A História
Resgatada
Rodrigo Constantino
12.01.2010
“Ignorância é não saber de algo; estupidez é não admitir sua ignorância.” (Daniel Turov)
Há nos Estados Unidos uma série de livros que começam com o título “guia politicamente incorreto” e depois o assunto em questão. São diversos temas, como o aquecimento global, a Grande Depressão e a história da Constituição. A idéia é desmistificar certas abordagens fantasiosas dos fatos passados. Os mitos históricos acabam exercendo mais influência que os fatos em si, e resgatar a verdade – ou pelo menos lançar questionamentos sobre algumas “verdades” – passa a ser fundamental para uma compreensão mais acurada dos eventos importantes, que acabam manipulados pela ditadura do “politicamente correto”.
Eis porque o livro do jornalista Leandro Narloch, Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, merece ser celebrado. Sem medo de mexer em tabus para os nacionalistas e de ir contra a visão “politicamente correta” ensinada nas escolas, Narloch resgata inúmeros fatos históricos ignorados pelo povo brasileiro em geral. Após tantas décadas de verdadeira lavagem cerebral por parte de professores e “intelectuais” marxistas, algumas obviedades relatadas no livro certamente poderão chocar o leitor mais desavisado. Entretanto, fugir dos fatos não ajuda. Afinal, como disse Aldous Huxley, os fatos não desaparecem porque são ignorados.
Um dos primeiros alvos de Narloch é a visão idílica dos nativos brasileiros, criada com base em Rousseau. Os índios ainda são vistos por muitos como aqueles “bons selvagens” idealizados pelo filósofo, e tão longe da realidade. Essa visão, de que os índios viviam em harmonia entre si e com a natureza, ainda produz crenças e políticas equivocadas. No fundo, os índios travavam guerras eternas entre eles, destruíam florestas, animais, pessoas e culturas. A mentalidade marxista de que os pobres índios eram explorados pelos brancos malvados, que ofereciam quinquilharias em troca de recursos preciosos, também não se sustenta. Para aqueles povos isolados da civilização por tanto tempo, que nem mesmo tinham a roda ainda, ter acesso a anzóis, machados e espelhos fazia muito mais sentido do que manter tanto pau-brasil sem utilidade clara. Além disso, vários índios quiseram se aculturar, ao contrário do que ensinam os professores. Eles viam com fascinação as novidades trazidas da Europa.
Por fim, o que Narloch mostra é que, além das doenças então desconhecidas trazidas involuntariamente pelos europeus, o grande responsável pelo extermínio de tantos índios foram os próprios índios. As tribos não se viam como esse grupo homogêneo chamado “índios”, criado pelos europeus depois, mas sim como inimigos das demais tribos, tão estrangeiras para eles como os próprios portugueses. Muitas tribos viram na chegada dos europeus uma oportunidade para aliança militar contra velhos inimigos. Essas são coisas que parecem bastante evidentes após um pouco de reflexão, mas que ofendem a versão “politicamente correta” tão disseminada pelo país.
Outro vespeiro que Narloch sacode é a questão da escravidão. Quando os marxistas resolveram reescrever a história com seu viés maniqueísta de luta de classes, não tinha como ser diferente: criou-se a imagem de brancos malvados de um lado, e negros oprimidos do outro. Mas a coisa não ocorreu bem assim. O hábito de atacar povos inimigos e vendê-los era comum na África há muito tempo. De fato, a escravidão era uma prática comum no mundo todo em quase todas as épocas, sem fazer distinção de cor. Os negros africanos foram os maiores traficantes de escravos negros. Além disso, ex-escravos que conseguiam a liberdade logo partiam para a aquisição de escravos próprios, símbolo de status na época. Zumbi dos Palmares, personagem que virou sinônimo da luta contra o racismo no país, tinha escravos também. O fim desta prática nefasta se deve basicamente ao poder das idéias iluministas, assim como ao movimento abolicionista inglês, calcado em bases ideológicas, e não econômicas, como os marxistas alegam. Os países africanos seriam os últimos a abolir a escravidão.
Após outros mitos nacionalistas derrubados, Narloch encerra o livro com o resgate dos fatos históricos sobre os comunistas, que sempre lutaram para implantar no país uma ditadura, enquanto hoje posam como bastiões da democracia. Narloch mostra como a Coluna Prestes não passava de um bando de vândalos e criminosos, que aproveitavam a ausência da polícia em determinadas áreas para espalhar o terror. Inspirados no carniceiro Stalin, os seguidores de Carlos Prestes adotavam as práticas mais abjetas para tentar importar o regime totalitário ao país. Fracassaram por suas próprias trapalhadas, e outros guerrilheiros comunistas tentariam novamente um golpe na década de 1960, inspirados e financiados pelo ditador cubano Fidel Castro. Os integrantes desses grupos terroristas seriam os grandes responsáveis pela nossa ditadura, assim como por sua fase mais dura, representada pelo Ato Institucional número 5. O AI-5 só foi assinado em 1968, e antes disso os guerrilheiros praticaram dezenas de assaltos, execuções, seqüestros, atentados a bomba etc. Atualmente no poder, muitos desses comunistas se fazem de vítimas inocentes, como se estivessem lutando pela democracia nessa época. É “politicamente incorreto” falar a verdade sobre isso.
Em resumo, o livro de Narloch é um raio de luz em meio a tanta escuridão. Os brasileiros parecem ter perdido a capacidade de questionar, de alimentar o ceticismo e ir buscar os fatos de maneira mais imparcial e racional, sem tanta emoção. Aqui predomina o culto aos falsos heróis, uma postura nacionalista que mais parece uma xenofobia infantil, uma mentalidade anticapitalista desprovida de razão. O livro é dedicado à mãe do autor, porque ela o levou a “discutir idéias”. Eis justamente o que faz tanta falta nesse país: discutir idéias! Sem as amarras do “politicamente correto”, e sim com um desejo genuíno de buscar a verdade. Doa a quem doer.
Rodrigo Constantino
12.01.2010
“Ignorância é não saber de algo; estupidez é não admitir sua ignorância.” (Daniel Turov)
Há nos Estados Unidos uma série de livros que começam com o título “guia politicamente incorreto” e depois o assunto em questão. São diversos temas, como o aquecimento global, a Grande Depressão e a história da Constituição. A idéia é desmistificar certas abordagens fantasiosas dos fatos passados. Os mitos históricos acabam exercendo mais influência que os fatos em si, e resgatar a verdade – ou pelo menos lançar questionamentos sobre algumas “verdades” – passa a ser fundamental para uma compreensão mais acurada dos eventos importantes, que acabam manipulados pela ditadura do “politicamente correto”.
Eis porque o livro do jornalista Leandro Narloch, Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, merece ser celebrado. Sem medo de mexer em tabus para os nacionalistas e de ir contra a visão “politicamente correta” ensinada nas escolas, Narloch resgata inúmeros fatos históricos ignorados pelo povo brasileiro em geral. Após tantas décadas de verdadeira lavagem cerebral por parte de professores e “intelectuais” marxistas, algumas obviedades relatadas no livro certamente poderão chocar o leitor mais desavisado. Entretanto, fugir dos fatos não ajuda. Afinal, como disse Aldous Huxley, os fatos não desaparecem porque são ignorados.
Um dos primeiros alvos de Narloch é a visão idílica dos nativos brasileiros, criada com base em Rousseau. Os índios ainda são vistos por muitos como aqueles “bons selvagens” idealizados pelo filósofo, e tão longe da realidade. Essa visão, de que os índios viviam em harmonia entre si e com a natureza, ainda produz crenças e políticas equivocadas. No fundo, os índios travavam guerras eternas entre eles, destruíam florestas, animais, pessoas e culturas. A mentalidade marxista de que os pobres índios eram explorados pelos brancos malvados, que ofereciam quinquilharias em troca de recursos preciosos, também não se sustenta. Para aqueles povos isolados da civilização por tanto tempo, que nem mesmo tinham a roda ainda, ter acesso a anzóis, machados e espelhos fazia muito mais sentido do que manter tanto pau-brasil sem utilidade clara. Além disso, vários índios quiseram se aculturar, ao contrário do que ensinam os professores. Eles viam com fascinação as novidades trazidas da Europa.
Por fim, o que Narloch mostra é que, além das doenças então desconhecidas trazidas involuntariamente pelos europeus, o grande responsável pelo extermínio de tantos índios foram os próprios índios. As tribos não se viam como esse grupo homogêneo chamado “índios”, criado pelos europeus depois, mas sim como inimigos das demais tribos, tão estrangeiras para eles como os próprios portugueses. Muitas tribos viram na chegada dos europeus uma oportunidade para aliança militar contra velhos inimigos. Essas são coisas que parecem bastante evidentes após um pouco de reflexão, mas que ofendem a versão “politicamente correta” tão disseminada pelo país.
Outro vespeiro que Narloch sacode é a questão da escravidão. Quando os marxistas resolveram reescrever a história com seu viés maniqueísta de luta de classes, não tinha como ser diferente: criou-se a imagem de brancos malvados de um lado, e negros oprimidos do outro. Mas a coisa não ocorreu bem assim. O hábito de atacar povos inimigos e vendê-los era comum na África há muito tempo. De fato, a escravidão era uma prática comum no mundo todo em quase todas as épocas, sem fazer distinção de cor. Os negros africanos foram os maiores traficantes de escravos negros. Além disso, ex-escravos que conseguiam a liberdade logo partiam para a aquisição de escravos próprios, símbolo de status na época. Zumbi dos Palmares, personagem que virou sinônimo da luta contra o racismo no país, tinha escravos também. O fim desta prática nefasta se deve basicamente ao poder das idéias iluministas, assim como ao movimento abolicionista inglês, calcado em bases ideológicas, e não econômicas, como os marxistas alegam. Os países africanos seriam os últimos a abolir a escravidão.
Após outros mitos nacionalistas derrubados, Narloch encerra o livro com o resgate dos fatos históricos sobre os comunistas, que sempre lutaram para implantar no país uma ditadura, enquanto hoje posam como bastiões da democracia. Narloch mostra como a Coluna Prestes não passava de um bando de vândalos e criminosos, que aproveitavam a ausência da polícia em determinadas áreas para espalhar o terror. Inspirados no carniceiro Stalin, os seguidores de Carlos Prestes adotavam as práticas mais abjetas para tentar importar o regime totalitário ao país. Fracassaram por suas próprias trapalhadas, e outros guerrilheiros comunistas tentariam novamente um golpe na década de 1960, inspirados e financiados pelo ditador cubano Fidel Castro. Os integrantes desses grupos terroristas seriam os grandes responsáveis pela nossa ditadura, assim como por sua fase mais dura, representada pelo Ato Institucional número 5. O AI-5 só foi assinado em 1968, e antes disso os guerrilheiros praticaram dezenas de assaltos, execuções, seqüestros, atentados a bomba etc. Atualmente no poder, muitos desses comunistas se fazem de vítimas inocentes, como se estivessem lutando pela democracia nessa época. É “politicamente incorreto” falar a verdade sobre isso.
Em resumo, o livro de Narloch é um raio de luz em meio a tanta escuridão. Os brasileiros parecem ter perdido a capacidade de questionar, de alimentar o ceticismo e ir buscar os fatos de maneira mais imparcial e racional, sem tanta emoção. Aqui predomina o culto aos falsos heróis, uma postura nacionalista que mais parece uma xenofobia infantil, uma mentalidade anticapitalista desprovida de razão. O livro é dedicado à mãe do autor, porque ela o levou a “discutir idéias”. Eis justamente o que faz tanta falta nesse país: discutir idéias! Sem as amarras do “politicamente correto”, e sim com um desejo genuíno de buscar a verdade. Doa a quem doer.
Trecho de
Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, de Leandro Narloch
Cinco
verdades que você não deveria conhecer
Em
1646, os jesuítas que tentavam evangelizar os índios no Rio de Janeiro tinham
um problema. As aldeias onde moravam com os nativos ficavam perto de engenhos
que produziam vinhos e aguardente. Bêbados, os índios tiravam o sono dos
padres. Numa carta de 25 de julho daquele ano, Francisco Carneiro, o reitor do
colégio jesuíta, reclamou que o álcool provocava "ofensas a Deus,
adultérios, doenças, brigas, ferimentos, mortes" e ainda fazia o pessoal
faltar às missas. Para acabar com a indisciplina, os missionários decidiram
mudar três aldeias para um lugar mais longe, de modo que não ficasse tão fácil
passar ali no engenho e tomar umas. Não deu certo. Foi só os índios e os colonos
ficarem sabendo da decisão para se revoltarem juntos. Botaram fogo nas
choupanas dos padres, que imediatamente desistiram da mudança.
Os
anos passaram e o problema continuou. Mais de um século depois, em 1755, o novo
reitor se dizia contrariado com os índios por causa do "gosto que neles
reina de viver entre os brancos". Era comum fugirem para as vilas e os
engenhos, onde não precisavam obedecer a tantas regras. O reitor escreveu a um
colega dizendo que eles "se recolhem nas casas dos brancos a título de os
servir; mas verdadeiramente para viver a sua vontade e sem coação darem-se mais
livremente aos seus costumados vícios". O contrário também acontecia. Nas
primeiras décadas do Brasil, tantos portugueses iam fazer festa nas aldeias que
os representantes do reino português ficaram preocupados. Enquanto tentavam
fazer os índios viver como cristãos, viam os cristãos vestidos como índios, com
várias mulheres e participando de festas no meio das tribos. Foi preciso editar
leis para conter a convivência nas aldeias. Em 1583, por exemplo, o conselho
municipal de São Paulo proibiu os colonos de participar de festas dos índios e
"beber e dançar segundo seu costume". 2
Os
historiadores já fizeram retratos bem diversos dos índios brasileiros. Nos
primeiros relatos, os nativos eram seres incivilizados, quase animais que
precisaram ser domesticados ou derrotados. Uma visão oposta se propagou no
século 19, com o indianismo romântico, que retratou os nativos como bons
selvagens donos de uma moral intangível. Parte dessa visão continuou no século
20. Historiadores como Florestan Fernandes, que em 1952 escreveu A Função
Social da Guerra na Sociedade Tupinambá , montaram relatos onde a cultura
indígena original e pura teria sido destruída pelos gananciosos e cruéis
conquistadores europeus.
Os
índios que ficaram para essa história foram os bravos e corajosos que lutaram
contra os portugueses. Quando eram derrotados e entravam para a sociedade
colonial, saíam dos livros. Apesar de tentar dar mais valor à cultura indígena,
os textos continuaram encarando os índios como coisas, seres passivos que não
tiveram outra opção senão lutar contra os portugueses ou se submeter a eles.
Surgiu assim o discurso tradicional que até hoje alimenta o conhecimento
popular e aulas da escola. Esse discurso nos faz acreditar que os nativos da
América viviam em harmonia entre si e em equilíbrio com a natureza até os
portugueses chegarem, travarem guerras eternas e destruírem plantas, animais,
pessoas e culturas.
Na
última década, a história mudou outra vez. Uma nova leva de estudos, que ainda
não se popularizou, toma a cultura indígena não como um valor cristalizado. Sem
negar as caçadas que os índios sofreram, os pesquisadores mostraram que eles
não foram só vítimas indefesas. A colonização foi marcada também por escolhas e
preferências dos índios, que os portugueses, em número muito menor e precisando
de segurança para instalar suas colônias, diversas vezes acataram. Muitos
índios foram amigos dos brancos, aliados em guerras, vizinhos que se misturaram
até virar a população brasileira de hoje. "Os índios transformaram-se mais
do que foram transformados", afirma a historiadora Maria Regina Celestino
de Almeida na tese Os Índios Aldeados no Rio de Janeiro Colonial , de
2000. As festas e bebedeiras de índios e brancos mostram que não houve só
tragédias e conflitos durante aquele choque das civilizações. Em pleno período
colonial, muitos índios deviam achar bem chato viver nas tribos ou nas aldeias
dos padres. Queriam mesmo era ficar com os brancos, misturar-se a eles e
desfrutar das novidades que traziam.
O
contato das duas culturas merece um retrato ainda mais distinto, até
grandiloquente. Quando europeus e ameríndios se reencontraram, em praias do
Caribe e do Nordeste brasileiro, romperam um isolamento das migrações humanas
que completava 50 mil anos. É verdade que o impacto não foi leve – tanto tempo
de separação provocou epidemias e choques culturais. Mas eles aconteceram para
os dois lados e não apagam uma verdade essencial: aquele encontro foi um dos episódios
mais extraordinários da história do povoamento do ser humano sobre a Terra, com
vantagens e descobertas sensacionais tanto para os europeus quanto para
centenas de nações indígenas que viviam na América. Um novo ponto de vista
sobre esse episódio surge quando se analisa alguns fatos esquecidos da história
de índios e portugueses.
Quem
mais matou índios foram os índios
Uma
das concepções mais erradas sobre a colonização do Brasil é acreditar que os
portugueses fizeram tudo sozinhos. Na verdade, eles precisavam de índios amigos
para arranjar comida, entrar no mato à procura de ouro, defender-se de tribos
hostis e até mesmo para estabelecer acampamentos na costa.
Descer
do navio era o primeiro problema. Os comandantes das naus europeias costumavam
escolher bem o lugar onde desembarcar, para não correr o risco de serem
atacados por índios nervosos e nuvens de flechas venenosas. Tanto temor se
baseava na experiência. Depois de meses de viagem nas caravelas, os navegadores
ficavam mal nutridos, doentes, fracos, famintos e vulneráveis. Chegavam a
lugares desconhecidos e frequentemente tinham azar: levavam uma surra e
precisavam sair às pressas das terras que achavam ter conquistado. Acontecia
até de terem que mendigar para arranjar comida, como na primeira viagem de
Vasco da Gama 3 à Índia, em 1498.
O
tratamento foi diferente no Brasil, mas nem tanto. Os portugueses não eram
seres onipotentes que faziam o que quisessem nas praias brasileiras. Imagine
só. Você viaja para o lugar mais desconhecido do mundo, que só algumas dúzias
de pessoas do seu país visitaram. Há sobre o lugar relatos tenebrosos de
selvagens guerreiros que falam uma língua estranha, andam nus e devoram seus
inimigos – ao chegar, você percebe que isso é verdade. Seu grupo está em vinte
ou trinta pessoas; eles, em milhares. Mesmo com espadas e arcabuzes, sua
munição é limitada, o carregamento é demorado e não contém os milhares de
flechas que eles possuem. Numa condição dessas, é provável que você sentisse
medo ou pelo menos que preferisse evitar conflitos. Faria algumas concessões
para que aquela multidão de pessoas estranhas não se irritasse.
Para
deixar os índios felizes, não bastava aos portugueses entregar-lhes espelhos,
ferramentas ou roupas. Eles de fato ficaram impressionados com essas coisas (veja
mais adiante) , mas foi um pouco mais difícil conquistar o apoio indígena.
Por mais revolucionários que fossem as roupas e os objetos de ferro europeus,
os índios não viam sentido em acumular bens: logo se cansavam de facas, anzóis
e machados. Para permanecerem instalados, os recém-chegados tiveram que soprar
a brasa dos caciques estabelecendo alianças militares com eles. Dando e
recebendo presentes, os índios acreditavam selar acordos de paz e de apoio
quando houvesse alguma guerra. E o que sabiam fazer muito bem era se meter em
guerras.
O
massacre começou muito antes de os portugueses chegarem. As hipóteses
arqueológicas mais consolidadas sugerem que os índios da família linguística
tupi-guarani, originários da Amazônia, se expandiam lentamente pelo Brasil.
Depois de um crescimento populacional na floresta amazônica, teriam enfrentado
alguma adversidade ambiental, como uma grande seca, que os empurrou para o Sul.
À medida que se expandiram, afugentaram tribos então donas da casa. Por volta
da virada do primeiro milênio, enquanto as legiões romanas avançavam pelas
planícies da Gália, os tupis-guaranis conquistavam territórios ao sul da
Amazônia, exterminando ou expulsando inimigos. 4 Índios caingangues, cariris,
caiapós e outros da família linguística jê tiveram que abandonar terras do
litoral e migrar para planaltos acima da serra do Mar.
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