Dom Cristiano Jakob Krapf
Entre Ciência e Religião, entre fé e 
razão, onde está a Verdade? A evolução atual da ciência contradiz o 
ensinamento da Bíblia sobre a origem do mundo e do homem?   Um leitor da
 “Superinteressante” faz a pergunta assim: “É coerente acreditar em Deus
 e também em Darwin?”
A revista responde: “Na comunidade científica, o consenso é de que a evolução é autossuficiente, exclui a figura de um criador.”
Tal resposta genérica é mentira. A mesma
 revista traz logo depois a resposta diferente de um professor formado 
em física experimental e doutor em teologia. Não sei quantos cientistas 
são ateus ou agnósticos, mas sei que muitos cientistas sérios têm fé. 
Muitos acreditam na mensagem da Bíblia sobre Deus, o Criador do mundo.
Entre os habitantes atuais do planeta 
terra, os adeptos do monoteísmo são maioria. Mais de um bilhão de 
católicos e um bilhão de outros cristãos, e mais de um bilhão de 
maometanos e muitos milhões de judeus, acreditam na existência de um só 
Deus, Criador do mundo de matéria e energia regido por leis criadas por 
ele para organizar a evolução desde o início até a situação atual e 
futura.
Podemos entender a inteligência como dom
 de Deus que nos criou com a capacidade de sondar os mistérios do mundo e
 com a missão de cuidar da morada que criou para nós. Quanto ao futuro, 
depende também de nós que temos o dom da liberdade que cientistas 
preconceituosos querem enquadrar nos seus conhecimentos limitados ao 
mundo material.
Muitos cristãos reconhecem a importância
 dos fundamentos racionais da sua fé e não se deixam abalar por 
questionamentos superficiais. Em vez de criar dificuldades com 
pormenores dos textos bíblicas sobre a criação do mundo e sobre a 
história do povo judeu, entendem que a mensagem da Bíblia pode servir de
 fundamento para os acréscimos da ciência. Salmos escritos faz trinta 
séculos nos falam da beleza de Deus no Céu. A obediência aos 10 
mandamentos melhora o convívio dos homens na terra.
Quem não quer saber de Deus aceita 
qualquer teoria “científica” que pretende explicar o mundo sem Deus. 
Desde meu tempo de menino procurei seguir o conselho de Paulo: “Examinai
 tudo, guardai o que for bom!”  Já sou velho e não achei qualquer teoria
 racional razoável contra a existência de Deus, o Criador não feito por 
outro.
Entre aqueles que admitem que não existe
 prova científica contra a existência de Deus, muitos acham ou dizem que
 também não se pode provar que Deus existe.
Agnósticos céticos acham que nada se 
pode saber sobre Deus.  Dizem que ninguém pode conhecer a verdade, que 
ninguém pode ter certeza de nada. Para os mais radicais, não existe 
verdade. Para esses, tenho uma pergunta: É verdade que não existe 
verdade?  Outros admitem que possa existir alguma verdade, na filosofia e
 na religião, mas dizem que ninguém pode conhecer a verdade. Para esses,
 tenho duas perguntas: É verdade que ninguém pode conhecer a verdade? 
Como sabem?
Acontece que o conhecimento humano 
ultrapassa a ciência sobre as leis da natureza material. Somos capazes 
de filosofia. Só que muitos “filósofos” de hoje ficam filosofando sobre 
tudo, mas fogem da essência da filosofia que é a metafísica, a reflexão 
que ultrapassa os limites da matéria.
Alguns pretendem explicar a origem de 
tudo com a teoria do Big Bang, dizendo que tudo começou com a Grande 
Explosão. Tal teoria contradiz as leis mais elementares da ciência 
moderna e da filosofia. A ciência moderna afirma que na natureza nada se
 cria e nada se destrói. A filosofia diz que do nada não surge nada.   A
 teoria do Big Bang não explica origem de nada.
Qualquer criança curiosa pergunta: O que
 foi que explodiu? De onde veio o material (massa/energia?) que 
explodiu? Pergunta parecida faz aos que dizem que Deus é o criador de 
tudo: E quem foi que fez Deus?
Acontece que tal pergunta sobre Deus tem
 resposta racional: Deus é aquele que existe por si mesmo, o único ser 
que não foi feito por outro. Segundo um texto da Bíblia, escrito muitos 
séculos antes do nascimento de Jesus, foi assim que Deus se deu a 
conhecer a Moisés: Eu sou aquele que é.  Esse é o sentido da palavra 
hebraica Jahvé, já por três milênios o nome de Deus para o povo judeu.
Séculos depois, filósofos gregos deram 
definições semelhantes: Deus é aquele que é. Aquele que existe por si 
mesmo, que não é feito por outro. O primeiro motor de tudo que se move, 
de toda mudança. Causa primeira de tudo que existe. A origem. Antes da 
filosofia grega já estava escrito na Bíblia: No início Deus criou o céu e
 a terra.  As dificuldades entre cientistas e biblistas têm sua causa 
principal nos mal-entendidos de muitos cientistas e religiosos sobre a 
mensagem da Bíblia, e em conclusões precipitadas nada científicas de 
cientistas metidos a filósofos.
O que existiu primeiro, o sol ou o dia?
Quanto à Bíblia, a dificuldade maior 
está no fundamentalismo que pretende enquadrar no rigor da linguagem da 
ciência de hoje a descrição poética da criação do mundo nas páginas da 
Bíblia, escritas em linguagem acessível aos leitores de todos os tempos.
 Sua mensagem é feita para ser entendida no tempo que foi escrita e no 
nosso tempo cheio de ciência, e nos tempos de futuras evoluções do 
conhecimento.
Para fundamentalistas que apresentam a 
interpretação literal de qualquer texto bíblico como questão de fé, 
tenho uma pergunta: O sol foi mesmo criado no quarto dia? Como é que 
podiam existir dias quando não existia sol?
Quanto à criação dos seres vivos, a 
descrição bíblica não está distante da teoria da evolução. Apenas 
acrescenta que tudo que conhecemos tem origem divina e passa por 
mudanças de acordo com leis que regem a natureza, leis também criadas 
por Deus desde o começo: “Que a terra produza seres vivos, plantas e 
animais.”
Se a dificuldade maior se refere à 
criação dos seres humanos, é preciso reconhecer a diferença essencial 
entre eles e os outros seres que andam na terra, nadam no mar e voam no 
ar.  A Bíblia explica:  “E Deus disse:  Façamos o homem à nossa imagem e
 semelhança.” Tal semelhança não pode estar no corpo. Se estivesse no 
corpo, macacos também seriam semelhantes a Deus. Uns mais, outros menos.
Podemos combinar as teorias sobre a 
evolução do corpo humano, passando por antepassados semelhantes a 
macacos, com a mensagem da Bíblia que diz que Deus formou o homem do pó 
da terra. Pela ciência sabemos que o macaco também é feito do pó da 
terra. Dos mesmos elementos que formam o corpo humano.
O mundo é tão bem feito que tudo vem 
evoluindo como por si mesmo, sustentado por leis naturais criadas junto 
com este mundo de matéria e energia.
E a criação da mulher, apresentada como 
tirada da costela do homem? Quero apenas lembrar que a Bíblia traz duas 
descrições sobre a criação dos seres humanos. A segunda é bem diferente:
 “Deus disse: Façamos o ser humano à nossa imagem e semelhança  ...  
Homem e mulher os criou.”  Nada diz sobre costela de Adão.  Pergunto aos
 fundamentalistas que dizem que devemos tomar tudo ao pé da letra:  Qual
 das duas descrições é verdadeira? “Nenhuma,” dizem ateus e agnósticos.
Com boa vontade, dá para entender a 
mensagem da Bíblia sobre Deus e sobre nós. Dá para ver que Deus confiou a
 terra aos nossos cuidados. Cumprindo bem a nossa missão, podemos viver e
 conviver em paz.  Se fizermos os estragos dos pecados no convívio da 
nossa morada, não adianta reclamar de Deus.
Podemos entender também que a semelhança
 com Deus não nos é dada como coisa pronta e acabada, mas como vocação a
 realizar. Somos colaboradores de Deus na sua obra. De maneira especial 
na sua obra prima que somos nós mesmos.
Somos chamados a colaborar com Deus em 
três dimensões: Organizando nossa própria vida, cuidando do mundo onde 
fomos colocados, e prestando serviços na comunidade, em qualquer lugar 
que nos foi dado para viver.
O mesmo número daquela revista tem um 
artigo de capa com a pretensão de apresentar uma “Biografia de Deus”. 
Tal artigo traz uma escolha arbitrária de idéias sobre seres mitológicos
 chamados de deuses, mitos surgidos em culturas anteriores ao 
conhecimento do único Deus verdadeiro. Tais religiões têm seus valores, 
mas não têm os fundamentos racionais que o monoteísmo tem.
Muitos judeus se deixavam contaminar por
 tais idéias, combatidas na Bíblia como idolatrias incompatíveis com a 
fé. O texto da revista desconsidera toda evolução da religião a partir 
de acontecimentos da história do povo judeu que grande parte da 
humanidade de hoje considera como intervenções de Deus na história dos 
homens. Cremos que Deus falou pelos profetas para quem o procura com 
sinceridade, e que veio estar conosco para que possamos estar com ele.
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