No email que me endereçou, a jovem estudante
mostrava-se indignada com a Igreja por causa das Cruzadas. Fiquei
pensando se respondia ou não. Afinal, de que adianta gastar meu latim
com esse tipo de bobagem? Que poder teriam algumas palavras minhas
contra a ação de um professor mal intencionado, o ano inteiro, dentro da
sala de aula? Decidi por uma estratégia mais longa e retornei uma
pergunta bem curta: "Teu professor, ao falar sobre as Cruzadas,
mencionou alguma vez a palavra Jihad ou o expansionismo islâmico?" Ela
me respondeu que nunca ouvira falar disso e se mostrou surpresa por eu
saber que ela fora introduzida ao tema das Cruzadas por um professor. A
menina deve ter me considerado um gênio...
Tem-se aí excelente exemplo de algo que já foi
objeto de outros textos meus: a malícia de tantos professores que se
valem da cadeira de História para seus fins ideológicos, usando o ataque
insidioso à religião como meio para agir. Afastam os jovens da Igreja e
da palavra de Deus e os introduzem, com gravíssimo prejuízo, nos ritos e
devoções do materialismo, do marxismo e do relativismo. Daí para o
hedonismo é um passo de dedo. Desmancham com os pés da mentira e da
mistificação o que os pais tenham ensinado em casa. Espinafram a Igreja
por causa das Cruzadas do século 12, mas jamais mencionam os cem milhões
de mortos pelo comunismo no século passado. Decorrerão algumas décadas
até que esses jovens, já maduros, percebam, na experiência da vida, o
engodo a que foram conduzidos pelos falsos mestres. Quem não tem relatos
semelhantes?
A primeira Cruzada iniciou no ano de 1096 e a nona
terminou em 1272. A palavra refere, portanto, uma série de episódios
que se encerraram há 738 anos, envolvendo a retomada de Jerusalém. Veja
agora, leitor, se é possível falar honestamente sobre as Cruzadas sem
mencionar a Jihad. Jerusalém, no início do século 7, integrava o Império
Romano do Oriente, sob o domínio de Bizâncio. Era uma cidade cristã,
portanto, até ser conquistada pelos sassânidas (persas) e, em seguida,
pelos seguidores de Maomé. Este personagem surgira na cena histórica
alguns anos antes, havia estabelecido as bases religiosas do Islã e dera
início à Jihad e à Guerra Santa. Em apenas oito anos, formara um Estado
árabe sob seu comando. Em 622, conquistara Iatrib (Medina), passando na
espada os judeus da cidade. Em 630 retomara Meca, de onde fora expulso
por suas ideias monoteístas. E morrera em 632. Seis anos mais tarde, seu
sucessor Omar entrava em Jerusalém. Um século mais tarde, o Islã já
estendia seus domínios sobre a Pérsia, a Palestina, boa parte do Império
Bizantino, o norte da África, a Península Ibérica e atacava a Europa
por vários flancos. É possível mencionar as Cruzadas, com seus episódios
grotescos, e nada contar sobre isso?
Mas as coisas não pararam aí. Quando o Papa Urbano
II, no concílio de Clermont-Ferrand (1095) convocou a Primeira Cruzada,
Jerusalém havia sido tomada pelos otomanos, que instalaram um regime de
intolerância à presença dos cristãos, até então respeitada nos termos
ajustados com Bizâncio durante a conquista da cidade em 636.
Clermont-Ferrand fica próxima ao centro geográfico da França. Pois
enquanto ali se realizava o concílio, ainda fumegavam, no centro da
atual Espanha, os destroços deixados pela guerra que retomara a região
de Toledo para os cristãos e para o reino de Castela. Os muçulmanos
estavam ali havia três séculos e levariam outros 400 anos para abandonar
toda a península. Mas disso, nas aulas de história, fala-se pouco,
muito pouco, quase nada. E quando se menciona a Tomada de
Constantinopla, em 1453, o assunto é tratado como fato isolado,
perfeitamente normal, e não como um ato de suprema violência e ganância
imperial, geradora de um massacre que durou três dias e três noites, que
coroou investidas iniciadas 800 anos antes e que encerrou mil anos de
esplendor cristão naquela que foi a mais impressionante cidade de seu
tempo! E nada, absolutamente nada se diz sobre o fato de que esse
expansionismo, ainda insatisfeito, prosseguiu na direção oeste, sob o
mesmo impulso, até a derrota final dos otomanos, diante dos muros de
Viena, na batalha de 1683. Mas insistentes, violentas, conquistadoras e
descabidas foram as Cruzadas...
Agora me responda o leitor: a derrota do
grão-vizir Kara Mustafa Pasha em Viena decretou o fim das guerras
santas? Encerravam-se, ali, as campanhas militares empreendidas pelos
muitos impérios, dinastias, governos e províncias muçulmanas, ao longo
desses mil anos iniciados com a Hégira e a tomada de Iatrib? Não, claro
que não! O que são Al Qaeda, Hamas, Hizbolah, Fraternidade Islâmica e o
amigo de Lula, Ahmadinejad, se não jihadistas que afirmam seguir as
determinações de sua fé? Não eram jihadistas os tresloucados que se
arremessaram contra as Torres Gêmeas? E se alguém, leitor, lhe opuser
que Jihad, no sentido religioso, é coisa diversa, que designa uma
conquista pessoal interior, de natureza espiritual, saiba que isso é
sublime e verdadeiro. Como também é verdadeiro, sem ser sublime, que
Maomé II estava tão a serviço de sua Jihad em versão violenta quanto
quem, hoje, veste um colete de bombas ou faz explodir uma estação de
metrô em Londres. A imensa maioria dos muçulmanos são amantes da paz e
vivem sua religiosidade de um modo sereno e harmonioso com as demais
crenças e religiões em seu entorno. No entanto, é a pequena minoria
violenta que mais uma vez, neste momento, se expressa de modo assustador
nas páginas da história.
Escrevo todas estas linhas, bem além do habitual
nestes textos semanais, para destapar a imensa fraude praticada por
tantos professores de história. Para desmerecer o Cristianismo e a
Igreja, eles se fixam nos episódios das Cruzadas, como algo sem causa e
com as terríveis consequências que apontam. Algumas aulas mais tarde,
porém, tratam da Tomada de Constantinopla como fato isolado, sem origem
que mereça menção e tendo como consequência as Grandes Navegações.
Convenhamos!
Nota do autor: esta é a mensagem que estou enviando à jovem estudante mencionada nas primeiras linhas deste texto.
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