sábado, 29 de janeiro de 2011

Pedagogia Católica X Pedagogia Liberal


O Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova de 1932, de certa forma representou um rompimento com a Pedagogia Católica, chamada Clássica ou Tradicional. O Escolanovismo inspirado no pedagogo norte-americano Dewey e originário dos países protestantes inseriu no Brasil uma nova mentalidade educacional, laicista, ignorando o aspecto sobrenatural do ser humano e de caráter pragmática e utilitarista. O manifesto foi criticado pelos intelectuais católicos, taxado de socialista, comunizante.
A década de 1920 no Brasil foi marcada pelo embate entre estas duas visões pedagógicas: Católica e Liberal. Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Celina Padilha e tantos outros estiveram a frente do escolanovismo. Em congressos, reuniões, revistas e outros meios divulgaram amplamente tais concepções, defendendo transformações no sistema educacional brasileiro. Na realidade, desde a Proclamação da República do Brasil, em 1889, de inspiração Positivista, a Igreja foi separada do Estado e o ensino religioso retirado das escolas públicas. Intelectuais católicos como Jackson de Figueiredo, Alceu Amoroso Lima, Padre Leonel Franca e Padre Álvaro Negromonte, guiados pelo Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Sebastião Leme, foram ardorosos defensores da Pedagogia Católica, que mesmo aceitando princípios da Escola Nova, pregavam a recristianização do país através dos valores cristãos. E frente aos princípios positivistas, ao cientificismo, materialismo e laicismo que se apregoavam no Brasil a Igreja Católica reagiu. Foi criado na década de 1920 o Centro Dom Vital, a Revista A Ordem e a Associação de Universitários Católicos, para cooptar, congregar intelectuais católicos e divulgar a doutrina cristã, recatolizar as elites, ressacralizar o Estado, devolvendo a Igreja o seu papel na condução dos destinos nacionais.
A Pedagogia Liberal tinha como pontos essenciais o laicismo, o pragmatismo e a ênfase do papel do Estado na educação. Foi amplamente acusada pelos católicos de postular o bem do Estado e aniquilar a personalidade individual, de propagar uma educação sem a influência da religião num país de imensa maioria católica, de colocar nas inovações metodológicas um fim em si mesmas e de abrir espaço para o socialismo materialista.
A Pedagogia Católica, fundamentada na Ratio Studiorum dos Jesuítas, (documento de 1599 que reunia normas, princípios e ações educacionais, que nortearam a educação brasileira por tantos séculos) e na Encíclica Divinis Illius Magistri do Papa Pio XI, de 1929, sustentava que a verdadeira educação só podia ser católica, pois considera o ser humano na sua integridade, material e espiritual. E a família deve ter a proeminência na educação, por direito natural. A Igreja recebeu concessão divina para ensinar e o Estado por último, respeitando os limites da família e da Igreja. Era preciso recuperar a influência da Igreja na vida pública e a primeira bandeira de luta era a introdução do ensino religioso nas escolas. Cultura geral, valores cristãos conciliados com progresso científico, novos métodos sem abandonar o ensino da doutrina cristã, formação do homem educado, bom cidadão e bom cristão, formação moral e intelectual e moral rigorosa dos professores, a integração entre fé, ciência, razão e espiritualidade eram portanto os pontos fundamentais da Pedagogia Católica.
Na década de 1930, por pressões e influências dos intelectuais católicos e seus canais de representação, algumas vitórias foram obtidas pela Pedagogia Católica. Além das organizações católicas citadas, surgiram outras, O Instituto Católico de Estudos Superiores, a Confederação Nacional de Operários Católicos, a Confederação de Imprensa Católica, a Associação de Livrarias Católicas, a Juventude Universitária Católica, a Ação Católica, organização laica de prestígio nacional. Em 1931 numa clara aproximação Igreja-Estado foi inaugurada a estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro. A Constituição de 1934 reintroduziu o ensino religioso nas escolas públicas, representando o fim de 40 anos de laicização nesta área. E a Igreja teve o reconhecimento quase oficial do governo Vargas. Estas iniciativas culminaram na criação da PUC do Rio de Janeiro em 1941, idealizada por Alceu Amoroso Lima e intelectuais católicos ligados aos diversos organismos citados. Por outro lado, os escolanovistas ocuparam cargos burocráticos no governo e seus princípios educacionais foram aos poucos implantados na educação brasileira, dando a ela uma afeição  não cristã, ou anticristã, especialmente nas universidades.

Professor Faria

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