Revista:
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
D. Estevão
Bettencourt, Osb
Nº 217, Ano
1978, p. 3
"DEUS
MORREU, MARX MORREU E EU MESMO
NÃO ME ESTOU SENTINDO BEM"
(Michel Le Bris)
Em síntese: Em meados de 1977, tornou-se notória na França
a corrente dos "Novos Filósofos". Foram marxistas, maoístas ou mesmo
ultra-maoístas, mas hoje se confessam entediados de todo e qualquer
totalitarismo, seja de esquerda, seja de direita. A experiência do marxismo,
comprovada no decorrer do século XX pela política de esmagamento do homem, os
desiludiu. Embora não tenham substitutivo exato para propor em lugar dos
totalitários, os "Novos Filósofos" se professam seguidores de Sócrates, o
pensador que apregoava, antes do mais, os valores éticos. Insinuam, assim, que
a renovação da sociedade só poderá ser obtida se doravante os homens começarem
a dar atenção às qualidades da honestidade, da veracidade, da fidelidade, do
respeito ao semelhante.
A posição
dos "Novos Filósofos" é altamente significativa porque transfere o problema da
renovação da sociedade do plano meramente jurídico e institucional para o plano
da consciência moral e da ética. Verdade é que os homens nunca poderão viver em
sociedade sem sistema jurídico e distribuição de direitos e deveres; também
nunca poderão deixar de cultivar a ciência e a técnica, que beneficiam
grandemente a humanidade. Mas é outrossim verdade que toda organização social e
qualquer progresso tecnológico estão fadados ao fracasso se não se basearem no
cultivo dos valores éticos e no despertar da consciência moral em cada
indivíduo.
É por
lembrarem tais verdades que os "Novos Filósofos" são importantes. Representam a
alma humana como tal (mesmo sem Religião) cansada do materialismo e dos ídolos
do totalitarismo e posta à procura de outros valores que são os do
Transcendental e Infinito ou os valores de Deus (... Deus procurado ainda às
apalpadelas; cf. At 17, 27).
Comentário:
Em meados de 1977 tornou-se notório na França um grupo de intelectuais que,
após ter feito a experiência da militância marxista, proclamam estar Karl Marx ultrapassado
ou morto; põem-se a denunciar o totalitarismo de Marx e o de Mão como também os
abusos do capitalismo, assumindo posições de contestação radical a todos os
extremismos... A atitude desses pensadores vem chamando a atenção do público
estudioso, que lhes atribui o título de "Novos Filósofos"; parecem representar
o pensamento de numerosos cidadãos tanto do mundo ocidental como dos países da
Cortina de Ferro.
Na
realidade, trata-se de um grupo de oito ou nove homens cuja idade vai dos 28
aos 40 anos. Aderiram ao marxismo ou mesmo ao maoísmo no início de sua reflexão
filosófica; todavia vieram a desiludir-se, tendo em vista o comportamento dos
países líderes do comunismo (a Rússia e a China). Os escritos de Alexandre
Solzenitsyn, como também a conduta dos marxistas franceses por ocasião do
movimento esudantil-operário de 1968, muito contribuíram para desapontá-los.
Hoje em dia não apregoam modelo algum do Estado público, mas anseiam pela
restauração do código de honra entre os indivíduos humanos e os povos. O seu
modelo é Sócrates, o filósofo questionador que preconizava entre os seus
contemporâneos uma consciência mais profunda dos grandes valores da ética.
Aliás, esse
grupo de pensadores contrários às ideologias políticas parece exprimir um
estado de espírito que se tem propagado nos países ocidentais durante os
últimos anos. O sociólogo norte-americano Daniel Bell publicou em 1960 o livro
"The End of Ideology" (O fim das ideologias), no qual afirmava que as
ideologias totalitárias do século XIX foram esvaziadas pelos graves males que
elas produziram no século XX, como os campos de concentração, a sufocação das
revoltas húngara e tchecoslovaca, os ensaios de shows moscovitas, os Estados
totalitários promissores de bem-estar (...), Embora o comunismo tenha hoje seu peso
a Itália e na França, aparece nítida a seguinte verificação: para a
"intelligentsia" mais exigente, as ideologias perderam "a sua verdade" e a sua
capacidade de persuadir. São poucos os pensadores sérios que acreditam que,
mediante uma "engenharia social", possa ser atingida a utopia da harmonia
social.
Com outras
palavras, os "Novos Filósofos" franceses afirmam a desintegração do marxismo
precisamente quando ele parece vivo e vibrante no setor da política. Têm a
coragem de denunciar o socialismo num momento em que a aliança
socialista-comunista na França goza de forte probabilidade de dominar o
Parlamento por ocasião das eleições de março pf. Estigmatizam os comunistas
como ditadores exatamente quando o eurocomunismo, com as suas promessas de
pluralismo democrático, está a seduzir intelectuais franceses, italianos e
espanhóis. Como filósofos dissidentes estão ganhando audiência no mundo pelo
fato de impugnarem o totalitarismo sob qualquer das suas formas, asseverando
que todas as ideologias são perigosas. Michel Le Bris, um dos menos conhecidos
pensadores do grupo, está precisamente escrevendo um livro que terá o título
desafiador: "Deus está morto, Marx está morto, e eu mesmo não me estou sentindo
bem".
Ora a
repórter Sandra Burton, correspondente da revista norte-americana "Time", foi
entrevistas cinco dos "Novos Filósofos", que lhe expuseram seu modo de pensar.
É o conteúdo de tais declarações que vamos abaixo apresentar resumidamente,
tendo por base a edição de 5/IX/77 da mesma revista "Time".
Alguns
representantes dos "Novos Filósofos"
Passaremos
em revista o pensamento de cinco dos mais significativos.
André Glucksmann
Figura
preeminente do grupo, Glucksmann tem atualmente seus quarenta anos de idade.
Filho de pais marxistas, teve que deixar, com os mesmos, a Alemanha nazista em
1936. Aos quatorze anos de idade, já era membro do Partido Comunista. Mais
tarde foi seduzido pelo maoísmo e, ainda, por um tipo de esquerdismo mais
avançado. Dos quatro livros de sua autoria que descrevem a sua odisséia
política, o mais importante é "The Cook and the Man-Eater" (O cozinheiro e o
devorador de homens), 1975, inspirado pelas revelações de Solzhenitsyn
referentes ao arquipélago Goulag.
Na obra
"The Master Thinkers" (Os Grandes Pensadores), Glucksmann considera os sistemas
filosóficos de Fichte, Hegel, Marx e Nietzche (século XIX); julga que estes
pensadores são responsáveis pelo conceito de "ciência humana" em virtude da
qual os Estados modernos controlam os seus cidadãos; critica-os também por
haverem concebido a idéia de "revolução definitiva", que procura apagar o
passado e realiza a "lavagem cerebral"
dos súditos em nome de um mundo novo e belo. Diz ele:
"Estou
preocupado com a crença no mito da revolução que permite aos Stalins e
Brezhnevs cometer crimes em nome da mesma e impedir ao povo que resista a tal
processo".
Mais: "Hoje
em dia na França, existem os novos socialistas que de novo formulam a promessa
de transformação da sociedade. Todavia recusam examinar o que realmente ocorre
debaixo dos regimes socialistas. Somente quando alguém toma consciência de que
o Estado é tão perigoso quanto os monopólios particulares, pode perceber que
não tem sentido a nacionalização das indústrias propostas pela esquerda".
Glucksmann,
finalmente, sente-se estimulado pelos sinais de crescimento do arquipélago de
dissidentes na França e em outros países,... dissidentes que protestam contra
os planos nucleares e pedem mais autonomia para as minorias, sem compromisso
com alguma ideologia totalitária.
Bernard-Henri
Lévy
Com vinte e
nove anos de idade atualmente, foi jornalista de esquerda, admirador de Fidel
Castro e Mão, e colaborador da Editora Grasset de Paris. O título do seu
"best-seller" é "Barbarism with a Human Face" (Barbárie com face humana), obra
em que descreve o socialismo. Convencido de que "o marxismo é o ópio do povo",
sente-se obrigado a apregoar esta convicção visto que o socialismo está em
avanço na Europa. São suas palavras:
"Pela
primeira vez na história, o socialismo adquiriu uma hegemonia universal. Mas,
paradoxalmente, ao mesmo tempo está em crise no mundo inteiro. Na Itália, os
jovens de Bolonha estão-se rebelando contra o Partido Comunista italiano, que
em toda parte é totalitário ao máximo. O mesmo fenômeno acontece em Nápoles,
Angola, na Europa Oriental, na Suécia, em Grenoble, em Portugal. Não obstante,
na França há quem aguarde com grande esperança a vinda do comunismo".
Lévy
mostra-se preocupado pelo fato seguinte:
"Muitos
jovens não querem admitir que o capitalismo - que há muito eles consideram seu
inimigo - é a mesma coisa que o socialismo. Eu costumava levantar protestos
contra a Embaixada dos Estados Unidos. Hoje eu preferiria fazer o mesmo contra
a União Soviética... Entre a barbárie do capitalismo, que muitas vezes censura
a si mesmo, e a barbárie do socialismo, que não censura a si mesmo, declaro que
eu escolheria o capitalismo".
Em outra
passagem observa o mesmo autor:
"Estamos
tomando consciência de que a grande invenção do século XX vem a ser os campos
de concentração, os quais nada mais são do que morticínio generalizado,
empreendido por razões de Estado. Não apregôo a tristeza, mas apenas o reconhecimento
de que não se pode institucionalizar a felicidade".
Em suma,
Bernard-Henri Lévy elogia os "novos resistentes" esparsos pelo mundo inteiro,
os quais não são fortes por terem armas ou sistemas filosóficos pretensiosos,
mas, sim, por apregoarem valores pessoais e morais.
Jean-Marie
Benoist
Com seus
trinta e cinco anos de idade, Benoist julga que o pensamento filosófico e
político tem sido esclerosado por Marx e Mão; é preciso, pois, sacudi-lo e
remover estes dois autores, como Galileo teve a coragem de sacudir o pensamento
do século XVII e remover a cosmovisão de Aristóteles. Os "Novos Filósofos"
seriam precisamente os continuadores do papel de Galileu, desta vez, porém, no
setor sócio-político, que Marx e Mão têm dominado. São dizeres de Benoist:
"Quer se
trate de uma gigantesca Companhia multinacional, quer se trate do Partido
Comunista, em toda parte assistimos à reação do povo contra as grandes
estruturas que envolvem ideologias políticas".
1.4
Jean-Paul Dallé
Com trinta
e oito anos de idade, Dollé é doutor em Filosofia e professor de Sociologia na
Escola das Belas Artes de Paris. Há cinco anos, publicou a história de sua rixa
com o Marxismo no livro intitulado "Desire for Revolution" (Desejo de
Revolução). É da opinião de que atualmente "todas as nações ocidentais estão
atestando, como Nietzsche predisse, que Deus morreu. Em lugar de Deus da
religião, diz ele, colocamos o progresso técnico. Todavia a própria ciência
reconhece não ter condições de ser um ídolo. É o que explica que aos poucos tenha
começado amplo movimento em demanda de nova sensibilidade, Movimento do qual é
parte a Nova Filosofia".
Dollé julga
que "estamos vivendo em autêntico período socrático. Ponto por ponto, os homens
estão levantando todas as questões importantes que se relacionam com a vida:
Que valor tem um reator nuclear ? Qual é a verdadeira identidade da mulher ?"
Observando os aglomerados de edifícios "monstruosos" e os meios de transporte
que caracterizam as cidades, os homens começam a rejeitar a ética do progresso
perpétuo ¹, São palavras de Dolleé:
"Assim
existe um vazio. As pessoas estão interessadas em muitas coisas, desde a música
dos trovadores do séc. XIV até a legalização da marijuana; mas nada há que
unifique esses interesses. A nossa era é dispersiva. Em conseqüência, os homens
de cúpula - acham difícil o exercício de suas funções. O sistema vigente é cada
vez menos operante e se acha em pânico. Eis por que os membros do sistema
político francês reagem contra os Novos Filósofos perguntando: "São da direita
ou da esquerda ?" Na verdade, nós somos
sintoma de algo muito maior ainda, que os políticos ainda não
reconheceram. Todavia o povo simples já o descobriu".
Como se vê,
os "Novos Filósofos" pretendem ultrapassar as categorias políticas hoje em dia
vigentes, a fim de propor uma ordem entre os homens baseada na autoeducação que
leve ao respeito e à colaboração sincera.
1.5 Gui
Lardreau
Aos trinta
anos de idade, Lardreau é professor no "Lycée d'Auxerre" e autor da obra
antimarxista "Monkey of Gold" (Macaco de Ouro), 1974... A sua mensagem se
caracteriza pelos seguintes termos:
"Atualmente
nada de novo pode acontecer no campo da política francesa, porque o país
inteiro está paralisado até as eleições de 1978... Todavia, quer você vote pela
direita, quer pela esquerda, faça-o sem ilusões. É necessário renunciar à idéia
de que algum sistema possa ser salvador".
Esta
declaração faz eco fiel às do filósofos atrás citados.
Importa-nos
agora tentar realizar um balanço da posição dos "Novos Filósofos", balanço que
os próprios pensadores europeus de outras escolas já começaram a esboçar.
Reflexões
sobre a "Nova Filosofia"
Proporemos
os três seguintes pontos:
1) Os
"Novos Filósofos" fazem genuíno eco ao cansaço e à frustração de certas
populações da Europa e de outras partes do mundo, que o comunismo tem dominado
ou ameaçado. O eurocomunismo seria a mais recente forma de máscara adotada pelo
marxismo para se impor aos povos da Europa Ocidental. Ora os "Novos Filósofos"
denunciam toda ideologia ¹ sob qualquer de suas aparências ou máscaras. E com
muita razão o fazem... Na verdade, qualquer sistema totalitário, ou seja,
qualquer sistema que se apregoe suficiente para responder a todas as indagações
do homem e trazer-lhe a felicidade, é falso, pois é impossível satisfazer ao
homem tão somente dentro dos parâmetros da ciência, da economia e da
organização social. Todo ser humano tem aspirações ao Infinito e ao
Transcendental, de modo que só uma cosmovisão religiosa, ou melhor, as
proposições da fé poderiam responder cabalmente aos anseios do homem; é à fé
que compete propor o sentido pleno da vida humana e as perspectivas definitivas
que devem nortear a ordem política e social ². Os "Novos Filósofos" não falam
de Deus; talvez mesmo não o aceitem. Mas pode-se-lhes reconhecer o mérito de
haver explicitado a insatisfação dos homens contemporâneos diante das
ideologias ou dos ídolos da política e da filosofia social vigentes.
A
contestação, mesmo destituída de modelo positivo, pode ser útil no caso, pois
há de incitar os cristãos a propor de novo modo a Grande Resposta que o
Evangelho apresenta ao homem sôfrego de nossos dias. O homem que se afastou do
Evangelho na expectativa de encontrar algo de melhor, entedia-se dos ídolos que
ele criou para si mesmo; assim se constitui o clima propício para se reconhecer
sob nova luz a veracidade das proposições da mensagem cristã.
2) Embora
não tenham novo modelo político a propor, os "Novos Filósofos" se professam
seguidores de Sócrates. Este questionava a ordem de coisas vigente em sua época
(séc. VI a.C.), pretendendo assim, antes do mais, renovar as consciências e os
valores éticos. Com efeito reunindo seus concidadãos nas praças de Atenas,
perguntava-lhes se tinham noção do que vêm a ser a justiça, a fortaleza, a
prudência, a temperança... E aos mais sábios mostrava que nada sabiam. Sócrates
quis começar a reestruturação da sociedade do seu tempo chamando a atenção para
a ordem moral e despertando as consciências dos homens para novo comportamento
ético. Ora este é realmente o autêntico caminho para qualquer soerguimento da
sociedade, principalmente em nossos dias: muito se fala em mudanças de
estruturas, como se apenas novas disposições jurídicas viessem trazer a
felicidade dos homens, e cada vez mais se esquecem os valores da consciência,
como a honestidade, a retidão, a veracidade, a fidelidade, a dignidade na vida política, o respeito ao próximo... Ora,
se não há sério respeito e cultivo de tais valores, está de antemão fadada à
ruína qualquer procura de paz e bem-estar para os indivíduos e os povos.
Donde se vê
que, embora predominantemente contestatários, os "Novos Filósofos" indicam o
cerne donde se poderá derivar o projeto de solução das crises sociais de nossos
dias.
3) Os
"Novos Filósofos" parecem rejeitar qualquer sistema ou estrutura política.
Fazem-nos talvez mais para levar os homens a refletir do que para propor uma
tese. A propósito observemos que o ideal de uma sociedade regida unicamente por
valores éticos sem intervenção de leis ou de unicamente por valores éticos sem
intervenção de leis ou de ordem jurídica vem seduzindo os pensadores desde os
tempos da "República" de Platão (+ 347 a.C.); e também hoje o ideal do marxismo
em sua fase mais evoluída. Deve-se, porém, reconhecer que a boa ordem na
sociedade exige organização sistemática das tarefas, com distribuição de
direitos e deveres as instituições civis e políticas são a garantia de certa
ordem e de progresso sadio para a sociedade.
Mais: não
se podem rejeitar os avanços da ciência
e da técnica de maneira global. Se, de um lado, o tecnicismo ou a
hipertrofia da técnica (com as exigências de consumo e as conseqüências de
massificação) é nocivo, de outro lado a sociedade e os indivíduos podem
validamente beneficiar-se das facilidades e comodidades que os recursos científicos
e técnicos proporcionam ao gênero humano no tocante ao trabalho, à saúde, à
alimentação, à moradia, ao lazer, às comunicações, etc. Eis por que não se pode
rejeitar a estruturação jurídica e sistêmica da sociedade, nem se pode
menosprezar o planejamento do progresso científico e técnico, mas é necessário
favorecer tais interesses do gênero humano. Contudo importa incutir na
humanidade a consciência (que muitos indivíduos já conceberam implicitamente)
de que os valores do progresso técnico são relativos ou vêm a ser subsídios
para a caminhada em demanda dos únicos bens capazes de satisfazer plenamente
aos homens, que são os bens transcendentais.
Eis o que
nos convinha dizer a respeito dos "Novos Filósofos". Estes têm grande
significado, principalmente pelo fato de representarem o ser humano como tal
(mesmo sem Religião) insatisfeito diante dos ídolos do totalitarismo e frente
aos paraísos que estes prometem. Constituem um paralelo aos pensadores
soviéticos, que, mesmo sem professar crenças religiosas, protestam contra o
endeusamento do Estado e da matéria e bradam ao menos implicitamente em demanda
do Deus verdadeiro. Em todos esses casos, é a alma humana que fala a partir do
que tem de mais autêntico e representativo. Assim se corroboram mais uma vez os
dizeres de S. Agostinho "Senhor, Tu nos fizeste para Ti, e inquieto é o nosso
coração enquanto não repousa em Ti" (Confissões I, 1).
¹ Ética do
progresso perpétuo é aquela que toma como critério do bem e do mal a
contribuição para o progresso técnico. Eticamente bom seria tudo o que
fomentasse o progresso (o que estimularia sem limite a técnica); eticamente mau
seria o que retardasse a evolução tecnológica.
¹ Ideologia
vem a ser neste contexto o sistema de idéias que se baseia na observação de fatos
concretos econômicos e sociais e que propõe uma visão do homem e do mundo
destinada a transformar a ordem social e econômica vigente. A ideologia tem
sempre um cunho totalitário e maquiavélico, professando, ao menos
implicitamente, que o fim justifica os meios.
² Com isto
não queremos dizer que a fé ou a teologia deva traçar planos de ação política
ou econômica - o que seria exorbitante. Mas afirmamos que só a ampla visão do
mundo e do homem proposta pela fé ou pelo Senhor Deus pode indicar as
principais metas e a escala de valores que uma boa organização social deve
observar.
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