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Contagem regressiva rumo aos 7 bilhões de habitantes no planeta
Por padre John Flynn, L.C.
ROMA, domingo, 6 de fevereiro de 2011 (ZENIT.org) – No fim deste ano, a população mundial atingirá 7 bilhões. Em artigo no site Spiked, Brendan O'Neill observa que este fato levará, inevitavelmente, a uma série de predições malthusianas.
A revista National Geographic publicou este ano várias matérias sobre população, destacando numa reportagem de janeiro alguns representantes pessimistas. Entre eles, Jared Diamond, cujo livro Collapse afirma que o massacre de centenas de milhares de ruandeses em 1994 foi causado, em parte, pela superpopulação.
O artigo, porém, apresenta o contraponto de algumas fontes autorizadas. "A população, em seu conjunto, não está a caminho de uma explosão", diz Hania Zlotnik, diretora da Divisão de População das Nações Unidas, organismo que publica as informações estatísticas da organização (não é, portanto, a agência de planejamento familiar).
Zlotnik também afirma à revista que a velocidade com que a fertilidade decaiu em muitos países e culturas "é espantosa", e que ainda não há um entendimento sobre como o fenômeno ocorreu.
Um chamativo exemplo de até que ponto a fertilidade decaiu aparece num estudo publicado no último 25 de junho pelo Pew Research Center.
Quase uma em cada cinco mulheres norte-americanas termina seus anos férteis sem ter tido nenhum filho, quando nos anos setenta a taxa era de uma em cada dez.
Segundo o estudo, as mulheres brancas têm mais probabilidade de encerrarem o ciclo sem terem tido nenhum filho. Na última década, entretanto, a porcentagem de mulheres sem filhos aumentou mais rapidamente entre as mulheres negras, hispanas e asiáticas, o que diminuiu as diferenças raciais.
Os dados de outros países variam muito pouco. O relatório aponta que das mulheres nascidas em 1960, 22% das do Reino Unido não tiveram filhos; 19% das da Finlândia e da Holanda, e 17% das da Itália e da Irlanda. A porcentagem oscila entre 12% e 14% na Espanha, Noruega, Dinamarca, Bélgica e Suécia.
Errados
A National Geographic entrevistou também Joel E. Cohen, autor do livro How Many People Can the Earth Support?, de 1995.
Sobre o impacto de uma população maior e o aquecimento do planeta, ele afirma: "Quem diz que todo o problema é a população está errado". Segundo Cohen, a população nem sequer é o principal fator.
O pai do malthusianismo moderno é mais pessimista. Em 14 de janeiro, o jornal britânico Guardian noticiou que Paul Erlich, autor do livro The Population Bomb, de 1968, considera que a Terra já ultrapassou sua capacidade máxima de habitantes.
Apesar do fato de as predições-desastre do seu livro estarem demonstradamente erradas, Erlich se declara mais pessimista agora do que quando escreveu o livro.
Uma organização britânica, a Institution of Mechanical Engineers, publicou em 14 de janeiro um relatório com visão mais equilibrada. O estudo não minimiza os desafios de uma população em aumento, mas afirma que eles podem ser enfrentados.
Dominic Lawson, em coluna de opinião para o jornal britânico Independent, comenta que o nosso apetite pelas más notícias sempre minimiza as boas. Seu próprio jornal apresentou o relatório num espaço breve, enquanto outros o ignoraram completamente.
Em seu artigo de 18 de janeiro, Lawson observava que outro relatório publicado na semana anterior pelas agências nacionais francesas de agricultura e desenvolvimento também foi ignorado pelos meios de comunicação.
O estudo francês se perguntava se uma população mundial de 9 bilhões, que é o máximo prognosticado, seria capaz de ter uma dieta de 3.000 calorias por dia. E a conclusão foi afirmativa.
Excessivos?
Voltando ao estudo britânico Population: One Planet, Too Many People? (População: Um Planeta, Gente Demais?), ele começa dizendo que atender as necessidades de uma população que pode atingir cerca de 9 bilhões no fim do século "será um desafio significativo para os governos e para a sociedade em geral". Em seguida, examina quatro áreas-chave: alimento, água, urbanismo e energia.
Nas últimas décadas, houve enormes melhorias na qualidade e quantidade de alimentos produzidos, aponta o relatório. No começo do século XX, um granjeiro dos Estados Unidos produzia o suficiente para alimentar 2,5 pessoas. Um século depois, o mesmo granjeiro produz o suficiente para 97 norte-americanos e 32 pessoas que vivem no exterior.
Segundo o relatório, continuar aumentando a produção de alimentos não depende só de futuros desenvolvimentos tecnológicos. Um grande aumento pode ser obtido com a redução do desperdício. Nada menos do que 25% dos alimentos frescos comprados nos países desenvolvidos vai para o lixo.
Na Índia, por exemplo, perde-se a cada ano de 35% a 40% da produção de frutas e verduras antes de o produto chegar ao consumidor. Esta quantidade é maior que todo o consumo do Reino Unido e se deve ao deficiente armazenamento e a uma gestão inadequada.
A capacidade para produzir alimento suficiente não garante em si que não haverá fome. O estudo observa que a fome é, em geral, um problema político ou de pobreza, mais do que uma questão de capacidade produtiva.
Quanto à água, o relatório informa que muitas das tecnologias e técnicas necessárias para garantir o fornecimento já existem.
O relatório pede mais prioridade à água nos projetos de desenvolvimento. Há muitas possibilidades, que vão da dessalinização até a reciclagem da água. Outro projeto a ser implementado é o de separar os sistemas de águas residuais (esgoto) e o de captação da água da chuva. Isto significaria que a água da chuva, menos contaminada, poderia ser armazenada nas épocas de precipitações mais fortes para ser usada nas épocas mais secas.
Os autores também propõem a reconsideração da prática atual de oferecer água tratada para quaisquer usos, inclusive aqueles que não precisam de água particularmente pura.
O desafio das cidades
Quase todo o crescimento das próximas décadas acontecerá em zonas urbanas de países em desenvolvimento.
"Como no caso de muitos outros temas relativos ao crescimento da população, não há tantas barreiras assim. Podemos achar soluções para uma urbanização crescente", opina o relatório.
É preciso planejar e garantir que as soluções escolhidas sejam as corretas e se adaptem às necessidades locais. Também é necessário encarar aspectos como o financiamento, a propriedade e a participação da comunidade.
Quanto à energia, o estudo ressalta que é difícil predizer a demanda futura, e observa que as estimativas sobre quanto petróleo ainda resta variam muito. Novas tecnologias de geração de energia estão sendo desenvolvidas, apesar do alto custo.
O informe, mais uma vez, afirma que não precisamos basear nossas esperanças em uma tecnologia futura. “É provável, no entanto, que, apesar dos prognósticos de um aumento na demanda futura, a tecnologia de engenharia, que atualmente se compreende relativamente bem e está em uma etapa madura ou em uma etapa avançada de desenvolvimento, poderá contribuir para a energia requerida ao longo do século XXI sem necessidade de novos avanços científicos de importância”.
O texto adverte no entanto que, ainda que estejam disponíveis as soluções, há dificuldades em áreas como a legislação, a economia e a política. Isso significa que terá de haver uma maior coordenação entre engenheiros, comunidades e governos.
O informe conclui repetindo a afirmação de que o aumento prognosticado de população pode-se enfrentar com as tecnologias existentes. As barreiras que existem não são tecnológicas. Algo que há de se ter em mente quando se está frente a cenários de desastres que o meios de comunicação costumam apresentar.
ROMA, domingo, 6 de fevereiro de 2011 (ZENIT.org) – No fim deste ano, a população mundial atingirá 7 bilhões. Em artigo no site Spiked, Brendan O'Neill observa que este fato levará, inevitavelmente, a uma série de predições malthusianas.
A revista National Geographic publicou este ano várias matérias sobre população, destacando numa reportagem de janeiro alguns representantes pessimistas. Entre eles, Jared Diamond, cujo livro Collapse afirma que o massacre de centenas de milhares de ruandeses em 1994 foi causado, em parte, pela superpopulação.
O artigo, porém, apresenta o contraponto de algumas fontes autorizadas. "A população, em seu conjunto, não está a caminho de uma explosão", diz Hania Zlotnik, diretora da Divisão de População das Nações Unidas, organismo que publica as informações estatísticas da organização (não é, portanto, a agência de planejamento familiar).
Zlotnik também afirma à revista que a velocidade com que a fertilidade decaiu em muitos países e culturas "é espantosa", e que ainda não há um entendimento sobre como o fenômeno ocorreu.
Um chamativo exemplo de até que ponto a fertilidade decaiu aparece num estudo publicado no último 25 de junho pelo Pew Research Center.
Quase uma em cada cinco mulheres norte-americanas termina seus anos férteis sem ter tido nenhum filho, quando nos anos setenta a taxa era de uma em cada dez.
Segundo o estudo, as mulheres brancas têm mais probabilidade de encerrarem o ciclo sem terem tido nenhum filho. Na última década, entretanto, a porcentagem de mulheres sem filhos aumentou mais rapidamente entre as mulheres negras, hispanas e asiáticas, o que diminuiu as diferenças raciais.
Os dados de outros países variam muito pouco. O relatório aponta que das mulheres nascidas em 1960, 22% das do Reino Unido não tiveram filhos; 19% das da Finlândia e da Holanda, e 17% das da Itália e da Irlanda. A porcentagem oscila entre 12% e 14% na Espanha, Noruega, Dinamarca, Bélgica e Suécia.
Errados
A National Geographic entrevistou também Joel E. Cohen, autor do livro How Many People Can the Earth Support?, de 1995.
Sobre o impacto de uma população maior e o aquecimento do planeta, ele afirma: "Quem diz que todo o problema é a população está errado". Segundo Cohen, a população nem sequer é o principal fator.
O pai do malthusianismo moderno é mais pessimista. Em 14 de janeiro, o jornal britânico Guardian noticiou que Paul Erlich, autor do livro The Population Bomb, de 1968, considera que a Terra já ultrapassou sua capacidade máxima de habitantes.
Apesar do fato de as predições-desastre do seu livro estarem demonstradamente erradas, Erlich se declara mais pessimista agora do que quando escreveu o livro.
Uma organização britânica, a Institution of Mechanical Engineers, publicou em 14 de janeiro um relatório com visão mais equilibrada. O estudo não minimiza os desafios de uma população em aumento, mas afirma que eles podem ser enfrentados.
Dominic Lawson, em coluna de opinião para o jornal britânico Independent, comenta que o nosso apetite pelas más notícias sempre minimiza as boas. Seu próprio jornal apresentou o relatório num espaço breve, enquanto outros o ignoraram completamente.
Em seu artigo de 18 de janeiro, Lawson observava que outro relatório publicado na semana anterior pelas agências nacionais francesas de agricultura e desenvolvimento também foi ignorado pelos meios de comunicação.
O estudo francês se perguntava se uma população mundial de 9 bilhões, que é o máximo prognosticado, seria capaz de ter uma dieta de 3.000 calorias por dia. E a conclusão foi afirmativa.
Excessivos?
Voltando ao estudo britânico Population: One Planet, Too Many People? (População: Um Planeta, Gente Demais?), ele começa dizendo que atender as necessidades de uma população que pode atingir cerca de 9 bilhões no fim do século "será um desafio significativo para os governos e para a sociedade em geral". Em seguida, examina quatro áreas-chave: alimento, água, urbanismo e energia.
Nas últimas décadas, houve enormes melhorias na qualidade e quantidade de alimentos produzidos, aponta o relatório. No começo do século XX, um granjeiro dos Estados Unidos produzia o suficiente para alimentar 2,5 pessoas. Um século depois, o mesmo granjeiro produz o suficiente para 97 norte-americanos e 32 pessoas que vivem no exterior.
Segundo o relatório, continuar aumentando a produção de alimentos não depende só de futuros desenvolvimentos tecnológicos. Um grande aumento pode ser obtido com a redução do desperdício. Nada menos do que 25% dos alimentos frescos comprados nos países desenvolvidos vai para o lixo.
Na Índia, por exemplo, perde-se a cada ano de 35% a 40% da produção de frutas e verduras antes de o produto chegar ao consumidor. Esta quantidade é maior que todo o consumo do Reino Unido e se deve ao deficiente armazenamento e a uma gestão inadequada.
A capacidade para produzir alimento suficiente não garante em si que não haverá fome. O estudo observa que a fome é, em geral, um problema político ou de pobreza, mais do que uma questão de capacidade produtiva.
Quanto à água, o relatório informa que muitas das tecnologias e técnicas necessárias para garantir o fornecimento já existem.
O relatório pede mais prioridade à água nos projetos de desenvolvimento. Há muitas possibilidades, que vão da dessalinização até a reciclagem da água. Outro projeto a ser implementado é o de separar os sistemas de águas residuais (esgoto) e o de captação da água da chuva. Isto significaria que a água da chuva, menos contaminada, poderia ser armazenada nas épocas de precipitações mais fortes para ser usada nas épocas mais secas.
Os autores também propõem a reconsideração da prática atual de oferecer água tratada para quaisquer usos, inclusive aqueles que não precisam de água particularmente pura.
O desafio das cidades
Quase todo o crescimento das próximas décadas acontecerá em zonas urbanas de países em desenvolvimento.
"Como no caso de muitos outros temas relativos ao crescimento da população, não há tantas barreiras assim. Podemos achar soluções para uma urbanização crescente", opina o relatório.
É preciso planejar e garantir que as soluções escolhidas sejam as corretas e se adaptem às necessidades locais. Também é necessário encarar aspectos como o financiamento, a propriedade e a participação da comunidade.
Quanto à energia, o estudo ressalta que é difícil predizer a demanda futura, e observa que as estimativas sobre quanto petróleo ainda resta variam muito. Novas tecnologias de geração de energia estão sendo desenvolvidas, apesar do alto custo.
O informe, mais uma vez, afirma que não precisamos basear nossas esperanças em uma tecnologia futura. “É provável, no entanto, que, apesar dos prognósticos de um aumento na demanda futura, a tecnologia de engenharia, que atualmente se compreende relativamente bem e está em uma etapa madura ou em uma etapa avançada de desenvolvimento, poderá contribuir para a energia requerida ao longo do século XXI sem necessidade de novos avanços científicos de importância”.
O texto adverte no entanto que, ainda que estejam disponíveis as soluções, há dificuldades em áreas como a legislação, a economia e a política. Isso significa que terá de haver uma maior coordenação entre engenheiros, comunidades e governos.
O informe conclui repetindo a afirmação de que o aumento prognosticado de população pode-se enfrentar com as tecnologias existentes. As barreiras que existem não são tecnológicas. Algo que há de se ter em mente quando se está frente a cenários de desastres que o meios de comunicação costumam apresentar.
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