A missão da Igreja 
Católica de levar a evangelização a todos os povos não pode prescindir, 
como é claro, dos séculos de um caminhar que exigiram bens materiais e 
espirituais, bens culturais que fornecem a base de toda sua presença no 
mundo de hoje como no de ontem. 
Sentimos que no universo de seus bens culturais estão compreendidos
 os que sintetizou a CNBB: os bens (móveis e imóveis), “arquitetura, 
escultura, pintura, mobiliário e artes decorativas e, alem destes, os 
livros e documentos escritos”. Acrescentando ainda: “Estes bens 
pertencem à comunidade cristã e são patrimônio universal dos homens e 
portanto, são inalienáveis” (1). 
Não se pense apenas nos bens culturais que nos foram legados pelos 
nossos antepassados, mas pensemos também naqueles bens que estaremos 
legando aos nossos filhos e netos. Assim, não é só o passado histórico e
 artístico que devem ser alvo de nossas preocupações, senão também 
aqueles bens que estamos criando para uso atual da Igreja, que deverão 
permanecer pelos séculos futuros como testemunhos de nosso agir para 
obter a participação, cada vez mais profunda, dos cristãos nos sagrados 
mistérios do Senhor. 
Se “aos Bispos compete promover uma arte autenticamente sagrada” 
como preconiza a Sacrosanctum Concilium (2), “os clérigos, durante o 
curso filosófico e teológico, sejam também instruídos na história da 
Arte Sacra e de sua evolução, bem como acerca dos sãos princípios que 
devem reger as obras de arte, de tal forma que apreciem e conservem os 
veneráveis monumentos da Igreja e possam orientar os artistas na 
produção de suas obras”.(3). 
Recomenda o Código de Direito Canônico: “Os leigos que são 
destinados permanentemente ou temporariamente a um serviço especial da 
Igreja, têm a obrigação de adquirir a formação adequada, requerida para o
 cumprimento do próprio encargo e para exercê-lo consciente, dedicada e 
diligentemente” (4). 
Cumpre ainda lembrar a insistência com que a Igreja lembra da 
necessidade da existência, em cada diocese, da Comissão de Arte Sacra 
(5). 
1. As Igrejas novas. 
“A Igreja sente-se preocupada com as novas construções que, longe 
de mostrarem novos caminhos que representassem em espaços físicos as 
profundas transformações por que passam, muito pelo contrário na sua 
grande maioria se prende aos velhos estilos ou ainda que, 
pretensiosamente modernas, são de um mau gosto que prejudicam a imagem 
real da Igreja. 
A Igreja firmou uma nova aliança com o artista de hoje pela 
promulgação da Constituição sobre a Sagrada Liturgia do Concílio 
Vaticano II – diz Paulo VI – este pacto visa à reconciliação e 
renascimento da arte religiosa”. (6). 
"Cumpre que se persuadam os reitores de igrejas que a melhor 
despesa na construção de um edifício é a que concerne ao projeto, à 
planta. Chamem um bom arquiteto e não tenham excessiva confiança em 
peritos ou empreiteiros experientes". (7). 
Compete às Comissões Diocesanas de Arte Sacra ou Bens Culturais, 
“examinar os planos e projetos de construção de novas igrejas ou lugares
 de culto”, alem de “promover o gosto e o sentido artístico do clero e 
do povo de Deus por meio de cursos, conferências e diretivas diocesanas,
 como também exposições, encontros e simpósios”. (8). 
“... nossas igrejas e também os outros lugares onde se celebra o 
culto, devem recorrer à arte e ao bom gosto para criar um ambiente 
religioso digno, cômodo, funcional e simples, sem ser banal” (9). 
Por outro lado, “na construção das igrejas tenha-se grande cuidado 
para que sejam funcionais quer para a celebração das ações litúrgicas, 
quer para obter a participação ativa dos fiéis”. (10). 
“Para corresponder às necessidades de nossa época, a organização da
 igreja e de suas dependências requer que não se tenha em vista apenas o
 que se refere às ações sagradas, mas também tudo o que contribua para 
uma justa comodidade dos fiéis, como se costuma providenciar nos lugares
 onde se realizam reuniões” (11). 
Eis porque, caberá ao arquiteto elaborar o projeto, dentro dos 
melhores princípios de projetação, obedecidas as necessárias 
recomendações no que tange não só aos diversos espaços necessários à 
celebração, senão também à comodidade dos fieis, a boa acústica e 
aeração, senão também à efetiva participação dos fieis. 
2. As igrejas existentes, Adaptação de uso. 
Em nosso país, em qualquer lugar que se ande, deparamos 
freqüentemente com aqueles bens pertencentes à Igreja Católica que 
merecem nossa especial atenção pelos seus aspectos artísticos e 
históricos. 
Ai estão incluídos não somente as edificações religiosas senão 
também todos aqueles componentes decorativos ou necessários ao culto, 
como as alfaias e, mais ainda, todos aqueles testemunhos da fé de nosso 
povo. Muitos deles, que inicialmente podemos atribuir-lhe menor valor, 
por alguma circunstância podem se tornar de valor incalculável aos olhos
 dos especialistas. 
A Igreja, é justo reconhecer, tem procurado criar novas obras de 
arte que representem sua época, que se mostrem dignas do espírito 
inventivo de seus filhos e sua fé, mas também procurado preservar, da 
melhor forma possível aqueles bens que lhe foram concedidos pelo Senhor. 
Muito antes da criação dos diversos órgãos públicos de preservação 
do patrimônio histórico e artístico, já com carinho mantinha, a Igreja, 
todos estes edifícios ou bens devidamente protegidos e conservados. 
Longe iríamos se quizessemos registrar a proteção recomendada pelo 
magistério da Igreja. Lembremos rapidamente, Pio II em 1467 com sua Bula
 “Cum alma urbem”, Pio III em 1556, Pio V em 1572, Gregório XIII em 1580
 e muitos outros, com seus escritos e normas. No Brasil lembraríamos o 
Decreto Consistorial de 1909, as Constituições Eclesiásticas de 1915 e a
 Pastoral dos Bispos Mineiros de 1926. No entanto, temos a lamentar um 
passado perdido por motivos os mais variados. 
O Concilio Ecumênico Vaticano II, como primícias de seu trabalho, 
promulgou a “Sacrosanctum Concilium”, à qual seguiram outros vários 
documentos. 
Devemos buscar não somente nos documentos específicos sobre os bens
 culturais, mas em outros vários documentos que trazem em seu correr 
orientações importantes referentes aos vários aspectos da arte sacra e 
de seus bens a preservar. 
Criada a Pontifícia Comissão para a Conservação do Patrimônio 
Artístico e Histórico da Igreja, o Motu Próprio “Inde a Pontificatus 
Nostri Initio” a transforma da Pontifícia Comissão para os Bens 
Culturais da Igreja. 
Desejamos lembrar algumas das mais importantes passagens de documentos do Magistério da Igreja sobre seus bens culturais. 
“Para edificar, reformar e dispor convenientemente os edifícios 
sagrados, consultem os responsáveis a Comissão Diocesana de Liturgia e 
Arte Sacra. O Bispo diocesano recorra também ao parecer e auxílio da 
mesma Comissão, quando se tratar de estabelecer normas nesta matéria, de
 aprovar projetos de novos edifícios ou resolver questões de certa 
importância”. (12). 
“Contudo, nas igrejas já construídas, quando o altar 
antigo estiver colocado de tal maneira que torne difícil a 
participação do povo, nem puder ser transferido sem detrimento de seu 
valor artístico, construa-se outro altar fixo com valor artístico, a ser
 devidamente dedicado; e somente nele se realizem as sagradas 
celebrações. Para não distrair a atenção dos fieis do novo altar, o 
altar antigo não seja ornado de modo especial”. (13). 
“A reforma litúrgica, que tanto bem tem feito ao povo cristão 
quando aplicada com prudência e critério, algumas vezes por atitudes 
abusivas tem dado motivo a tristezas: - dispor de bens artísticos pela 
troca ou venda; - interpretação não equilibrada, provocando a mudança de
 espaço arquitetônico original; - empobrecimento dos templos antigos com
 a retirada de objetos de valor artístico, substituídos por uma 
simplicidade pobre ou de mau gosto” (14). 
“Dado que as obras de arte e os tesouros que chegaram até nós do 
passado devem ser adaptados às disposições litúrgicas(15), procurem os 
Bispos que isto seja feito somente em caso de verdadeira necessidade e 
sem causar dano às próprias obras (16). 
3. Os bens culturais. 
“Os fieis, porem, mostram-se preocupados por verem, hoje mais que 
no passado, tantas alienações indevidas, furtos, usurpações e 
destruições do patrimônio histórico-artístico da Igreja“ (16). 
“Os bens culturais da Igreja constituem uma das mais elevadas 
expressões da tradição cristã, originaria das inumeráveis gerações de 
crentes e representam uma parte essencial da herança cultural da 
humanidade. 
Estas são, de fato, manifestações de Deus junto ao homem e elevação
 do homem para Deus e constituem testemunhos da identidade e da tradição
 histórica dos povos. 
A comunidade católica e a comunidade civil devem por isso sentir a 
grave responsabilidade de conhecer, guardar valorizar e transmitir às 
gerações futuras toda a preciosa herança que lhe 
foi temporariamente confiada. 
A Igreja Católica, em particular, deve considerar os bens culturais
 religiosos como fonte primaria da sua atividade pastoral para a 
reevangelização do mundo contemporâneo. 
A ação da Igreja para a guarda e valorização dos bens culturais 
religiosos móveis e imóveis é particularmente urgente no atual momento 
histórico, ...” (17). 
Conforme acima já assinalamos, compreendem não somente os bens 
imóveis senão também todos aqueles enumerados pela CNBB, que acrescenta:
 “Estes bens também não podem ser demolidos, mutilados, removidos, 
modificados, nem restaurados sem autorização da autoridade competente (o
 Bispo e a comissão diocesana) e, se tombados como monumento nacional ou
 estadual do órgão nacional ou estadual competente (Dec. Lei n.º 25 de 
30/XI/37)”. 
Grande é o número de recomendações e normas emanadas do Magistério 
da Igreja, das quais daremos notícia mais detalhada em nosso próximo 
encontro. 
Ivo Porto de Menezes (1) Documento-base sobre a Arte Sacra, CNBB, Comunicado mensal n.º 227, item 2. 1, letra a, pág. 137. (2) Sacrosanctum Concilium, n. 124. (3) Sacrosanctum Concilium, n.º 129. (4) Código de Direito Canônico, Cânon 231 § 1.º (5) Sacrosanctum Concilium, n. 46, 126; Instrução geral sobre o Missal Romano, n. 291; (6) CNBB – Documento-base sobre a Arte Sacra, n.1.6. (7) Cardeal Celso Constantini, A propósito da Instrução do Santo Ofício sobre a Arte Sacra, p. 30 (8) CNBB – Documento-base sobre a Arte Sacra, n. 2. 2, letra ª (9)CNBB – Animação da vida litúrgica no Brasil. Documento n. 43. (10) Sacrosanctum Concilium, n. 124. (11) Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 293. (12) Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 291 (13) Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 303. (14) CNBB – Documento-base sobre a Arte Sacra, n. 1.5. (15) Instrução Geral sobre o Missal Romano, n. 254. (16) De cura patrimonii historico-artistici Ecclesiae, ad Praesides Conferentiarum Episcopalium, Acta Apostolicae Sedis, vol. LXIII, 1971, pág. 315. (17) Sulla Tutela dei beni culturali della Chiesa, Carta di Villa Vigoni, 1994, Pontificia Comissão dos Bens Culturais da Igreja.  | 
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
VISÃO GERAL DOS DOCUMENTOS DA IGREJA SOBRE OS BENS CULTURAIS DA IGREJA
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