Como em 2006, quando a ovelha Dolly
baliu pela primeira vez, também agora quando foi alterado o genoma de
uma bactéria, o mundo todo entrou em alvoroço. Grandes manchetes
anunciavam mais um feito do já conhecido cientista Craig Venter. Umas
manchetes pendiam mais para o sensacionalismo; outras mais para a
moderação; outras ainda para interrogações inquietantes.
Que a produção de um genoma sintético que substitui, com êxito, o genoma original de uma bactéria seja um marco importante na linha dos conhecimentos da biogenética e do aprimoramento das biotecnologias, não há dúvidas. Mas as dúvidas que o fato levantou não são pequenas. Umas são de caráter científico, no sentido de desdobramentos possíveis ou não diretamente relacionados com a vida em geral, e a vida humana em particular. Outras são de caráter ético, no sentido da ambivalência que quase todas as descobertas e quase todos os inventos carregam consigo; outras ainda são de caráter propriamente teológico. .
Para uma melhor compreensão do alcance científico, com evidentes repercussões sobre a ética, convém ter presente que na retaguarda deste passo histórico encontra-se mais de um século de descobertas progressivas, sempre com as mesmas preocupações: que são os genes, quais as funções dos genes, qual seu papel em termos de certas doenças, e até que ponto os avanços no campo da biogenética representariam melhores perspectiva de saúde e de vida para a humanidade.
Particularmente importantes foram os anos de 1953, quando o mesmo Craig Venter e seu companheiro de pesquisas James Watson, descobriram a estrutura básica do DNA; 1973 quando se descobriu a possibilidade ao menos teórica da clonagem; a década de 1990 na qual se desenvolveu o Projeto Genoma Humano. Poderíamos ainda destacar a clonagem da ovelha Dolly a partir de uma célula adulta, em 1996, bem como a descoberta da possibilidade de potencializar células adultas, dando-lhes a possibilidade de agirem como se fossem embrionárias.
O feito atual anunciado no dia 20 de março do corrente ano de 2010, apresenta algumas características surpreendentes, entre as quais a da conjugação de um genoma sintético desenhado pelo computador, com uma bactéria diferente, da qual havia sido extraído o núcleo original. Como o próprio Craig Venter afirma, “essa é a primeira espécie autorreplicante do planeta cujo pai é um computador”. Este feito revela conhecimentos e tecnologias realmente impensáveis a algum tempo atrás.
No que se refere aos aspectos éticos, uma série de “nãos, inteligentemente detectados e expressos por Laura Ming e Gabriela Carelli Sapiro ( Revista Veja, 26 de maio de 2010, 104-107), ajudam a entender melhor o que corresponde à realidade e o que não passa de sensacionalismo. Segundo elas os cientistas ainda não são deuses; não nos encontramos nem diante de uma criação artificial da vida, nem de uma criação de vida artificial; não se trata da criação de célula ou bactéria sintéticas; não é invenção de um novo genoma; não nos encontramos diante do maior avanço genético de todos os tempos; não é este o primeiro circuito integrado; os cientistas não criaram vida artificial, apenas transformaram algo existente em algo que ainda não existia.
Mas assim mesmo essa experiência se constitui numa das mais extraordinárias, abrindo perspectivas para a biologia, para a eventual produção de bactérias e algas capazes de depurar as águas e o ar e porque não, para buscar combustíveis alternativos, medicamentos e vacinas mais eficazes. E sobretudo a atual experiência possibilita a previsão de que muito em breve se possa projetar organismos que passem a funcionar e a agir de maneira diferente daquela que julgamos ser a natural. Ou seja: agora, mais do que nunca se levanta a questão do que é natural e do que e artificial e com isso a questão sobre até onde vai não o poder, mas o agir com sabedoria por parte dos seres humanos, que agora detêm em suas mãos poderes quase divinos. Como também agora mais do que nunca se manifesta a responsabilidade humana de agir com bom senso ou então dar seqüência à sua própria destruição.
Com isso fica no ar também uma questão referente à obra criadora de Deus. Agora, com mais força, se pode repetir um ditado oriundo dos primórdios da revolução industrial: “ o ruído das máquinas espanta os deuses”. Afinal, se, embora agindo sobre seres minúsculos, os seres humanos parecem se aproximar sempre mais de uma verdadeira criação a partir do quase nada, para que invocar Deus como Criador? Teríamos que mudar o “creio em Deus Pai todo poderoso, criador do céu e da terra...”?
Com todas as questões levantadas acima, e muitas outras levantadas pelas mais diversas abordagens feitas por jornalistas, cientistas e filósofos, pode parecer que os teólogos foram colocados numa saia justa. E no entanto, para quem sabe interpretar devidamente os relatos da criação, como relatos sapienciais e não históricos, no sentido hodierno da palavra, uma vez mais Deus revela a grandiosidade de seus projetos. Ele não gosta de agir sozinho, mas pressupõe sempre uma espécie de aliança com a humanidade. Se essa humanidade agir com bom senso, ele, Deus, só poderá sorrir, pois os seres humanos, tantas vezes tão irracionais, agora munidos de tanta responsabilidade, já não têm escolha: cabe a eles mesmos administrar tudo, absolutamente tudo, desde que o façam com sabedoria. E se não agirem com sabedoria os humanos não terão porque acusar Deus, mas deverão acusar a si próprios por não haverem conseguido descortinar a grandeza e a sabedoria de Deus diante das maravilhas que ele deixou ocultas no íntimo de todas as criaturas.
Que a produção de um genoma sintético que substitui, com êxito, o genoma original de uma bactéria seja um marco importante na linha dos conhecimentos da biogenética e do aprimoramento das biotecnologias, não há dúvidas. Mas as dúvidas que o fato levantou não são pequenas. Umas são de caráter científico, no sentido de desdobramentos possíveis ou não diretamente relacionados com a vida em geral, e a vida humana em particular. Outras são de caráter ético, no sentido da ambivalência que quase todas as descobertas e quase todos os inventos carregam consigo; outras ainda são de caráter propriamente teológico. .
Para uma melhor compreensão do alcance científico, com evidentes repercussões sobre a ética, convém ter presente que na retaguarda deste passo histórico encontra-se mais de um século de descobertas progressivas, sempre com as mesmas preocupações: que são os genes, quais as funções dos genes, qual seu papel em termos de certas doenças, e até que ponto os avanços no campo da biogenética representariam melhores perspectiva de saúde e de vida para a humanidade.
Particularmente importantes foram os anos de 1953, quando o mesmo Craig Venter e seu companheiro de pesquisas James Watson, descobriram a estrutura básica do DNA; 1973 quando se descobriu a possibilidade ao menos teórica da clonagem; a década de 1990 na qual se desenvolveu o Projeto Genoma Humano. Poderíamos ainda destacar a clonagem da ovelha Dolly a partir de uma célula adulta, em 1996, bem como a descoberta da possibilidade de potencializar células adultas, dando-lhes a possibilidade de agirem como se fossem embrionárias.
O feito atual anunciado no dia 20 de março do corrente ano de 2010, apresenta algumas características surpreendentes, entre as quais a da conjugação de um genoma sintético desenhado pelo computador, com uma bactéria diferente, da qual havia sido extraído o núcleo original. Como o próprio Craig Venter afirma, “essa é a primeira espécie autorreplicante do planeta cujo pai é um computador”. Este feito revela conhecimentos e tecnologias realmente impensáveis a algum tempo atrás.
No que se refere aos aspectos éticos, uma série de “nãos, inteligentemente detectados e expressos por Laura Ming e Gabriela Carelli Sapiro ( Revista Veja, 26 de maio de 2010, 104-107), ajudam a entender melhor o que corresponde à realidade e o que não passa de sensacionalismo. Segundo elas os cientistas ainda não são deuses; não nos encontramos nem diante de uma criação artificial da vida, nem de uma criação de vida artificial; não se trata da criação de célula ou bactéria sintéticas; não é invenção de um novo genoma; não nos encontramos diante do maior avanço genético de todos os tempos; não é este o primeiro circuito integrado; os cientistas não criaram vida artificial, apenas transformaram algo existente em algo que ainda não existia.
Mas assim mesmo essa experiência se constitui numa das mais extraordinárias, abrindo perspectivas para a biologia, para a eventual produção de bactérias e algas capazes de depurar as águas e o ar e porque não, para buscar combustíveis alternativos, medicamentos e vacinas mais eficazes. E sobretudo a atual experiência possibilita a previsão de que muito em breve se possa projetar organismos que passem a funcionar e a agir de maneira diferente daquela que julgamos ser a natural. Ou seja: agora, mais do que nunca se levanta a questão do que é natural e do que e artificial e com isso a questão sobre até onde vai não o poder, mas o agir com sabedoria por parte dos seres humanos, que agora detêm em suas mãos poderes quase divinos. Como também agora mais do que nunca se manifesta a responsabilidade humana de agir com bom senso ou então dar seqüência à sua própria destruição.
Com isso fica no ar também uma questão referente à obra criadora de Deus. Agora, com mais força, se pode repetir um ditado oriundo dos primórdios da revolução industrial: “ o ruído das máquinas espanta os deuses”. Afinal, se, embora agindo sobre seres minúsculos, os seres humanos parecem se aproximar sempre mais de uma verdadeira criação a partir do quase nada, para que invocar Deus como Criador? Teríamos que mudar o “creio em Deus Pai todo poderoso, criador do céu e da terra...”?
Com todas as questões levantadas acima, e muitas outras levantadas pelas mais diversas abordagens feitas por jornalistas, cientistas e filósofos, pode parecer que os teólogos foram colocados numa saia justa. E no entanto, para quem sabe interpretar devidamente os relatos da criação, como relatos sapienciais e não históricos, no sentido hodierno da palavra, uma vez mais Deus revela a grandiosidade de seus projetos. Ele não gosta de agir sozinho, mas pressupõe sempre uma espécie de aliança com a humanidade. Se essa humanidade agir com bom senso, ele, Deus, só poderá sorrir, pois os seres humanos, tantas vezes tão irracionais, agora munidos de tanta responsabilidade, já não têm escolha: cabe a eles mesmos administrar tudo, absolutamente tudo, desde que o façam com sabedoria. E se não agirem com sabedoria os humanos não terão porque acusar Deus, mas deverão acusar a si próprios por não haverem conseguido descortinar a grandeza e a sabedoria de Deus diante das maravilhas que ele deixou ocultas no íntimo de todas as criaturas.
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