terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Alceu Amoroso Lima
Alceu Amoroso Lima nasceu no Rio de Janeiro, em 1893.
Bacharelou-se em 1913 pela Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro e em seguida viajou para a Europa, onde fez cursos na Sorbonne e no Collège de France. De volta ao Brasil, trabalhou como advogado e como adido ao Itamarati antes de assumir a direção jurídica de uma fábrica de sua família. Em 1919 iniciou sua colaboração em O Jornal como crítico literário, passando a utilizar o pseudônimo de Tristão de Ataíde.
Em 1924, insatisfeito com sua postura existencial, começou a demonstrar interesse por assuntos religiosos. Iniciou, então, intensa correspondência com o pensador católico Jackson de Figueiredo, fundador do Centro Dom Vital, importante núcleo de debate e difusão do catolicismo; foi também fortemente influenciado pela leitura de Jacques Maritain e Gilbert Chesterton. Em 1928, declarou sua conversão ao catolicismo, fato que teve grande repercussão nos meios intelectuais. Nesse mesmo ano, com a morte de Jackson de Figueiredo, foi designado para substituí-lo à frente do Centro Dom Vital.
Em 1930, manifestou-se publicamente contra o movimento revolucionário deflagrado pela Aliança Liberal, sob a liderança de Getúlio Vargas. Criticou o Partido Republicano Mineiro (PRM) e o Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), que haviam apoiado o autoritarismo de Artur Bernardes e agora se apresentavam como revolucionários. Empossado o novo governo, porém, evitou colocar-se na oposição. Consolidou sua posição de liderança junto ao laicato católico e, ao lado de dom Sebastião Leme, arcebispo do Rio de Janeiro, empreendeu intensa campanha pela afirmação de uma postura ativa dos católicos diante das grandes questões nacionais. Assim, em 1932, diante da convocação de eleições para a Assembléia Nacional Constituinte em 1933, participou da fundação da Liga Eleitoral Católica (LEC) e tornou-se secretário-geral da organização. O objetivo da LEC era oferecer apoio aos candidatos que, independentemente de partidos, se dispusessem a defender na Constituinte os pontos de vista da Igreja, como a indissolubilidade do casamento, a assistência religiosa às escolas públicas, a pluralidade sindical. Apesar de simpático à Ação Integralista Brasileira (AIB), evitou uma associação maior com essa organização, preocupado em manter a LEC como entidade suprapartidária.
Também em 1932 iniciou-se no magistério. Como professor, opôs-se à corrente renovadora do ensino aglutinada no movimento da Escola Nova, liderado por Fernando de Azevedo, Lourenço Filho e Anísio Teixeira. Combateu especialmente a gestão de Anísio Teixeira na Secretaria de Educação do Distrito Federal durante a prefeitura Pedro Ernesto, bem como seu projeto da Universidade do Distrito Federal (UDF), incomodado com o surgimento de um centro de ensino superior de orientação laica, gerido a partir de um pólo de poder identificado com uma perspectiva política de esquerda. Também combateu de forma intransigente a Aliança Nacional Libertadora (ANL), frente de esquerda constituída em 1935 a partir de um programa antifascista e antiimperialista. Ainda em 1935, tornou-se diretor nacional da recém-criada Ação Católica Brasileira, foi eleito para Academia Brasileira de Letras e foi nomeado membro do Conselho Nacional de Educação. Após a implantação da ditadura do Estado Novo, em novembro de 1937, foi nomeado reitor da UDF e patrocinou o desmonte da estrutura criada por Anísio Teixeira.
No princípio da década de 1940, iniciou um lento retorno às suas antigas posições liberais, ainda que sem abandonar a fé católica. Professor de literatura brasileira da Universidade do Brasil e da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, participou em 1944 da fundação da Livraria Agir, com o objetivo de ampliar as publicações católicas. Em 1945, tomou parte no I Congresso Brasileiro de Escritores, marco decisivo na redemocratização do país. Colaborou ainda na fundação do Partido Democrata Cristão (PDC), redigindo o seu manifesto de lançamento, sem, porém, filiar-se à nova agremiação.
Entre 1949 e 1953, viveu na França e nos Estados Unidos. Em 1958, começou a colaborar no Jornal do Brasil e na Folha de São Paulo. Em 1962 participou, como representante brasileiro, do Concílio Vaticano II e foi profundamente influenciado por suas decisões e pela nova orientação dada à Igreja Católica pelo papa João XXIII. Aprofundando suas concepções liberais, passou a admitir a evolução da sociedade em direção ao socialismo. No plano nacional, coerente com essa inflexão à esquerda, apoiou as reformas de base defendidas pelo presidente João Goulart.
Após o golpe militar de 1964, notabilizou-se por seu posicionamento contrário ao novo regime em sua coluna no Jornal do Brasil. Seu enorme prestígio intelectual possibilitou-lhe, inclusive, romper o cerco da censura imposto ao país. Em 1967 foi nomeado pelo papa Paulo VI membro da Comissão de Justiça e Paz, com sede em Roma.
Morreu em Petrópolis (RJ), em 1983.
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