Ao iniciar a Assembléia 
Plenária da Congregação para a Educação Católica - da qual o Papa Bento 
XVI fez parte, quando era cardeal - o Santo Padre aponta a necessidade e
 oportunidade da reforma em curso dos estudos eclesiásticos e da 
formação nos seminários.
Desde sempre o setor da educação é particularmente querido à Igreja, 
chamada a fazer sua a solicitude de Cristo que - narra o evangelista -, 
vendo as multidões, "comoveu-se..., porque eram como ovelhas sem pastor,
 e pôs-se a ensinar-lhes muitas coisas" (Mc 6, 34). A palavra grega 
usada para exprimir esta atitude de "comoção" recorda as entranhas de 
misericórdia e remete para o amor profundo que o Pai celeste sente pelo 
homem. A Tradição viu no ensinamento e, mais geralmente, na educação, 
uma manifestação concreta da misericórdia espiritual, que constitui uma 
das primeiras obras do amor que a Igreja tem por missão oferecer à 
humanidade. É oportuno como nunca que, neste nosso tempo, se reflita 
sobre como tornar atual e eficaz esta tarefa apostólica da Comunidade 
Eclesial, confiada às universidades católicas e, de modo especial, às 
faculdades eclesiásticas. Portanto, alegro-me convosco por terdes 
escolhido para a vossa Plenária um tema de tanto interesse, assim como 
penso também que seja útil analisar atentamente os projetos de reforma 
que atualmente estão a ser estudados pela vossa Congregação, relativos 
às mencionadas universidades católicas e às faculdades eclesiásticas.
Reforma dos estudos eclesiásticos
Em primeiro lugar, refiro-me à reforma dos estudos eclesiásticos de 
Filosofia, projeto que já chegou à fase final de elaboração, na qual não
 deixará de ser ressaltada a dimensão metafísica e sapiencial da 
Filosofia, recordada por João Paulo II na Encíclica Fides et ratio (cf. 
n. 81). De igual modo, útil é avaliar a oportunidade de uma reforma da 
Constituição Apostólica Sapientia christiana. Querida pelo meu venerado 
predecessor, em 1979, ela constitui a magna carta das faculdades 
eclesiásticas e serve de base para formular os critérios de avaliação da
 qualidade dessas instituições, avaliação exigida pelo Processo de 
Bolonha, do qual a Santa Sé se tornou membro desde 2003. As disciplinas 
eclesiásticas, sobretudo a Teologia, são submetidas hoje a novos 
interrogantes, num mundo tentado, por um lado, pelo racionalismo, que 
segue uma racionalidade falsamente livre e separada de qualquer 
referência religiosa, e, por outro, pelos fundamentalismos, que 
absolutizam com violência as suas referências religiosas, afastando-se 
da razão.
Propor a perspectiva cristã num mundo globalizado e plural
Também a escola deve interrogarse sobre a missão que deve realizar no
 hodierno contexto social, marcado por uma evidente crise educativa. A 
escola católica, que tem como missão primária formar o aluno segundo uma
 visão antropológica integral, mesmo estando aberta a todos e 
respeitando a identidade de cada um, não pode deixar de propor a sua 
perspectiva educativa, humana e cristã. Eis então que se apresenta um 
desafio novo que a globalização e o pluralismo crescente tornam ainda 
mais agudo: isto é, o do encontro das religiões e das culturas na 
pesquisa comum da verdade. O acolhimento da pluralidade cultural dos 
alunos e dos pais encontra- se necessariamente em confron to com duas 
exigências: por um lado, não excluir alguém em nome da sua pertença 
cultural ou religiosa; por outro, quando esta diversidade cultural e 
religiosa for reconhecida e acolhida, não deter-se na mera constatação. 
Isto equivaleria, de fato, a negar que as culturas se respeitam 
verdadeiramente quando se encontram, porque todas as culturas autênticas
 estão orientadas para a verdade do homem e para o seu bem. Por isso, os
 homens provenientes de culturas diversas podem falar uns com os outros,
 compreender-se além das distâncias espaço-temporais, porque no coração 
de cada pessoa habitam as mesmas grandes aspirações ao bem, à justiça, à
 verdade, à vida e ao amor.
Formação dos futuros sacerdotes
Outro tema a ser estudado pela vossa Assembléia Plenária é a questão 
da reforma da Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis para os 
seminários. O documento-base, de 1970, foi atualizado em 1985, 
especialmente após a promulgação do Código de Direito Canônico de 1983. 
Nos sucessivos decênios, vários textos de especial relevo foram 
emanados, em particular a Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo
 vobis (1992). A atmosfera atual da sociedade, com a máxima influência 
da mídia e a difusão do fenômeno da globalização, mudou profundamente. 
Portanto, parece necessário interrogar-se sobre a oportunidade da 
reforma da Ratio fundamentalis, que deverá ressaltar a importância de um
 correto desenvolvimento das diversas dimensões da formação sacerdotal 
na perspectiva da Igreja-comunhão, seguindo as indicações do Concílio 
Vaticano II. Isto exige uma sólida formação na fé da Igreja, uma 
verdadeira familiaridade com a Palavra revelada, doada por Deus à Sua 
Igreja. Além disso, a formação dos futuros sacerdotes deverá oferecer 
orientações e rumos úteis para dialogar com as culturas contemporâneas. A
 formação humana e cultural, portanto deve ser significativamente 
fortalecida e apoiada também com a ajuda das ciências modernas, dado que
 alguns fatores sociais desestabilizadores presentes hoje no mundo (por 
exemplo, a condição de tantas famílias separadas, a crise educativa, uma
 violência difundida, etc.) tornam frágeis as novas gerações. Ao mesmo 
tempo, é necessária uma formação adequada à vida espiritual, que torne 
as comunidades cristãs, em particular as paróquias, cada vez mais 
conscientes da sua vocação e capazes de corresponder de modo adequado à 
exigência de espiritualidade manifestada especialmente pelos jovens. 
Isto requer que não faltem na Igreja apóstolos e evangelizadores 
qualificados e responsáveis.
O cuidado das vocações envolve toda a comunidade eclesial
Por conseguinte, apresenta-se o problema das vocações, sobretudo para
 o sacerdócio e para a vida consagrada. Enquanto em certas partes do 
mundo se observa um florescimento de vocações, noutras o número diminui,
 sobretudo no Ocidente. O cuidado das vocações envolve toda a comunidade
 eclesial bispos, sacerdotes, consagrados, mas também as famílias e 
paróquias. Certamente será de grande ajuda para esta vossa ação pastoral
 também a publicação do documento sobre a vocação para o ministério 
presbiteral, que estais a preparar. Queridos irmãos e irmãs! Recordei há
 pouco que o ensino é expressão da caridade de Cristo e é a primeira das
 obras de misericórdia espiritual que a Igreja é chamada a realizar. 
Quem entra na sede da Congregação para a Educação Católica é acolhido 
por um ícone que mostra Jesus no gesto do lava- pés aos Seus discípulos 
durante a Última Ceia. Aquele que "nos amou até ao fim" (Jo 13, 1) 
abençoe o vosso trabalho ao serviço da educação e, com a força do Seu 
Espírito, o torne eficaz. Por meu lado, agradeço-vos por quanto estais a
 fazer quotidianamente com competência e dedicação e, enquanto vos 
confio à proteção materna de Maria Santíssima, Virgem Sábia e Mãe do 
Amor, concedo a todos de coração a Bênção Apostólica.(Discurso aos participantes da Assembléia Plenária da Congregação para a Educação Católica, 21/1/2008)
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