quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Cardeal Newman (1801-1890)


“Consciência é a voz de Deus na natureza e no coração do homem... A Consciência é o vigário primitivo de Cristo, um profeta nas informações, um monarca na peremptoriedade, um padre nas bênçãos e anátemas... A consciência tem seus direitos porque tem seus deveres... Aquele que age contra a sua consciência perde a alma”.
O teólogo e escritor John Henry Newman foi o clérigo mais eminente da Inglaterra do século XIX. Nasceu em Londres no dia 21 de fevereiro de 1801. Sua família era de origem calvinista, sendo a mãe, Jemina Fourdrinier, uma huguenote e o pai, John Newman, um cristão com opiniões tolerantes a respeito de religião. Newman fez os estudos superiores na Universidade de Oxford e foi ordenado pastor da Igreja Anglicana em 1824. Se converteu ao catolicismo em 1845, recebendo a ordenação presbiteral, como sacerdote da Congregação do Oratório de São Felipe Neri, em Roma no dia 30 de maio de 1847. Foi criado cardeal diácono pelo papa Leão XIII em 12 de maio de 1879, antes da hierarquia católica ser reconstituída na Inglaterra. Faleceu em 11 de agosto de 1890.Ainda como padre anglicano, Newman passou muito tempo dentro do campus da Universidade de Oxford como membro do Oriel College e vigário da Igreja universitária de St. Mary. Durante seu período anglicano apoiou a emancipação católica de 1829 e foi líder do chamado Movimento de Oxford, promovendo um grande movimento religioso anti-racionalista e defendendo o rompimento dos laços entre a Igreja da Inglaterra e a coroa, por acreditar que o controle estatal da Igreja nunca serviria aos interesses da verdadeira religião.Após sua conversão ao catolicismo, Newman tomou a defesa dos direitos dos leigos contra o clericalismo e defendeu as artes liberais contra os membros do clero que desejavam restringir o acesso dos estudantes aos novos conhecimentos por medo de que tais idéias acabassem com a fé. Por intermédio do testemunho de vida, da ação pastoral e dos escritos, devolveu a fé católica muito do prestígio perdido nas terras inglesas em conseqüência da Reforma Protestante.Na clássica autobiografia, Apologia Pro Vita Sua, Newman contrastou o liberalismo teológico fundamentado no relativismo com a espécie de reforma da Igreja que apoiava, ao chamar os católicos liberais de “Lacordaire” e os indivíduos que admirava de “Montalembert”. Newman, ao defender que o catolicismo deveria buscar uma conciliação com os valores positivos da modernidade sem abandonar o compromisso com a verdade, foi um precursor do Concílio Vaticano II.No campo político Newman defendia que o fundamento da paz está em “reconhecer que a verdade como tal deve guiar quer o comportamento político quer o privado... e que o zelo, na escala das graças cristãs, tinha a prioridade sobre a benevolência”. Apesar de nunca ter sido ativo na política, Newman sustentava e expressava suas opiniões políticas na esfera privada, tendo ao longo de sua vida apoiado o partido liberal de William E. Gladstone (1809-1898). Como colaborador próximo de Lorde Acton (1834-1902) na publicação do The Rambler, indicava sua simpatia liberal nos assuntos de Igreja e de política. Foi um dos primeiros opositores do envolvimento da Igreja nos assuntos temporais e responsável, em grande parte, por convencer o jovem Acton nesta posição.O apostolado exercido por Newman em prol da inteligência cristã foi intenso e variado, versando sobre campos distintos como a teologia, a filosofia, a literatura, a história e a espiritualidade. Suas obras completas atingem a extensão de 37 tomos e os arquivos da Congregação do Oratório em Birmingham conservam 70.000 cartas que ele escreveu. As obras que publicou sobre a Universidade de Dublin tornaram-se clássicas para a literatura católica e um ponto de referência pedagógico para educadores de diferentes tradições intelectuais, até mesmo para pensadores ateus. Os seus Sermões espelham uma sólida piedade e grande amor pelas almas.No campo pedagógico, Newman defendia que o saber é um fim em si mesmo, pois toda espécie de saber traz sua própria recompensa, mesmo que o estudante não faça disso nenhum uso posterior e que o saber não contribua para nenhum fim imediato. A função da Universidade, nesta perspectiva, não seria a de formar profissionais específicos, deveria promover a formação integral da pessoa, pois, para Newman, “a inteligência em vez de ser formada ou sacrificada a qualquer fim particular ou acidental, a qualquer estado ou profissão específica, a qualquer estudo ou ciência particular, é disciplinada por si mesma, pela percepção de seu objeto próprio e pelo nível mais elevado de sua própria cultura”.A sabedoria e a ortodoxia do Cardeal Newman foram louvadas por quase todos os pontífices romanos desde Leão XIII. Newman foi considerado por Pio XII como uma “Glória da Inglaterra e de toda a Igreja”. Dentre inúmeros elogios feitos ao Cardeal Newman por João Paulo II, destaca-se a referência como “um dos campeões mais universais e ilustres da espiritualidade inglesa”. Já o papa Bento XVI, ainda como Cardeal Ratzinger na Congregação para a Doutrina da Fé, afirmou que “Newman pertence deveras aos grandes doutores da Igreja, porque ele toca ao mesmo tempo o nosso coração e ilumina o nosso pensamento”, além de ressaltar que “o contributo de Newman ainda não foi completamente utilizado nas teologias modernas”.

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