Eu
não sei se o Supremo Tribunal Federal dirá que o terrorista Cesare
Battisti é nosso, o que corresponderia à admissão de que existe um poder
soberano no Brasil, e não é a Constituição, ou se a absurda decisão de
Lula será revista. Parte do vexame já está dado. Ao decidir conceder
refúgio a Battisti, Lula e Tarso Genro (ex-ministro da Justiça) estão
nos dizendo que:
- o julgamento que condenou Battisti na Itália, conduzido por um estado democrático, estava viciado;
- o estado democrático italiano é incapaz de garantir a segurança de Battisti;
- o assassinato de inocentes é um dos instrumentos da luta política.
- o julgamento que condenou Battisti na Itália, conduzido por um estado democrático, estava viciado;
- o estado democrático italiano é incapaz de garantir a segurança de Battisti;
- o assassinato de inocentes é um dos instrumentos da luta política.
Vamos
relembrar um pouco o imbróglio. Coube ao Supremo Tribunal Federal
decidir se o processo de extradição era ou não legal. Era. Em seguida,
outra questão: de quem era a decisão? Por cinco votos a quatro,
estabeleceu-se que era do presidente da República, mas, ATENÇÃO!, ELE DEVERIA DECIDIR SEGUNDO O TRATADO DE EXTRADIÇÃO.
É,
queridos! O presidente da República também é obrigado a decidir segundo
um diploma legal. Não fosse assim, abrigaria no país quem lhe desse na
telha, ao arrepio de qualquer lei. E foi este o mandato - e o mandamento
- que lhe concedeu o Supremo: DECIDA SEGUNDO O TRATADO.
E,
segundo o tratado, não há como manter o terrorista no Brasil. O parecer
da Advocacia Geral da União no qual Lula se baseou para manter o
assassino em terras tupiniquins chega a ser um insulto à inteligência.
Lá se lê que o Brasil fica com o bandido porque “há
ponderáveis razões para supor que o extraditando seja submetido a
agravamento de sua situação, por motivo de condição pessoal, dado seu
passado, marcado por atividade política”.
O
que é “agravamento de sua situação”? Na Itália, ele está condenado à
prisão perpétua, e as prisões italianas não lembram as pocilgas em que é
mantida boa parte dos presos brasileiros. A “atividade política”
passada de Battisti não tem como agravar a sua condição, posto que ele
já foi julgado. A única interpretação possível para o trecho é supor que
ela sofreria uma perseguição extrajudicial. Logo, o texto da AGU,
repetindo Tarso Genro, procede a uma espécie de julgamento do… estado
italiano! É um acinte, um descalabro, uma barbaridade!
O
plenário do STF será chamado a se pronunciar de novo. O relator é o
ministro Gilmar Mendes, que, na primeira rodada, votou pela extradição
de Battisti, considerando que caberia ao STF decidir. Não há por que
mudar de idéia agora. É bem verdade que, agora, está em pauta a revisão
ou não da decisão presidencial. De toda sorte, reitero, o mandato dado a
Lula foi para que decidisse segundo o tratado de extradição. E será
preciso muita boa-vontade com Lula e muita má vontade com o que está
escrito supor que o trecho acima destacado se subordina ao tratado.
Dos
nove ministros que votaram da primeira vez, um deles, Eros Grau, não
está mais no Supremo. Consideraram que a decisão cabia ao tribunal os
ministros Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Ricardo Lewandowski e Ellen
Gracie. Para Marco Aurélio de Mello, Camen Lúcia, Carlos Ayres Britto e
Joaquim Barbosa, a decisão era do presidente. Novo empate? O que se
especula nos bastidores é que Lewandowski estaria tentando a considerar
que, vejam bem…, Lula teria decidido, sim, segundo o tratado… Logo,
Battisti fica!
Celso
de Mello e Dias Toffoli não votam porque se declararam impedidos. Há
uma nomeação a ser feita para o Supremo. O nome mais provável é o de
Luís Inácio Adams, advogado-geral da União, a mesma AGU de onde saiu
aquele estranho parecer - não-assinado pelo titular. Caso Lewandowski
não quebre o galho de Lula, assistiríamos ao mau gosto de uma espécie de
conspirata, com a eventual nomeação de Adams para garantir que a
vontade “soberana” (no caso, “tirana”, já que embasada em documento
nenhum) de Lula fosse cumprida?
Mesmo
que sejam apenas oito os votantes e que ninguém mude de idéia,
estaríamos diante de um empate: 4 a 4. Nesse caso, o princípio do habeas
corpus seria evocado, e Battisti seria posto na rua. Vale dizer: hoje
ele está com um pé e meio fora da cadeia, e o Brasil estará dizendo ao
mundo que soberano no país não é o texto legal, mas o chefe do
Executivo.
Para encerrar, a questão simbólica
Muitos haverão de perguntar que diabo de importância tem isso para o Brasil. Se vocês pensarem bem, a questão também é nossa. O debate sobre a revisão da Lei de Anistia tem uma face visível e outra obscura. Na visível, considera-se que a tortura é um crime imprescritível, que não pode permanecer impune. Mas o mesmo não se diz do terrorismo por exemplo - e não há quem proponha rever a anistia para terroristas. De fato, considera-se que se trata de uma ação moralmente justificável, já que seu propósito teria sido combater a ditadura.
Muitos haverão de perguntar que diabo de importância tem isso para o Brasil. Se vocês pensarem bem, a questão também é nossa. O debate sobre a revisão da Lei de Anistia tem uma face visível e outra obscura. Na visível, considera-se que a tortura é um crime imprescritível, que não pode permanecer impune. Mas o mesmo não se diz do terrorismo por exemplo - e não há quem proponha rever a anistia para terroristas. De fato, considera-se que se trata de uma ação moralmente justificável, já que seu propósito teria sido combater a ditadura.
Alguém
lembrará a tempo: “Pô, Reinaldo, mas a Itália nem mesmo era uma
ditadura…” Você é que pensa, amigo! Era a luta dos proletários de
Battisti contra a ditadura do capitalismo, entendem?
Querem
fazer um bom teste para pegar um vigarista moral? Indaguem se o sujeito
é favorável a rever a Lei da Anistia para punir torturadores. Em
seguida, pergunte se ele é a favor ou contra manter Battisti no Brasil,
livre, leve e solto…
PS
- Caso Battisti fique por aqui, a sua única punição será ter de
agüentar o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), contumaz babá de terrorista,
grudado à sua aba, cantando…
Texto originalmente publicado às 15h33 desta terça-feira
Por Reinaldo Azevedo
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