Antônio Gois
A história
do Brasil ensinada para crianças e adolescentes nos bancos escolares e
livros didáticos pode não ser a mesma que os principais historiadores
contemporâneos conhecem.
Para
historiadores ouvidos pela Folha, conteúdos desatualizados em relação em
pesquisas acadêmicas e vícios como visões "engajadas" da história são
comumente encontrados em livros didáticos e disseminados em sala de
aula.
Para os
historiador da UFRJ ( Universidade Federal do Rio de Janeiro) Manolo
Garcia Florentino, autor de livros e pesquisas sobre o Brasil colonial,
há uma praga do "politicamente correto" nos livros didáticos que, muitas
vezes, acaba provocando efeito inverso ao pretendido pelo autor.
Florentino
que ganhou prêmio do Arquivo Nacional de Pesquisa por suas pesquisas
sobre escravidão no Brasil, cita como exemplo mais claro disso a forma
como o negro é tratado em livros didáticos. Segundo ele, os livros,
mesmo os mais politicamente corretos, acabam tratando o negro como
objeto. "As figuras nos livros, salvo raríssimas exceções, mostram
sempre o negro apanhando, em uma situação constrangedora em relação ao
branco" diz.
Para
Florentino, não se trata de "florear" a história da escravidão no
Brasil. "O problema é que os livros ignoram os caso de ascensão social
de negros. Há registros de negros que se tornaram livres e compravam
escravos".
Apesar
desses casos não serem regra no Brasil colonial, Florentino acha
importante citá-los por uma questão de formação da identidade negra.
"Que criança vai querer se identificar com uma figura que só apanha?"
O
historiador Holien Gonçalves Beserra, coordenador da comissão técnica de
avaliação dos livros didáticos de história do Ministério da Educação,
concorda com Florentino, mas afirma que a situação vem melhorando.
"Havia uma defasagem enorme, principalmente na história da escravidão
brasileira, dos livros em relação às pesquisas acadêmicas. Os autores
raramente tratavam o negro como agente social".
Para Luiz
Felipe de Alencastro, professor-catedrático de história do Brasil na
Universidade de Paris 4 ( Sorbonne ), na França, nem todos os defeitos
dos livros didáticos são de responsabilidade de seus autores. "A
sociedade é conservadora e antipobre e não se interessa em conhecer a
situação de vida de um bóia-fria, por exemplo. Duvido que algum livro
didático traga informações sobre empregadas domesticas exploradas em
casas da classe média", diz.
Para
Alencastro, o fato de livros didáticos não abordarem temas importantes -
como a história da África, por exemplo - se deve ao desinteresse da
academia por certos assuntos.
Vânia
Leite Fróes, professora da UFF ( Universidade Federal Fluminense ) que
presidiu o 21º Simpósio de História da Anpuh ( Associação Nacional de
História ), afirma que, muitas vezes, a universidade falha na divulgação
de suas pesquisas. "A universidade fica fechada como um gueto".
"Embora
esteja tentando mudar, a universidade tem um processo de fechamento e de
falha na divulgação de suas pesquisas para professores e autores de
livros. Por políticas equivocadas, ela fica fechada como um gueto",
afirma a Vânia.
Florentino
cita também como explicação para esse fenômeno o preconceito dos
pesquisadores: "Ele preferem publicar teses a trabalhar com livros
didáticos".
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