Muitos professores e seus compêndios enxergam o mundo de hoje
como ele era no tempo dos tílburis. Com a justificativa de "incentivar a
cidadania", incutem ideologias anacrônicas e preconceitos esquerdistas
nos alunos
[img1]Tema para reflexão: vale a pena usar chocadeiras
artificiais para acelerar a produção de frango? Deu-se com isso o início
de uma das aulas de geografia no Colégio Ateneu Salesiano Dom Bosco, de
Goiânia, escola particular que aparece entre as melhores do país em
rankings oficiais. Da platéia, formada por alunos às vésperas do
vestibular, alguém diz: "Com as chocadeiras, o homem altera o ritmo da
vida pelo lucro". O professor Márcio Santos vibra. "Você disse tudo! O
homem se perdeu na necessidade de fazer negócio, ter lucro, exportar." E
põe-se a cantar freneticamente Homem Primata / Capitalismo Selvagem /
Ôôô (dos Titãs), no que é acompanhado por um enérgico coro de
estudantes. Cena muito parecida teve lugar em uma classe do Colégio
Anchieta, de Porto Alegre, outro que figura entre os melhores do país.
Lá, a aula de história era animada por um jogral. No comando, o
professor Paulo Fiovaranti. Ele pergunta: "Quem provoca o desemprego dos
trabalhadores, gurizada?". Respondem os alunos: "A máquina". Indaga,
mais uma vez, o professor: "Quem são os donos das máquinas?" E os
estudantes: "Os empresários!". É a deixa para Fiovaranti encerrar com a
lição de casa: "Então, quem tem pai empresário aqui deve questionar se
ele está fazendo isso". Fim de aula.
Os dois episódios, ambos
presenciados por VEJA, não são raridade nas escolas brasileiras. Ao
contrário. Eles exemplificam uma tendência prevalente entre os
professores brasileiros de esquerdizar a cabeça das crianças. Parece
bobagem, uma curiosidade até pitoresca num mundo em que a
empregabilidade e o sucesso na vida profissional dependem cada vez mais
do desempenho técnico, do rigor intelectual, da atualização do
pensamento e do conhecimento. Não é bobagem. A doutrinação esquerdista é
predominante em todo o sistema escolar privado e particular. É algo que
os professores levam mais a sério do que o ensino das matérias em
classe, conforme revela a pesquisa CNT/Sensus encomendada por VEJA.
Pobres alunos.
Eles estão sendo preparados para viver no fim do
século XIX, quando o marxismo surgiu como uma ideologia modernizante,
capaz não apenas de explicar mas de mudar o mundo para melhor,
acelerando a marcha da história rumo a uma sociedade sem classes. Bem,
estamos no século XXI, o comunismo destruiu a si próprio em miséria,
assassinatos e injustiças durante suas experiências reais no século
passado. É embaraçoso que o marxismo-leninismo sobreviva apenas em Cuba,
na Coréia do Norte e nas salas de aula de escolas brasileiras. As
chocadeiras produzem os frangos vendidos a menos de 5 reais nos
supermercados brasileiros, e isso propicia a dose mínima de proteína a
famílias que, de outra forma, estariam mal nutridas. A realidade não
interessa nas aulas como a do professor Márcio Santos. O que interessa?
Passar a idéia de que as máquinas tiram empregos. Elas tiram? Tiraram no
começo dos processos de robotização e automação de fábricas nos anos
90. Hoje, sem robôs e máquinas, os empregos nem sequer seriam criados.
Mas dizer isso pode desagradar ao espírito do velho barbudo enterrado no
novo Cemitério de Highgate, em Londres. Os professores esquerdistas
veneram muito aquele senhor que viveu à custa de um amigo industrial,
fez um filho na empregada da casa e, atacado pela furunculose, sofreu
como um mártir boa parte da existência. Gostam muito dele, fariam tudo
por ele, menos, é claro, lê-lo – pois Karl Marx é um autor rigoroso,
complexo, profundo que, mesmo tendo apenas uma de suas idéias ainda
levada a sério hoje – a Teoria da Alienação –, exige muito esforço para
ser compreendido. "A salada ideológica resulta da leitura de resumos dos
grandes pensadores", diz o filósofo Roberto Romano. Gente que vê
maldade em chocadeiras e mal em empresários que usam máquinas em suas
fábricas no século XXI não pode ter lido Karl Marx. É de supor que não
tenham lido muito, quase nada. Mas são esses senhores que ensinam nossos
filhos nas melhores escolas brasileiras – sem, diga-se, que os pais se
incomodem com isso.
A pesquisa CNT/Sensus ouviu 3 000 pessoas de
24 estados brasileiros, entre pais, alunos e professores de escolas
públicas e particulares. Sua conclusão nesse particular é espantosa. Os
pais (61%) sabem que os professores fazem discursos politicamente
engajados em sala de aula e acham isso normal. Os professores, em maior
proporção, reconhecem que doutrinam mesmo as crianças e acham que isso é
sua missão principal – algo muito mais vital do que ensinar a
interpretar um texto ou ser um bamba em matemática. Para 78% dos
professores, o discurso engajado faz sentido, uma vez que atribuem à
escola, antes de tudo, a função de "formar cidadãos" – à frente de
"ensinar a matéria" ou "preparar as crianças para o futuro". Muito
bonito se não estivessem nesse processo preparando os alunos para um
mundo que acabou e diminuindo suas chances de enfrentar a realidade da
vida depois que saírem do ambiente escolar. Para atacar um problema, o
primeiro passo é reconhecer sua existência. Esse é o mérito da pesquisa
CNT/Sensus.
Adversária do exercício intelectual, a ideologização
do ensino pode ser resultado em parte também do despreparo dos
professores para o desempenho da função. No ensino básico, 52% lecionam
matérias para as quais não receberam formação específica – 22% deles
nunca freqüentaram faculdade. Para esses, os chavões de esquerda servem
como uma espécie de muleta, um recurso a que se recorre na falta de
informação. "Repetir meia dúzia de slogans é muito mais fácil do que
estudar e ler grandes obras. Por isso, a ideologização é mais comum onde
impera a ignorância", diz o historiador Marco Antonio Villa. A questão
não é exatamente nova na educação. Meio século atrás, a filósofa alemã
Hannah Arendt já alertava para o equívoco de fazer das aulas um lugar
para a doutrinação ideológica, qualquer que fosse o matiz. Em A Crise na
Educação, ela dizia: "Em vez de (o professor) juntar-se a seus iguais,
assumindo o esforço da persuasão e correndo o risco do fracasso, há a
intervenção ditatorial, baseada na absoluta superioridade do adulto". Ao
refletirem sobre o atual cenário, os especialistas concordam com a
idéia central da filósofa. Está claro, e a própria experiência mostra
isso, que o viés político retira da escola aquilo que deveria, afinal,
ser seu atributo número 1: ensinar a pensar – verbo cuja origem, do
latim, significa justamente pesar. Diz o sociólogo Simon Schwartzman: "O
verdadeiro exercício intelectual se faz ao colocar as idéias e os
juízos numa balança, algo que só é possível com uma ampla liberdade de
investigação e de crítica"
Não é o caso na maioria das salas de
aula. Muitos professores brasileiros se encantam com personagens que em
classe mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro
argentino Che Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações
positivas, 14% de neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram
personagens arcanos sem contribuição efetiva à civilização ocidental,
como o educador Paulo Freire, autor de um método de doutrinação
esquerdista disfarçado de alfabetização. Entre os professores
brasileiros ouvidos na pesquisa, Freire goleia o físico teórico alemão
Albert Einstein, talvez o maior gênio da história da humanidade. Paulo
Freire 29 x 6 Einstein. Só isso já seria evidência suficiente de que se
está diante de uma distorção gigantesca das prioridades educacionais dos
senhores docentes, de uma deformação no espaço-tempo tão poderosa que
talvez ajude a explicar o fato de eles viverem no passado.
Entre
as figuras históricas e da atualidade mais citadas em classe está, como
não poderia deixar de ser, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As
referências a Lula são contidas. O presidente brasileiro obtém aprovação
menor entre os professores, segundo relatam os estudantes, do que
aquela com que a sociedade brasileira em geral o brinda. Ele tem 70% de
avaliação positiva dos brasileiros, mas na boca dos professores esse
índice cai para 30% – com 27% de citações negativas e 43% de neutras.
Ressalte-se aqui que é um ponto louvável para os mestres o fato de, como
mostram os números relativos a Lula, eles não fazerem proselitismo
eleitoral em classe – mesmo que seja preciso relevar o fato de o ditador
venezuelano Hugo Chávez ter merecido 51% de citações positivas. A
neutralidade e o comedimento em relação a Lula desautorizam a
interpretação de que os professores tentam direcionar o voto dos alunos,
o que seria desastroso. É sinal de que sua pregação, mesmo equivocada,
se mantém no nível das idéias – o que é excelente.
"Eu e todos
os meus colegas professores temos, sim, uma visão de esquerda – e seria
impossível isso não aparecer em nossos livros. Faço esforço para mostrar
o outro lado", diz a geógrafa Sonia Castellar, que há vinte anos dá
aulas na faculdade de pedagogia da Universidade de São Paulo (USP) e
escreveu Geografia, um dos best-sellers nas escolas particulares (livro
que tem dois de seus trechos comentados por VEJA na reportagem
seguinte). "Reconheço o viés esquerdista nos livros e apostilas, fruto
da formação marxista dos professores. Mas não temos nenhuma intenção de
formar uma geração de jovens socialistas", diz Miguel Cerezo,
responsável pelo conteúdo publicado nas apostilas do COC (de onde foram
extraídos quatro trechos comentados pela revista). À luz de outra
pesquisa em profundidade feita pelo Ibope em colaboração com a revista
Nova Escola, editada pela Fundação Victor Civita, os professores da rede
pública revelam que, para eles, o principal problema da sala de aula é,
de longe (77%), a ausência dos pais no processo educativo. Repousam na
colaboração entre pais e professores a correção dos rumos do ensino no
país e a aceleração da curva de melhora de desempenho que começa a se
desenhar. A questão do excesso de ideologização é um desses problemas
que podem ser abordados em conjunto por pais e professores. Demanda para
o diálogo existe. O advogado Miguel Nagib fundou, há quatro anos, em
Brasília, a ONG Escola Sem Partido, com o objetivo de chamar atenção
para a ideologização do ensino na sala de aula. Nagib se incomodou com
os sinais do problema na escola particular de sua filha, então com 15
anos, onde o professor de história gostava de comparar Che Guevara a São
Francisco de Assis. Foi ao colégio reclamar. Diz Nagib: "As escolas
precisam ficar sabendo que muitos pais não concordam com essa visão". (
Veja o infográfico)
Leia também
O desafio da qualidade Você sabe o estão ensinando a ele?
Tema
para reflexão: vale a pena usar chocadeiras artificiais para acelerar a
produção de frango? Deu-se com isso o início de uma das aulas de
geografia no Colégio Ateneu Salesiano Dom Bosco, de Goiânia, escola
particular que aparece entre as melhores do país em rankings oficiais.
Da platéia, formada por alunos às vésperas do vestibular, alguém diz:
"Com as chocadeiras, o homem altera o ritmo da vida pelo lucro". O
professor Márcio Santos vibra. "Você disse tudo! O homem se perdeu na
necessidade de fazer negócio, ter lucro, exportar." E põe-se a cantar
freneticamente Homem Primata / Capitalismo Selvagem / Ôôô (dos Titãs),
no que é acompanhado por um enérgico coro de estudantes. Cena muito
parecida teve lugar em uma classe do Colégio Anchieta, de Porto Alegre,
outro que figura entre os melhores do país. Lá, a aula de história era
animada por um jogral. No comando, o professor Paulo Fiovaranti. Ele
pergunta: "Quem provoca o desemprego dos trabalhadores, gurizada?".
Respondem os alunos: "A máquina". Indaga, mais uma vez, o professor:
"Quem são os donos das máquinas?" E os estudantes: "Os empresários!". É a
deixa para Fiovaranti encerrar com a lição de casa: "Então, quem tem
pai empresário aqui deve questionar se ele está fazendo isso". Fim de
aula.
Os dois episódios, ambos presenciados por VEJA, não são
raridade nas escolas brasileiras. Ao contrário. Eles exemplificam uma
tendência prevalente entre os professores brasileiros de esquerdizar a
cabeça das crianças. Parece bobagem, uma curiosidade até pitoresca num
mundo em que a empregabilidade e o sucesso na vida profissional dependem
cada vez mais do desempenho técnico, do rigor intelectual, da
atualização do pensamento e do conhecimento. Não é bobagem. A
doutrinação esquerdista é predominante em todo o sistema escolar privado
e particular. É algo que os professores levam mais a sério do que o
ensino das matérias em classe, conforme revela a pesquisa CNT/Sensus
encomendada por VEJA. Pobres alunos.
Eles estão sendo preparados
para viver no fim do século XIX, quando o marxismo surgiu como uma
ideologia modernizante, capaz não apenas de explicar mas de mudar o
mundo para melhor, acelerando a marcha da história rumo a uma sociedade
sem classes. Bem, estamos no século XXI, o comunismo destruiu a si
próprio em miséria, assassinatos e injustiças durante suas experiências
reais no século passado. É embaraçoso que o marxismo-leninismo sobreviva
apenas em Cuba, na Coréia do Norte e nas salas de aula de escolas
brasileiras. As chocadeiras produzem os frangos vendidos a menos de 5
reais nos supermercados brasileiros, e isso propicia a dose mínima de
proteína a famílias que, de outra forma, estariam mal nutridas. A
realidade não interessa nas aulas como a do professor Márcio Santos. O
que interessa? Passar a idéia de que as máquinas tiram empregos. Elas
tiram? Tiraram no começo dos processos de robotização e automação de
fábricas nos anos 90. Hoje, sem robôs e máquinas, os empregos nem sequer
seriam criados. Mas dizer isso pode desagradar ao espírito do velho
barbudo enterrado no novo Cemitério de Highgate, em Londres. Os
professores esquerdistas veneram muito aquele senhor que viveu à custa
de um amigo industrial, fez um filho na empregada da casa e, atacado
pela furunculose, sofreu como um mártir boa parte da existência. Gostam
muito dele, fariam tudo por ele, menos, é claro, lê-lo – pois Karl Marx é
um autor rigoroso, complexo, profundo que, mesmo tendo apenas uma de
suas idéias ainda levada a sério hoje – a Teoria da Alienação –, exige
muito esforço para ser compreendido. "A salada ideológica resulta da
leitura de resumos dos grandes pensadores", diz o filósofo Roberto
Romano. Gente que vê maldade em chocadeiras e mal em empresários que
usam máquinas em suas fábricas no século XXI não pode ter lido Karl
Marx. É de supor que não tenham lido muito, quase nada. Mas são esses
senhores que ensinam nossos filhos nas melhores escolas brasileiras –
sem, diga-se, que os pais se incomodem com isso.
A pesquisa
CNT/Sensus ouviu 3 000 pessoas de 24 estados brasileiros, entre pais,
alunos e professores de escolas públicas e particulares. Sua conclusão
nesse particular é espantosa. Os pais (61%) sabem que os professores
fazem discursos politicamente engajados em sala de aula e acham isso
normal. Os professores, em maior proporção, reconhecem que doutrinam
mesmo as crianças e acham que isso é sua missão principal – algo muito
mais vital do que ensinar a interpretar um texto ou ser um bamba em
matemática. Para 78% dos professores, o discurso engajado faz sentido,
uma vez que atribuem à escola, antes de tudo, a função de "formar
cidadãos" – à frente de "ensinar a matéria" ou "preparar as crianças
para o futuro". Muito bonito se não estivessem nesse processo preparando
os alunos para um mundo que acabou e diminuindo suas chances de
enfrentar a realidade da vida depois que saírem do ambiente escolar.
Para atacar um problema, o primeiro passo é reconhecer sua existência.
Esse é o mérito da pesquisa CNT/Sensus.
Adversária do exercício
intelectual, a ideologização do ensino pode ser resultado em parte
também do despreparo dos professores para o desempenho da função. No
ensino básico, 52% lecionam matérias para as quais não receberam
formação específica – 22% deles nunca freqüentaram faculdade. Para
esses, os chavões de esquerda servem como uma espécie de muleta, um
recurso a que se recorre na falta de informação. "Repetir meia dúzia de
slogans é muito mais fácil do que estudar e ler grandes obras. Por isso,
a ideologização é mais comum onde impera a ignorância", diz o
historiador Marco Antonio Villa. A questão não é exatamente nova na
educação. Meio século atrás, a filósofa alemã Hannah Arendt já alertava
para o equívoco de fazer das aulas um lugar para a doutrinação
ideológica, qualquer que fosse o matiz. Em A Crise na Educação, ela
dizia: "Em vez de (o professor) juntar-se a seus iguais, assumindo o
esforço da persuasão e correndo o risco do fracasso, há a intervenção
ditatorial, baseada na absoluta superioridade do adulto". Ao refletirem
sobre o atual cenário, os especialistas concordam com a idéia central da
filósofa. Está claro, e a própria experiência mostra isso, que o viés
político retira da escola aquilo que deveria, afinal, ser seu atributo
número 1: ensinar a pensar – verbo cuja origem, do latim, significa
justamente pesar. Diz o sociólogo Simon Schwartzman: "O verdadeiro
exercício intelectual se faz ao colocar as idéias e os juízos numa
balança, algo que só é possível com uma ampla liberdade de investigação e
de crítica"
Não é o caso na maioria das salas de aula. Muitos
professores brasileiros se encantam com personagens que em classe
mereceriam um tratamento mais crítico, como o guerrilheiro argentino Che
Guevara, que na pesquisa aparece com 86% de citações positivas, 14% de
neutras e zero, nenhum ponto negativo. Ou idolatram personagens arcanos
sem contribuição efetiva à civilização ocidental, como o educador Paulo
Freire, autor de um método de doutrinação esquerdista disfarçado de
alfabetização. Entre os professores brasileiros ouvidos na pesquisa,
Freire goleia o físico teórico alemão Albert Einstein, talvez o maior
gênio da história da humanidade. Paulo Freire 29 x 6 Einstein. Só isso
já seria evidência suficiente de que se está diante de uma distorção
gigantesca das prioridades educacionais dos senhores docentes, de uma
deformação no espaço-tempo tão poderosa que talvez ajude a explicar o
fato de eles viverem no passado.
Entre as figuras históricas e
da atualidade mais citadas em classe está, como não poderia deixar de
ser, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As referências a Lula são
contidas. O presidente brasileiro obtém aprovação menor entre os
professores, segundo relatam os estudantes, do que aquela com que a
sociedade brasileira em geral o brinda. Ele tem 70% de avaliação
positiva dos brasileiros, mas na boca dos professores esse índice cai
para 30% – com 27% de citações negativas e 43% de neutras. Ressalte-se
aqui que é um ponto louvável para os mestres o fato de, como mostram os
números relativos a Lula, eles não fazerem proselitismo eleitoral em
classe – mesmo que seja preciso relevar o fato de o ditador venezuelano
Hugo Chávez ter merecido 51% de citações positivas. A neutralidade e o
comedimento em relação a Lula desautorizam a interpretação de que os
professores tentam direcionar o voto dos alunos, o que seria desastroso.
É sinal de que sua pregação, mesmo equivocada, se mantém no nível das
idéias – o que é excelente.
"Eu e todos os meus colegas
professores temos, sim, uma visão de esquerda – e seria impossível isso
não aparecer em nossos livros. Faço esforço para mostrar o outro lado",
diz a geógrafa Sonia Castellar, que há vinte anos dá aulas na faculdade
de pedagogia da Universidade de São Paulo (USP) e escreveu Geografia, um
dos best-sellers nas escolas particulares (livro que tem dois de seus
trechos comentados por VEJA na reportagem seguinte). "Reconheço o viés
esquerdista nos livros e apostilas, fruto da formação marxista dos
professores. Mas não temos nenhuma intenção de formar uma geração de
jovens socialistas", diz Miguel Cerezo, responsável pelo conteúdo
publicado nas apostilas do COC (de onde foram extraídos quatro trechos
comentados pela revista). À luz de outra pesquisa em profundidade feita
pelo Ibope em colaboração com a revista Nova Escola, editada pela
Fundação Victor Civita, os professores da rede pública revelam que, para
eles, o principal problema da sala de aula é, de longe (77%), a
ausência dos pais no processo educativo. Repousam na colaboração entre
pais e professores a correção dos rumos do ensino no país e a aceleração
da curva de melhora de desempenho que começa a se desenhar. A questão
do excesso de ideologização é um desses problemas que podem ser
abordados em conjunto por pais e professores. Demanda para o diálogo
existe. O advogado Miguel Nagib fundou, há quatro anos, em Brasília, a
ONG Escola Sem Partido, com o objetivo de chamar atenção para a
ideologização do ensino na sala de aula. Nagib se incomodou com os
sinais do problema na escola particular de sua filha, então com 15 anos,
onde o professor de história gostava de comparar Che Guevara a São
Francisco de Assis. Foi ao colégio reclamar. Diz Nagib: "As escolas
precisam ficar sabendo que muitos pais não concordam com essa visão". (
Veja o infográfico)
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