Rei
de Inglaterra (1189-1199) e Duque da Aquitânia (1168-1199), Conde de
Anjou e Duque da Normandia nascido em Oxford, Inglaterra, protótipo do
cavaleiro medieval e herói de incontáveis lendas românticas. Terceiro
filho de Henrique II e Eleanor de Aquitânia, depois de Guilherme, Conde
de Poitiers, que morreu criança, e Henrique o Jovem. Foi educado
essencialmente pela mãe e quando ela decidiu separar-se de Henrique II e
ir viver em Poitiers (1170), levou-o em sua companhia. Enquanto
príncipe recebeu uma excelente educação, mas sobretudo virada para a
cultura francesa. Ricardo nunca aprendeu a falar inglês e pouca ou
nenhuma importância deu a Inglaterra durante a sua vida.aliou-se ao rei
da França, Felipe II, contra seu pai. Herdeiro aos 11 anos, tomou posse
definitiva do condado (1172) ...
e com a mãe e o irmão Henrique promoveu
uma rebelião que partiu da Aquitânia (1173) contra o pai, mas foi
derrotado e teve de submeter-se para obter o perdão (1174), porém Leonor
permaneceu encarcerada.
Em nova revolta contra o pai (1188),
conseguiu vencê-lo com a ajuda de Filipe II Augusto da França. Com a
morte de Henrique o Jovem (1183), tornou-se inesperadamente sucessor do
trono inglês e do Ducado da Normandia, como o mais velho dos filhos
sobreviventes do monarca, além de herdeiro do ducado da Normandia e do
condado de Anjou. Após ser coroado na Abadia de Westminster, começou a
preparar a expedição à Terra Santa que seria a Terceira Cruzada e não
permaneceu muito tempo na Inglaterra. Renunciou à aliança francesa e
passou a vender tesouros reais e cargos públicos a fim de financiar uma
frota e um exército, que levou à Palestina (1190) libertar Jerusalém do
domínio de Saladino, sultão do Egito e da Síria. Convenceu Filipe II da
França a juntar-se também à cruzada e partiram para a Sicília (1190),
onde ele e Filipe se imiscuíram na política local, saqueando algumas
cidades pelo caminho e, por este motivo, passou a ser mal visto pelo
Sacro Império.
Dos dez anos de seu reinado passou nove fora da Inglaterra, participando da 3ª Cruzada. Obteve vitórias na cruzada como a conquista do Chipre (1191), mas se indispôs com Leopoldo V, duque da Áustria, enquanto Filipe II Augusto estimulava seu irmão João sem Terra a se revoltar contra o rei, já então conhecido como Coração de Leão, o que o obrigou a deixar a Palestina (1192), após firmar, com Saladino, uma trégua de três anos que permitia aos cristãos o acesso aos lugares santos. Ao retornar (1192), foi feito prisioneiro pelo duque Leopoldo da Áustria, que o entregou ao imperador Henrique VI, da Alemanha. Após dois anos de prisão no castelo de Dürrenstein, no Danúbio, foi libertado em troca de valioso resgate e promessa de vassalagem. Coroado pela segunda vez (1194), voltou ao continente para tentar recuperar os territórios tomados por Filipe Augusto, mas morreu em conseqüência de ferimentos provocados por uma flecha que o atingiu no abdômen, em um momento que estava sem armadura, durante assédio ao castelo de Châlus, na região francesa do Limousin. Seu corpo foi sepultado na Abadia de Fontevraud, junto de Henrique II, da Inglaterra, e de Leonor, da Aquitânia. Líder da Terceira Cruzada e considerado na sua época como um herói, suas façanhas foram imortalizadas por Sir Walter Scott no romance Ivanhoe (1819). Os muçulmanos do Médio Oriente deram-lhe o cognome de Melek-Ric pel, e usavam a sua figura para ameaçar as crianças que se portavam mal.
Primeiros anos
Ricardo era o terceiro filho de Henrique
II de Inglaterra e Leonor da Aquitânia, depois de Guilherme, Conde de
Poitiers, que morreu criança, e Henrique o Jovem. Foi educado
essencialmente pela mãe e quando Leonor decidiu separar-se de Henrique
II e ir viver em Poitiers no fim da década de 1170, Ricardo
acompanhou-a. Enquanto príncipe recebeu uma excelente educação, mas
sobretudo voltada para a cultura francesa. Ricardo nunca aprendeu a
falar inglês e pouca ou nenhuma importância deu a Inglaterra durante a
sua vida. Essa "negligência" beneficiou seu irmão João, que
posteriormente, quando de sua ausência, na terceira cruzada, tenta-lhe
usurpar o poder. João também é o responsável pela Magna Carta.
Em 1168 tornou-se Duque da Aquitânia em
conjunção com Leonor, no âmbito da política de Henrique II em dividir os
seus territórios pelos filhos. A medida não obteve os objetivos
esperados porque, em 1173, Leonor e Ricardo foram os responsáveis por
uma revolta generalizada contra Henrique II que partiu da Aquitânia. O
rei controlou os motins no ano seguinte, perdoando a Ricardo e Henrique o
Jovem, mas encarcerando Leonor. Talvez por isso e pelo humilhante
pedido de desculpas a que foi obrigado, Ricardo nunca se reconciliou
totalmente com o pai. Após este episódio, Ricardo teve que lidar ele
próprio com diversas revoltas da nobreza da Aquitânia que desejavam
vê-lo substituído por um dos irmãos, e que suprimiu com violência.
Com a morte de Henrique o Jovem em 1183, Ricardo torna-se no inesperado sucessor do trono inglês e do Ducado da Normandia. Em 1188, com a relação dos dois que continuava péssima, Henrique II considerou que Ricardo não merecia mais a Aquitânia e tentou entregar este ducado a João Sem Terra, o seu filho mais novo. Ricardo, por sua vez, não gostou de se ver preterido pelo o irmão e preparou-se para defender o seu território, pedindo ajuda a Filipe II de França. Juntos, responderam à invasão das tropas de Henrique II, que acabou por morrer pouco depois de ter sido derrotado numa batalha em 1189.
Com a morte de Henrique o Jovem em 1183, Ricardo torna-se no inesperado sucessor do trono inglês e do Ducado da Normandia. Em 1188, com a relação dos dois que continuava péssima, Henrique II considerou que Ricardo não merecia mais a Aquitânia e tentou entregar este ducado a João Sem Terra, o seu filho mais novo. Ricardo, por sua vez, não gostou de se ver preterido pelo o irmão e preparou-se para defender o seu território, pedindo ajuda a Filipe II de França. Juntos, responderam à invasão das tropas de Henrique II, que acabou por morrer pouco depois de ter sido derrotado numa batalha em 1189.
Rei e Cruzado
Ricardo tornou-se então rei da
Inglaterra, duque da Normandia e conde de Anjou, sucedendo ao pai que
detestava, sendo coroado a 3 de Setembro, na Abadia de Westminster.
Livre para perseguir os seus próprios interesses, Ricardo não permaneceu
muito tempo na Inglaterra. Imediatamente após a subida ao trono,
começou a preparar a expedição à Terra Santa que seria a Terceira
Cruzada. Para tal, não hesitou em esvaziar o tesouro do pai, cobrar
novos impostos, vender títulos e cargos por somas exorbitantes a quem os
quisesse pagar e até libertar o rei Guilherme I da Escócia dos seus
votos de vassalagem por cerca de 10,000 marcos. O único entrave era a
ameaça constante que Filipe II de França representava para os seus
territórios no continente, e que Ricardo resolveu convencendo-o a
juntar-se também à cruzada.
A primeira paragem dos cruzados foi na
Sicília em 1190, onde Ricardo e Filipe se imiscuíram na política local,
saqueando algumas cidades de caminho. É nesta altura e por este motivo
que Ricardo compra a inimizade do Sacro Império e nomeia o sobrinho
Artur I, Duque da Bretanha como seu herdeiro.
Em 1191, Ricardo e o seu exército
desembarcam em Chipre devido a uma tempestade. A presença de tantos
homens foi considerada uma ameaça pelo líder bizantino da ilha, e em
breve os conflitos apareceram. A resposta de Ricardo foi violenta: não
só se recusou a partir, como massacrou os habitantes das cidades que lhe
resistiram, espalhando a destruição na ilha. Depois do cerco de
Cantaras, Isaac Comemnos abdicou e Ricardo tornou-se no dono de Chipre.
Foi também neste ano que casou com a princesa Berengária de Navarra,
numa união a que nunca ligou e que não produziu descendência.
Em Junho de 1191, Ricardo chega à Terra
Santa a tempo de aliviar o cerco de Acre imposto por Saladino. Estava já
sem aliados, depois de uma série de desavenças com Filipe e o duque
Leopoldo V da Áustria. A sua campanha foi um sucesso e granjeou-lhe o
estatuto de herói, bem como o respeito dos adversários, mas sozinho com o
seu exército não poderia nunca realizar o seu principal objectivo de
recuperar Jerusalém para o controle cristão. Além disso, a influência de
João na política em Inglaterra e de Filipe II, demasiado próximo agora
da Aquitânia e Normandia, obrigavam um urgente regresso à Europa. No
Outono de 1192, Ricardo iniciou o caminho de volta, depois de se recusar
em ver sequer de longe Jerusalém.
Na viagem de regresso, Ricardo
reencontrou Leopoldo da Áustria, que não lhe havia perdoado os insultos
recebidos em Chipre, foi feito prisioneiro e mais tarde entregue ao
imperador Henrique VI do Sacro Império. O seu cativeiro em Dürnstein, na
Áustria, não foi severo e durante os quatorze meses em que foi mantido
prisioneiro (dezembro de 1192 a 4 de fevereiro de 1194) Ricardo
continuou a ter acesso aos privilégios que a sua condição de rei
determinava. O seu resgate custou 150 000 marcos ao tesouro de
Inglaterra, soma equivalente ao dobro da renda anual da coroa, o que
colocou o país na absoluta bancarrota e obrigou a muitos impostos
adicionais nos anos seguintes. Como prova de agradecimento a Deus pela
sua libertação, Ricardo arrependeu-se publicamente dos seus pecados e
foi coroado uma segunda vez. Apesar do esforço do país para o libertar,
Ricardo abandonou a Inglaterra de novo ainda no mesmo ano de 1194 para
lidar com os problemas fronteiriços com a França nos territórios do
continente. Desta vez para não mais regressar.
Ricardo morreu como consequência de
ferimentos provocados por uma flecha que o atingiu no abdómen em Abril
de 1199. O próprio facto de ter sido atingido naquela zona do corpo é
revelador da sua personalidade. Se tivesse usado uma armadura nesse dia,
não teria morrido. O seu corpo está sepultado na Abadia de Fontevraud,
junto de Henrique II de Inglaterra e de Leonor da Aquitânia.
Ricardo Coração de Leão imortalizado em livros de Sir Walter Scott
Ricardo Coração de Leão foi personagem
de alguns livros de Sir Walter Scott. Apareceu em O Talismã e em
Ivanhoé, sendo imortalizado e tais livros.
A melhor biografia sobre Richard Coeur
de Lion foi escrita pela medievalista Régine Pernoud que o chama de "o
Rei dos reis da Terra".
Mitos e Lendas
Durante 800 anos a vida de Ricardo,
Coração de Leão deu origem a mitos e lendas. Ele conduziu um exército de
cruzados à vitória contra os muçulmanos na Palestina. Um dos grandes
reis guerreiros de Inglaterra, Ricardo era patrono dos trovadores que
celebravam os seus feitos heróicos nas canções. Famoso pela sua coragem
excepcional, diz-se que matou um leão apenas com as suas mãos.
Mas, nos últimos 100 anos, os historiadores modernos retratam Ricardo como um homem sanguinário, que abandonou a Inglaterra para vencer uma guerra no estrangeiro. independentemente do veredicto da história, a vida do rei Coração de Leão esteve repleta de conflitos. lutou contra o pai e os irmãos para assegurar a sua herança. Desencadeou uma guerra contra Saladino, líder dos muçulmanos na Terra Santa e lutou contra o rei francês pelo domínio das suas terras no ocidente de França.
Ricardo nasceu no dia 8 de Setembro de 1157 no Palácio Real Inglês, em Oxford. 32 anos mais tarde, foi coroado rei de Inglaterra, mas não estava destinado à nascença a herdar o reino. Como segundo filho do rei Henrique, governador de terras que se estendiam de Inglaterra até ao ocidente da actual França, Ricardo foi educado na esperança de herdar apenas uma parte dos vastos territórios pertencentes ao pai.
As origens angevinas (plantagenetas) de Ricardo
Nas várias histórias e lendas, Ricardo
aparece invariavelmente como um rei inglês, nascido inglês, com uma
"saudável" desconfiança em relação a tudo o que é francês. Na realidade
ele não tinha nada em comum com essa descrição. os seus pais e avós eram
franceses, ele foi educado em França e falava fluentemente o francês e o
provençal, a língua mais falada na França ocidental. Pela cultura e
educação dos seus antepassados ele era essencialmente francês.
O pai de Ricardo, Henrique II, era um príncipe francês que se tinha tornado um dos mais poderosos governantes da Europa Ocidental. A sua família controlova territórios que englobavam a Inglaterra, Anjou (que tinha herdado do seu pai e que dava o nome à sua família, os angevinos), a Normandia e o Maine (herdados da sua mãe). Possuía também interesses na Irlanda. Henrique segundo foi Lorde da Irlanda depois de 1771 e consideradava-se rei da Irlanda apesar de esse título não ser reconhecido na ilha. Através do seu casamento com Leonor da Aquitânia era também senhor das terras Sul da Aquitânia. Isto levava-o a entrar em conflitos constantes com os reis de França, os Capetos, que nessa altura só detinham o controlo directo de uma área limitada de França, à volta da cidade de Paris.
Três anos antes de Ricardo nascer, Henrique II acrescentou o reino de Inglaterra aos seus territórios. Não era, por isso, surpreendente que Ricardo visse pouco o pai que abandonou a Inglaterra para defender o seu território francês após o nascimento de Ricardo. Henrique esteve afastado durante 4 anos e meio e a mãe de Ricardo, Leonor, ficou encarregue da sua educação. É evidente que ele recebeu uma educação de alto nível. Sabemos que ele sabia compôr canções e escrever versos em francês e em provençal. para ser capaz de o fazer é claro que também era capaz de ler francês. Sabíamos que lia latim porque dizia com frequência piadas sobre a gramática do latim a um arcebispo de Cantuária que não tinha tantos conhecimentos como Ricardo. Desta forma, em termos de estudos tradicionais e de leituras, Ricardo encontrava-se á altura dos mais cultos príncipes europeus dos seus dias.
Pouco tempo depois de ter aprendido a andar Ricardo aprendeu a andar a cavalo. Mais tarde, as caçadas nas florestas reais permitiram-lhe adquirir as capacidades essenciais de cavalaria para um príncipe guerreiro da sua época. pouco tempo depois praticava exercícios militares em cima do seu cavalo. Ao longo de toda a sua vida foi um participante activo em torneios. Muitas vezes, estes torneios assemelhavam-se a batalhas fictícias, a campos de treino para a guerra.
A educação de qualidade que Ricardo recebeu fez nascer nele um certo amor pela música. Ele era patrono de trovadores que compunham canções de amor. na corte do pai, o jovem Ricardo ter-se-ia inspirado pelas chansons des gestes, o cancioneiro dos Francos que celebrava as conquistas heróicas dos primeiros guerreiros da época medieval. Como homem destinado a governar, Ricardo aprendeu ainda jogar xadrez, o jogo de interior preferido na sociedade europeia do século XIII. Naquela altura muitas pessoas consideravam o xadrez um jogo entre dois reis em miniatura e que o jogador aprendia a arte de bem reinar como se fosse um rei, aprendendo a gerir os seus recursos. O xadrez era visto como uma espécie de exercício sobre os desafios da vida e sobre a forma de os ultrapassar.
Ricardo tinha três irmãos que haviam sobrevivido à infância: o seu irmão mais velho Henrique, e os dois irmãos mais novos, Geoffrey e John. cada um dos quatro rapazes esperava herdar uma parte dos vastos territórios pertencentes à família angevina. mas os conflitos no seio da família eram bastante prováveis, uma vez que o pai, o rei Henrique, estava relutante em conceder-lhes autoridade real. No entanto, em 1170, reconheceu formalmente que o seu filho mais velho, conhecido por Henrique junior, herdaria o trono de Inglaterra e o centro das terras dos angevinos na França Ocidental. Dois anos mais tarde, Ricardo - segundo na linha de sucessão ao trono - tornar-se-ia Duque da Aquitânia. Aos 14 anos foram confiados ao jovem guerreiro a lança sagrada e o estandarte da Aquitânia.
O ducado da Aquitânia cobria uma área enorme de terrenos ricos e prósperos, especialmente nas zonas onde existiam portos de mar como Bordéus e La Rochelle. Eram portos a partir dos quais alguns dos produtos mais importantes comercializados na economia medieval europeia eram exportados, como o vinho e o sal. A Aquitânia era a terra ancestral de Leonor, a mãe de Ricardo. Com o seu primeiro casamento ela havia passado a província para as mãos da família de reis franceses Capetos. Quando se divorciou de Luís, o rei de França, para se casar com o rei Henrique transferiu os seus afectos e o território da Aquitânia para a família Angevina. este era o motivo antigo de contenda entre os Capetos e os Angevinos. Assim, quando Ricardo assumiu o governo da Aquitânia herdou um conflito dinástico, um conflito que dominou toda a sua vida. Quando as preces do rei de França foram atendidas com o nascimento de um filho estava montado o cenário para um conflito entre as duas famílias que iria prolongar-se pela geração de Ricardo.
O nascimento de Filipe Augustus, em 1165, foi um acontecimento muito importante na história da dinastia dos Capetos e para o futuro de Ricardo, Coração de Leão. Após muitos anos de tentativas finalmente o rei francês tivera um filho, um herdeiro masculino para perpetuar o poder e o prestígio da família. No período medieval, uma época muito militarista, um filho que soubesse manejar uma espada e comandar uma sociedade masculina era absolutamente vital. Como parte da sua formação como futuro governante dos territórios dos Angevinos, Ricardo, ainda adolescente, envolveu-se nas lutas contra os barões desobedientes nas suas terras da Aquitânia. Em 1179, Ricardo conquistou um grande castelo na Aquitânia, famoso em toda a Europa Ocidental. Apesar de se pensar que era inexpugnável acabou por ser dominado. Duas semanas após a sua chegada às portas do castelo, Ricardo conquistou-o.
No mesmo ano assistia à coroação do jovem Filipe como rei de França. Seria o rei Filipe II Augustus. O rei Capeto e a família de Ricardo, os Angevinos não estavam permanentemente em guerra. Como em qualquer outro feudo de família, neste as relações oscilavam entre conflito e reconciliação. Mas os Capetos prociravam sempre que possível criar problemas na família dos Angevinos e encontravam muitas oportunidades nas contendas internas por causa das heranças. Durante uma dessas disputas, o irmão mais velho de Ricardo morreu com uma febre. Ricardo, nessa altura com cerca de vinte anos, tornou-se herdeiro do trono de Inglaterra, sem saber que estava prestes a viver um desafio ainda maior no Oriente.
A terceira cruzada
Em 1187, verificou-se um acontecimento
que modificou a vida de Ricardo. Na Palestina, o exército do rei cristão
de Jerusalém foi esmagado por forças muçulmanas na Batalha de Hattin.
Em três meses, Jerusalém, a cidade santa que tinha permanecido na posse
dos católicos durante 80 anos, rendeu-se aos muçulmanos. Um dia, depois
de ter recebido as terríveis notícias,
Ricardo promete liderar uma cruzada para
reconquistar Jerusalém. A queda da cidade santa, o centro do mundo para
os cristãos ocidentais, chocou as famílias reais da Europa. Os seus
parentes encontravam-se entre os barões que lideravam os exércitos na
Palestina e que foram massacrados e a perda de Jerusalém foi vista como
um sinal de castigo divino. Um local como aquele, que segundo o ponto de
vista da época tinha sido libertado, que tinha sido conquistado para a
cristandade, tivesse perdido, era um desastre por si só, uma ofensa
contra o próprio Deus.
Ricardo, como era típico da sua época
partilhava da mesma opinião, mas havia outros motivos que o levaram a
reagir o mais rapidamente possível. É que, mais do que ter parentes
envolvidos nas cruzadas desde o início, entre os governantes de
Jerusalém encontravam-se os seus primos. O rei de Jerusalém, Guy de
Lusignan que era parente de Ricardo, tinha sido capturado na Batalha de
Hattin. O seu reino tinha sido invadido pelo exército muçulmano. Ricardo
teria que aceitar o desafio de defrontar o senhor da guerra muçulmano,
saladino. mas passariam cerca de dois anos antes de ele poder partir na
sua cruzada.
Rei de Inglaterra
Havia mais conflitos em França. Ricardo
estava em luta com o seu pai que se recusava a confirmar a sua herança.
Filipe, o rei Francês, aproveitou-se das divisões no sei da família de
Ricardo. Aquilo que Filipe estava a tentar era apenas causar problemas,
complicar a vida aos Angevinos para os manter permanentemente no limiar.
Quando pensamos na posição de Ricardo no meio de tudo isto devemos
lembrar que ele tinha lutado contra o pai durante a adolescência e que
os seus irmãos haviam lutado contra ele, e que, por sua vez, também
tinham lutado contra o pai. Não faltavam oportunidades para Filipe se
imiscuir no assuntos de família e, ao fazê-lo, procurava constantemente
desestabilizar o poder dos Angevinos.
O fim surgiu rapidamente para o rei
Henrique II, pai de Ricardo. Quando os filhos de Henrique se revoltavam
contra ele, era frequente terem a assistência militar do rei de França.
No Verão de 1189, em 4 de Julho, Ricardo e Filipe atacam e vencem
Henrique. Ricardo e Filipe levaram Henrique de volta à sua fortaleza em
Chinon. No dia 6 de Julho o rei morreu, supostamente acusando o seu
filho, Ricardo, de traição. Foi sepultado na Abadia de Fontevraud.
Ricardo cumpriu a sua obrigação perante o túmulo do pai e assumiu
rapidamente a herança. Duas semanas depois era aclamado Duque da
Normandia. Atravessou o canal para Inglaterra e no dia 3 de Setembro,
alguns dias antes do seu 32º aniversário foi coroado rei de Inglaterra
na Abadia de Westminster.
Finalmente, Ricardo dispunha de
liberdade para preparar a sua grande cruzada à Terra Santa. nessa
ocasião demonstrou ser um mestre em logística e planeamento estratégico.
Se no jogo do xadrez é tudo uma questão de gestão de homens, de
recursos militares, de recursos económicos, de bispos e de castelos e de
os manobrar acertadamente para podermos atingir os objectivos, então
podemos ver que Ricardo, que ficou famoso - sobretudo nas lendas - por
ter sido um cavaleiro corajoso, por ter conseguido abrir caminho através
de uma multidão de soldados muçulmanos, conseguiu-o através de uma
capacidade de organização excelente. Ricardo e os seus oficiais reuniram
uma grande frota nos portos dos angevinos da Inglaterra e da França
para transportarem homens, cavalos, armas e provisões à volta da costa
espanhola e pelo mediterrâneo. Foi um esforço grandioso para a época que
requeria um planeamento e uma coordenação meticulosos.
Finalmente, no dia 4 de Julho de 1190,
Ricardo e Filipe partem na cruzada. Durante algum tempo a rivalidade
entre os Angevinos e os Capetos foi suspensa. Concordaram em dividir o
espólio da guerra de forma igual entre os dois. Sabemos que Ricardo era
dedicado às cruzadas e que partiu para cumprir a sua obrigação. Filipe,
pelo pouco que sabemos acerca dele, não estaria tão entusiasmado. Mas
ali o que estava em causa era o prestígio. Quando um partia o outro
seguramente devia fazê-lo também. Algum tempo antes nesse ano foi
descoberto um túmulo em Glastonbury [mais informação sobre Glastonbury
em inglês] que continha o que se supunha na altura serem os restos
mortais do rei Artur. A lenda diz que foi aí que foi encontrada a
Excalibur, a lendária espada do rei Artur. Levando consigo a suposta
lendária Excalibur na cruzada, Ricardo associava-se á imagem do
guerreiro heróico.
Distanciamento agrava-se entre Angevinos e Capetos
Ricardo e Filipe acordaram utilizar a
ilha da Sicília como local para fazerem uma pausa na viagem até à Terra
Santa. Ricardo pretendeu resolver alguns assuntos de família enquanto na
ilha. Tancredo, o rei da Sicília devia-lhe dinheiro. Ricardo parece ter
defendido os seus direitos a essa soma com mais do que mera
agressividade. Também não se encontrava em bons termos com o exército de
Filipe e cada vez antagonizava mais Filipe. Desta estada na Sicília
ficam os relatos de freuqnetes e graves desacatos, desordens e violência
por parte de Ricardo e dos seus homens. Durante meses, Ricardo tinha
planeado cuidadosamente um casamento estratégico que protegeria os seus
direitos da ameaça de um antigo inimigo: o Conde de Tulouse, que não
acompanhara a cruzada. Era previsível que enquanto Ricardo se encontrava
na cruzada o Conde de Tulouse atacaria a Aquitânia. Assim, por forma a
assegurar que a Aquitânia se mantém segura enquanto se encontra fora,
Ricardo procura um aliado que o ajude a proteger o seu ducado. Ricardo
procura, por isso, casar com Berengária de Navarra. Tem que conseguir um
casamento diplomático, calculado diligentemente por forma a fazer face à
ameaça daquele conde que permanecia no seu território.
Filipe não ficou nada bem impressionado.
Durante anos, o rei francês tentara persuadir os Angevinos a honrar um
compromisso de que Ricardo casaria com Alice, a irmã de Filipe. O
casamento de Ricardo com Berengária passou por cima de um compromisso
assumido através de um tratado 20 anos antes. Ao quebrar tal compromisso
Ricardo abandonava qualquer expectativa de amizade com os Capetos. Num
rompante de fúria, Filipe abandonou a Sicília em direcção à Terra Santa.
Ricardo partiu imediatamente a seguir acompanhado da sua futura mulher.
Realizou ainda um desvio a Chipre. Revoltado contra o governante da
ilha, que tinha realizado um pacto com os muçulmanos, Ricardo efectuou
uma campanha relâmpago conquistando a ilha em duas semanas. Em seguida
casou com Berengária na igreja do Castelo de Limmasol.
Ricardo chegou por fim à Palestina.
Filipe já havia chegado alguns meses antes. Na costa, em Acre [mais
informações sobre Acre em inglês] , as forças dos cruzados estavam a
atacar uma guarnição muçulmana. Mas, por sua vez, encontravam-se sob um
forte ataque do exército de Saladino, que procurava levantar o cerco.
esta situação de tensão piorou com as divisões no seio das fileiras dos
cruzados. Entre os cruzados havia dois contendores pelo reino de
Jerusalém. Ricardo apoiava o seu familiar, Guy de Lusignan, contra o
primo de Filipe, Conrad de Monferrat. Foi efectuada uma pausa na disputa
política enquanto os cruzados realizavam os preparativos finais para
dominar a cidade. Entretanto, Ricardo adoeceu com escorbuto o que fez
com que o seu cabelo e unhas caíssem. Apesar disso insistiu em comandar o
cerco da cidade.
Em Julho de 1191, a guarnição rendeu-se.
Ricardo e Filipe tinham conseguido a sua primeira vitória. Mas uma
terceira potência europeia, os Austríacos, tentou reivindicar uma parte
dos prémios. Ricardo e Filipe já haviam concordado em dividir entre os
dois o que tinham conquistado. Eles foram os líderes do cerco de Acre,
por forma a que o espólio de Acre fosse, de facto, dividido entre os
dois. Depois da conquista o duque austríaco, Leopoldo, coloca o seu
estandarte nas ameias da fortaleza da cidade e reivindica uma parte de
Acre por direito de conquista. Os soldados ingleses retiram o estandarte
do Duque Leopoldo da Áustria mas este vingar-se-á de Ricardo mais
tarde. Filipe era um hipocondríaco e nunca tinha sido feliz com as
difíceis condições do acampamento das cruzadas. Decidiu então dirigir-se
para casa prometendo não atacar as terras de Ricardo enquanto estivesse
em cruzada.
Nos termos da rendição de Acre, Ricardo
deveria receber um prémio elevado das mãos do líder muçulmano, Saladino,
em troca das vidas dos seus prisioneiros. O prazo limite foi
ultrapassado e Ricardo encontrou-se perante um dilema. As pessoas
começavam a desconfiar que Saladino estava a tentar reter Ricardo em
Acre, prendê-lo a Acre. Ricardo, por seu lado, pretende prosseguir a sua
campanha e partir em direcção a Jerusalém. Poderia partir deixando
cerca de 2.700 prisioneiros em Acre sem lhes dar alimento nem os
guardar? A solução de Ricardo foi implacável. mandou executar todos os
2.700 prisioneiros muçulmanos. Foi um acto de uma crueldade impiedosa
que os historiadores modernos condenam, apesar de alguns defenderem que
Ricardo estava a agir em conformidade com os valores da sua época.
Naquele tempo, no contexto da Terceira Cruzada, a Igreja pregava que as
vidas dos muçulmanos não deviam ser poupadas, eram infiéis que já
estavam condenados á partida ao inferno pelas suas crenças.
Depois de se libertar de um fardo
indesejado e agora que era o líder inquestionado dos cruzados, Ricardo
dirigiu-se para Sul para reconquistar a Cidade Santa de Jerusalém.
Durante a viagem para Sul, Ricardo demonstrou as suas capacidades
excepcionais como comandante militar. Decidiu avançar apenas á
velocidade das passadas dos soldados de infantaria ao longo de todo o
caminho sob um calor intenso de um Verão mediterrânico sendo frequentes
vezes provocados pelas tropas de Saladino. estes aproximavam-se a
cavalo, atiravam as suas setas e retiravam-se rapidamente. iam buscar
mais setas e voltavam à carga novamente e assim sucessivamente, dia após
dia, o exército de cruzados continuava a avançar. este avanço, dadas as
condições em que se fazia, só foi possível porque a frota os foi
acompanhando ao longo da costa. Assim, os feridos e doentes eram levados
para bordo. recebiam também reforços para que as tropas pudessem
suportar o esforço desta incrível viagem.
Saladino foi finalmente obrigado a
submeter o seu exército muçulmano ante a certeza de uma batalha em
grande escala em Arsuf. Esta foi uma excelente oportunidade para Ricardo
utilizar a grande arma dos cruzados, o temível ataque de cavalaria. O
sucesso dependia da temporização do ataque para que se obtivesse o
efeito máximo. O domínio de Ricardo desta força devastadora trouxe a
vitória aos cruzados. Em Setembro de 1191, três meses depois de ter
chegado à Terra Santa pela primeira vez, Ricardo conquistou a cidade de
Jaffa, situada mais a Sul, na costa, e passou o ano sguinte a defender o
seu domínio no Sul da Palestina. por essa altura já se tinha tornado
famoso entre os muçulmanos. Uma citação de um texto muçulmano: "Este
Senhor é maldito. Para atingir os seus objectivos, utliza por vezes
palavras brandas e noutras actos violentos. Só Deus pode salvar-nos da
sua malícia. jamais tivemos que enfrentar um inimigo tão subtil ou
audaz".
Em duas ocasiões Ricardo esteve perto de
Jerusalém mas a sua posição nunca foi suficientemente forte para
dominar a cidade. As suas linhas de abastecimento para a costa
encontravam-se extremamente vulneráveis ao perigo de um ataque
muçulmano. A lenda conta que numa determinada ocasião ele avistou a
Cidade Santa e tapou os olhos para evitar a vergonha de ter visto a
cidade de Jerusalém e não a ter reconquistado
O regresso à Europa
Em Abril de 1192, recebeu notícias
preocupantes de Inglaterra. O seu irmão mais novo, John, e Filipe, rei
de França, estavam a causar problemas e se uma conspiração fosse
permitida era legítimo esperar que, enquanto ele estava na Palestina,
toda a Inglaterra, toda a Normandia, talvez também Anjou, seriam
perdidas. Ele tinha que regressar.
Na altura em que Ricardo recebeu as más notícias já se encontrava em negociações com os muçulmanos. As tréguas foram negociadas em setembro de 1192. partes da costa permaneceriam em poder dos cristãos e os peregrinos cristãos poderiam visitar Jerusalém. Os feitos de Ricardo, apesar de a cruzada não ter atingido o seu objectivo máximo, foram imensos. Ele sentia-se profundamente mal por não ter podido reconquistar Jerusalém. A sua conquista mais importante foi a recuperação da costa. A frota de galés egípcia entretanto estava confinada ao porto e não podia fazer nada. A conquista de Chipre por Ricardo contribui igualmente para fornecer ao reino de Jerusalém uma eficiente linha de comunicação com o Ocidente.
Antes de Ricardo regressar à Europa, a disputa permanente sobre quem seria o governante do reino de Jerusalém sofreu uma viragem dramática. Ricardo tinha finalmente concordado com a nomeação do seu inimigo político, Conrad de Montferrat. Apesar de ser um combatente respeitado, Conrad tinha sido inimigo de Ricardo durante décadas. Na noite de 28 de Abril de 1192, Conrad foi assassinado quando voltava a casa depois de um jantar. Não havia provas directas do envolvimento de Ricardo mas a hora a que fora cometido o assassínio era suspeita. Ricardo encontrava-se numa situação em que um inimigo seu iria governar a Palestina e as suas outras amplas conquistas.O facto de um inimigo dinástico do rei de Inglaterra governar a Palestina pode parecer algo bastante distante actualmente uma vez que a Terra Santa ficava a mais de 3.000Km das terras de Ricardo mas isto não tem em conta o significado que a Palestina tinha para as pessoas na época. Seria uma grande humilhação para o trono inglês e para os esforços diplomáticos ingleses, se se viesse a concretizar.
A detenção
Assim, Ricardo abandonou a Palestina
envolto numa nuvem de suspeitas. partiu do porto de Acre em outubro e os
cronistas contemporâneos relatam que os ventos o afastaram da sua rota e
separaram da sua frota e que, após repelir os ataques de piratas, o seu
barco naufragou na costa norte adriática. Na prática encontrava-se em
território inimigo. para chegar a Inglaterra teria que atravessar terras
que pertenciam aos familiares de Conrad que tinha sido assassinado e,
segundo a suspeita geral, por ele próprio. Conrad era primo de Leopoldo
da Áustria e do Imperador Henrique VI da Alemanha, tendo também laços
familiares com Filipe de França. Os Montferrats eram de facto uma
família muito importante.
Como cruzados, Ricardo e os seus colegas
teriam estado sob a protecção da Igreja mas disfarçaram-se de
mercadores para evitar que descobrissem as suas identidades. Porque será
que ele decide viajar disfarçado depois de chegar a terra? À primeira
vista não faz sentido nenhum. Este facto só faz sentido se ele soubesse
que estaria a viajar por uma Europa revoltada com razão pelo assassinato
de Conrad e que os familiares deste o iriam perseguir. ou seja, ou
Ricardo seria culpado do assassinato de Conrad ou tinha sido habilmente
inculpado desse facto. Os acontecimentos, porém parecem indicar que
Ricardo seria o assassino de Conrad. De qualquer forma, Ricardo quase
conseguiu escapar mas ao chegar a Viena acabou por ser capturado por
tropas austríacas.
Ricardo encontrava-se, assim, nas mãos
dos familiares de Conrad, mais especificamente de Leopoldo da Áustria. O
homem cujo estandarte tinha sido retirado pelos homens de Ricardo após a
conquista de Acre. Ricardo foi levado para o castelo isolado de
Durnstein, nas margens do Danúbio. O herói das cruzadas passou a ser um
refém para pagar um regaste de um rei. A notícia da detenção de Ricardo
por Leopoldo da Áustrai demorou vários meses a chegar a Inglaterra
(segundo a lenda de Londel, um trovador andava á procura dele viajando
por toda a Alemanha a cantar o primeiro verso de uma canção que o seu
amo real reconheceria. Após algumas semanas de busca finalmente
encontrava-o).
Leopoldo tinha consciência do valor do
seu prisioneiro real e chegou rapidamente a um acordo com Henrique VI,
imperador da Alemanha. vender Ricardo contra uma parte do dinheiro do
resgate. Ricardo esteve presente num julgamento perante a corte imperial
acusado do assassínio de Conrad de Montferrat na Palestina. Apesar de
Ricardo ter conseguido influenciar o imperador com um forte discurso,
foi mantido preso aguardando o pagamento de um enorme resgate. As
exigências do imperador Henrique VI em relação ao resgate de Ricardo
eram de 150.000 marcos, uma quantia astronómica para aquela época. por
fim, a administração inglesa pagou "apenas" 100.000 marcos. Esta quantia
convertida em libras dava mais de 66.000 libras, mais de três vezes a
receita anual do orçamento real. o esforço que resultou deste resgate
para a economia inglesa foi enorme e também para os súbditos de Ricardo.
Não é de admirar que existam bastantes reclamações pelas dificuldades
económicas que isto implicava. Este esforço veio a reflectir-se também
na relação dos súbditos ingleses com John, o irmão de Ricardo, que nas
lendas aparece como um rei despótico que aumentava constantemente os
impostos e explorava os súbditos ingleses em proveito próprio.
Ricardo permaneceu preso enquanto os seus oficiais reuniam o resgate. Enquanto Ricardo é mantido em cativeiro, o seu irmão João luta contra o antigo rival de Ricardo, o rei de França. O que João desejava realmente era herdar a coroa de Inglaterra, usurpar o que pertencia ao irmão, tanto na Inglaterra como nas demais terras dos Angevinos. Para isso contava com a ajuda de Filipe. Ricardo era mais do que um grande guerreiro tendo-se revelado um especialista em estratégia. Mesmo no cativeiro servia-se das suas habilidades diplomáticas para combater a ameaça dos seus inimigos. Em muitos aspectos ele tinha que continuar a manipular o tabuleiro do xadrez político europeu enquanto estava na prisão porque era do interesse de Filipe e de João manterem-no preso e estavam preparados para pagar uma enorme quantia em dinheiro ao imperador para manter Ricardo preso. O que ele tinha que fazer era conseguir diminuir as relações do imperador com o lado oposto e o que ele acabaria por conseguir fazer foi reunir uma alinaça dos príncipes alemães para convencerem o imperador de que ele tinha razão. É evidente que o imperador só veria a razão se esta lhe trouxesse alguma vantagem financeira.
A lenda de Robin
Finalmente, na Primavera de 1194, Ricardo foi libertado depois de mais de um ano de cativeiro. Dirigiu-se para Inglaterra lançando o pânico no seio dos apoiantes de João. Diz-se que um dos barões que se tinha revoltado morreu de susto ao ouvir que Ricardo havia sido libertado. Um dos primeiros actos de Ricardo foi reforçar a sua autoridade real através de uma segunda coroação, desta feita na Catedral de Winchester. Ricardo foi apelidado de rei ausente, deixando o país num limbo sem uma liderança forte. Esta perspectiva tem origem nas lendas que surgiram vários séculos após a sua morte, principalmente a ligação entre Ricardo e outro herói inglês, Robin dos Bosques.
Finalmente, na Primavera de 1194, Ricardo foi libertado depois de mais de um ano de cativeiro. Dirigiu-se para Inglaterra lançando o pânico no seio dos apoiantes de João. Diz-se que um dos barões que se tinha revoltado morreu de susto ao ouvir que Ricardo havia sido libertado. Um dos primeiros actos de Ricardo foi reforçar a sua autoridade real através de uma segunda coroação, desta feita na Catedral de Winchester. Ricardo foi apelidado de rei ausente, deixando o país num limbo sem uma liderança forte. Esta perspectiva tem origem nas lendas que surgiram vários séculos após a sua morte, principalmente a ligação entre Ricardo e outro herói inglês, Robin dos Bosques.
Na lenda de Ricardo, a coisa mais
importante é a sua imagem nas cruzadas e o seu duelo com Saladino, que
inevitavelmente concentrou sobre ele as atenções num raio de muitos
quilómetros de distância. O povo inglês precisava de alguém que tomasse
conta dele na ausência do rei e assim surge a lenda de Robin dos
Bosques. É uma lenda que, de certa forma, mostra Robin a fazer aquilo
que o rei ausente falha em fazer. A imagem de Ricardo o rei ausente não
tem em conta o lugar de Inglaterra nas terras de Ricardo. O maior
desafio á sua autoridade residia no ocidente de França.
Últimos anos e morte
Ricardo deixou a Inglaterra em Maio de
1194 desconhecendo que nunca voltaria a ver o país onde nascera. Estava
então pronto para defrontar Filipe II Augustus, o rei de França, que
tinha invadido uma parte do território de Ricardo quando ele estava
preso. tratava-se de uma guerra de famílias cuja intenção era minar o
poder do adversário, dominar o seu território, obter pequenos ganhos que
poderiam depois vir a ser bastante aumentados. Do ponto de vista de
Filipe, como rei de França e governante de Paris, o pormenor mais
aborrecido era o facto de o grande rio que liga Paris ao mar, atravessar
a Normandia. Filipe pretendia dominar o Vale do Sena e essa parte da
Normandia. Pretendia conquistar Ruão. Foi nesta área do Vale do Sena que
decorreu o maior conflito, que implicou uma troca - quase a um ritmo
semanal - do domínio dos castelos.
Foi nesse local que Ricardo decidiu construir a sua grande obra-prima de arquitectura militar: Chateau Gallaird. Este enorme castelo bloqueava a rota que Filipe teria que seguir se pretendesse conquistar Ruão e o resto do Vale do Sena. Servia ainda de base a partir da qual Ricardo poderia recuperar as terras que tinha perdido. A luta entre Ricardo e Filipe prolongou-se por mais cinco anos. Cerca de Março de 1199, Ricardo encontrava-se numa posição forte em relação ao seu antigo rival. Foram negociadas tréguas que garantiam mais um ano de paz. Ricardo dirigiu-se então para a sua adorada Aquitânia. Alguns historiadores pensam que para dominar os barões insubordinados, outros afirmam que procurava um tesouro antigo.
Segundo uma das versões Ricardo teria seguido para Sul porque fora informado da existência de um tesouro maravilhoso que fora descoberto nas terras do Senhor de Limousin. Segundo outra versão, Ricardo partiu para Sul porque o visconde de Limoges e o conde de Angrouème estavam a organizar uma revolta.Tinha sido precisamente contra estes dois grandes senhores que o duque da Aquitânia, no passado, tinha tido que pôr em prática todos os seus esforços no sentido de os governar mantendo o controlo sobre eles. Filipe, no contexto da sua inimizade contra a casa angevina, tinha instigado insistentemente o visconde de Limoges e o conde de Angrouème para desfazerem os laços de vassalagem com o duque da Aquitânia e para se aliarem a ele.
Ricardo lançou um ataque contra os rebeldes que estavam detidos num castelo de Châlus-Charbrol em Limousin. Ricardo, como era seu hábito, participava pessoalmente na condução da guerra. Um certo dia saíu para inspeccionar as paredes do castelo. Aproximou-se o suficiente para estar ao alcance de um besteiro que se encontrava numa das ameias do castelo. Pierre Basile era o besteiro que disparou contra Ricardo, um dos únicos dois cavaleiros que defendiam o castelo. Basile disparou e Ricardo foi ferido num ombro. Os médicos foram chamados com urgência e fizeram o seu melhor para remover a flecha mas fizeram um mau trabalho pois a ferida acabaria por gangrenar.
Nestas ocasiões, como é comum, surgiram boatos de que talvez esta intervenção inepta dos médicos fosse uma garantia para alguém de que o duque da Aquitânia ia morrer. É evidente que a morte de um rei num local tão distante, num local quase desconhecido, numa situação que nem sequer era a de uma guerra muito importante entre reis ou, pelo menos, não era vista como tal leva a concluir que os boatos sobre qualquer tipo de conspiração seriam infundados. A maior parte das pessoas foi levada a concluir que Ricardo morreu porque desobedecera aos médicos. Não descansava aquando da recuperação e os cuidados com a higiene podem também ter sido deficientes. Consta também que na sua convalescença pedia que lhe trouxessem mulheres aos seus aposentos. Sabemos que há uma outra versão dos seus últimos dias em que Ricardo teria insistido para que trouxessem perante ele o besteiro que disparou a flecha que o ferira. Quando o homem, que não podia esperar mais nada senão a morte, surgiu ao lado da cama do rei sem qualquer receio pelo ato que tinha cometido, Ricardo admirou a sua atitude e ordenou que a sua vida fosse poupada. O desejo do rei foi mantido apenas enquanto se manteve vivo. Após a morte de Ricardo, Mercadier, um guerreiro ao serviço de Ricardo, ordenou que Basile fosse esfolado vivo e posteriormente enforcado.
Quando se tornou evidente que a gangrena se tinha espalhado e que a morte de Ricardo se aproximava, foram-lhe dados os sacramentos finais. A sua mãe, Leonor, estava presente. O seu filho preferido, um rei no esplendor das suas capacidades morreu com 42 anos. O corpo de Ricardo foi levado para a Abadia de Fontevraud e foi sepultado aos pés do seu pai, o rei Henrique. Assim, reconciliaram-se na morte. Mas o casamento de Ricardo não tinha dado origem a nenhum herdeiro. A sucessão passou para o seu irmão João, aquele que tinha traído Ricardo quando ele estava preso. Passado 5 anos, joão tinha perdido a maior parte da herança angevina para o antigo inimigo de Ricardo, o rei de França. Assim, a estrutura política e o legado que Ricardo tinha conseguido com tanta ferocidade e dificuldade desmornou-se rapidamente nas mãos de João, em quem ninguém confiava à partida.
Numa época que celebrava as proezas dos seus guerreiros, os cavaleiros da Idade Média, Ricardo em breve se encontraria nas fileiras dos principais heróis lendários. Torna-se muito rapidamente uma figura lendária durante a sua vida mas conseguiu sê-lo também depois da sua morte e acabaria por ser visto como o rei modelo: prudente, inteligente, um grande guerreiro e generoso. Mesmo que o não tenha sido foi essa a imagem que acabou por perdurar e seria assim que ficaria lembrado pelos Homens.
0 comentários:
Postar um comentário