1045) foi assaz autoritário. Em
conseqüência, os romanos elegeram antipapa em janeiro de 1045 o bispo João, da
cidade de Sabina, que tomou o nome de Silvestre III. Pouca coisa se sabe a respeito deste prelado;
o Concílio de Sutri, apoiado pelo Imperador Henrique III, o declarou deposto em
1046; na verdade, Silvestre III só foi antipapa de 20/01/1045 a 10/03/1045.
Bento X
O Papa Estêvão IX
(1057-1058), antes de morrer, induziu o clero e o povo romanos a jurar que não
procederiam à eleição de novo Papa antes da volta do diácono Hildebrando, que
estava na Alemanha e defendia a Igreja contra a prepotência dos nobres. Todavia, após a morte de Estêvão IX
(29/03/1058), a aristocracia romana rompeu o juramento e escolheu João Mincio,
bispo de Velletri, para ser o Papa (antipapa) Bento X (5/04/1058). A eleição foi ilegítima, porque não realizada
pelo colégio eleitoral devidamente convocado e presente. Quando Hildebrando voltou da Alemanha, reuniu
em Sena os cardeais, os representantes do clero e do povo num Sínodo que elegeu
Garardo, bispo de Florença, o qual tomou o nome de Nicolau II (1059-1061). Pouco depois um Concílio em Sutri declarou
Bento X perjuro e intruso, confirmando Nicolau II na cátedra de Pedro. O governo do antipapa durara dez meses
(5/04/1058-24/01/1059).
Bento X deixou Roma em
janeiro de 1059. Morreu durante o
pontificado de Gregório VI (1073-85), que, por magnanimidade, quis tivesse
funerais honrosos. Por isto, durante
muito tempo Bento X foi tido como Papa legítimo e foi incluído no catálogo dos
Papas; em conseqüência, o Cardeal Nicolau Boccasini, eleito Papa em 1303, se
chamou Bento XI, e não Bento X; na verdade, como foi demonstrado, Bento X foi
antipapa e não deve figurar na lista dos Pontífices Romanos.
Alexandre II e Alexandre
V. O Grande Cisma do Ocidente
A respeito de Alexandre II não
resta dúvida de que foi legitimamente eleito após a morte de Nicolau II (1061)
e governou legalmente até a morte em 1073.
Viveu num período em que a Igreja lutava para se libertar da intervenção
do poder dos reis e dos príncipes. Ora,
como Alexandre II fosse homem austero e adepto da renovação da Igreja, a sua
eleição não agradou aos nobres de Roma e ao Imperador da Alemanha; em conseqüência,
estes promoveram em 1061 a
eleição de Cádalo, bispo de Parma, que se tornou o antipapa Honório II
(1061-1072); o poder imperial tudo fez para apoiar Honório contra Alexandre;
todavia isto não invalida a posição de Alexandre nem legítima a de Honório II.
Quanto a Alexandre V, faz-se
mister colocá-lo no contexto do Grande Cisma do Ocidente.
Desde os tempos do rei
Filipe IV o Belo (1285-1314), da França, este país foi exercendo certa ascendência
sobre o Papado. Este chegou a transferir
a sua sede para Avinhão na França de 1309 a 1377.
Quando, após o chamado "exílio de Avinhão", o Papa Gregório XI morreu em
Roma aos 27/03/1378, os Cardeais procederam à eleição de Urbano VI (1378-89),
Papa legítimo nativo de Nápoles; todavia os monarcas da França e de Nápoles,
descontentes pelo fato de ser o Pontífice italiano e não francês, incentivaram
treze Cardeais a proceder a nova eleição em Fondi (reino de Nápolis), da qual resultou
o antipapa Clemente VII (1378-94), que era francês, primo do rei da França, e
foi residir em
Avinhão. Instaurou-se
assim um cisma de grande vulto no Ocidente cristão (1378-1417); os monarcas
aderiam a um ou outro dos pastores em causa, segundo seus interesses
particulares, deixando os fiéis muitas vezes perplexos. A situação de cisma foi-se protraindo, até
que em Pisa um grupo de Cardeais de ambas as obediências reunidos em 1409 houve
por bem declarar depostos os dois Pontífices (o antipapa e o Papa) e elegeram,
para assumir a cátedra de Pedro, o franciscano de origem grega Pedro Filargo,
que tomou o nome de Alexandre V (1409-1410).
Evidentemente esta eleição foi ilegítima, pois nenhum Concílio tem
autoridade sobre o Papa legítimo, que, no caso, era Gregório XII< sucessor
de Urbano VI.
Havendo três obediências na
Igreja - a de Roma, a de Avinhão e a de Pisa -, os cristãos não viam como
resolver o impasse, de mais a mais que isto não poderia ser feito mediante a
deposição do Papa legítimo por parte de um Concílio.
O Espírito de Deus
manifestou então sua presença providente na Igreja. Com efeito.
O rei Sigismundo da Alemanha quis promover a celebração de um Concílio
ecumênico em Constança para pôr termo ao cisma; o Concíílio, embora não
legitimamente convocado pelo Imperador, reuniu-se em 1414 na cidade de
Constança; o antipapa João XXIII, sucessor de Alexandre V, lá compareceu, certo
de que seria confirmado Papa pelo Concílio; ora isto não se deu, pois foi tido
como usurpador e assim constrangido a fugir; foi deposto finalmente e perdeu
toda autoridade. O Papa legítimo Gregório
XII, em Roma, já tinha noventa anos de idade.
Pediu então aos padres conciliares que aceitassem ser por ele convocados
e habilitados a agir conciliarmente; tendo os conciliares aceito tal delegação
da parte do Papa legítimo, constituíram uma autêntica assembléia da Igreja
universal; Gregório XII, a seguir, aos 4/07/1415, renunciou ao Papado, deixando
a sede vacante para que os conciliares pudessem proceder à eleição de novo
Papa. Quanto a Bento XIII, o antipapa de
Avinhão, já estava idoso e perdera muito do seu prestígio; os seus seguidores o
abandonavam aos poucos. O Concílio
declarou-o ilegítimo. Estava assim o
caminho aplainado para a eleição de novo Papa.
Este foi o Cardeal Odo Colonna, que tomou o nome de Martinho V aos
11/11/1417. Assim terminou a terrível
situação de cisma na Igreja sem derrogação ao primado do Romano Pontífice e sem
quebra da sucessão apostólica. Embora os
cristãos se tenham sentido perplexos durante os decênios do cisma, o Espírito
Santo guiou a Igreja para que a linhagem de Pedro ficasse incólume através da
borrasca.
É de notar que, após
Martinho V, a sucessão dos Papas prossegue sem dúvidas nem motivo de hesitação
para o historiador.
Martinho IV e Inocêncio XIII
Aníbal Pereira dos Reis cita
ainda Martinho IV (1281-85) e Inocêncio XIII (1721-1724) como Papas discutidos
ou não admitidos por todos os autores.
Na verdade, nenhuma dúvida existe a respeito da legitimidade do
pontificado de um e outro desses Papas, que constam de toda lista de Papas
criteriosamente confeccionada.
São estas algumas
observações que os quesitos lançados pelo pastor Aníbal Pereira dos Reis
tornavam necessárias. O fato de que a
numeração dos Papas do mesmo nome ora inclua os antipapas, ora os exclua, não
quer dizer que estão assim legitimados aqueles que foram antipapas; por
exemplo, o fato de que Alexandre VI (1492-1503) não repetiu o número V, pois
Alexandre V foi antipapa, não significa que Alexandre V tenha sido legítimo ou
haja sido reconhecido como tal. Não é o
nome nem o número que faz um Papa; a história, sendo obra da liberdade humana,
nem sempre segue as estritas regras da lógica ou do cálculo, mas também nem por
isto é incompreensível ou indecifrável.
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