sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A Utopia Negativa


Politicamente correcto
Politicamente correcto
Tentei definir aqui o Politicamente Correcto de uma forma que a maioria entenda, mas a verdade é que o politicamente correcto é muito mais complexo e varia de acordo com os tempos e com a cultura das elites.
No tempo de Salazar não deixou de existir o politicamente correcto, porque subjacente ao politicamente correcto, existe sempre uma utopia. No caso do Estado Novo, existia a utopia da Portugalidade e do Quinto Império. Tratava-se de uma utopia positiva, consentânea com a “utopia clássica” de Platão, Tomás Moro, Campanella, Fourier, etc., etc.
O marxismo cultural (ou politicamente correcto actual) trata-se de uma utopia negativa, porque se concentra na crítica dissolvente da nossa sociedade real. A Teoria Crítica da sociedade por parte do politicamente correcto é negativa porque não possui conceitos capazes de superar a distância entre o presente e o futuro, mas “pretende conservar-se fiel àqueles que deram e dão a sua vida pela Grande Recusa” (“O Homem Unidimensional”, de Herbert Marcuse). Quaisquer que sejam as possibilidades reais que a nossa sociedade actual apresenta de um futuro melhor, o marxismo cultural não nos revela quais são, limitando-se a negar totalmente o sistema em que se baseia a nossa sociedade, e na sua totalidade. Exemplos do marxismo cultural são as “picaretas falantes” do Bloco de Esquerda: destrói, destrói, critica e critica, bota-abaixo, mas ficamos sem saber muito bem quais são as alternativas que propõem para a nossa sociedade. Vejam o discurso do Francisco Louçã e reparem se não é verdade.
Por exemplo, a utopia que preside ao blogue “Arrastão” é parte da utopia negativa marxista cultural que procura sistematicamente a dissolução da nossa sociedade, e tem na procura dessa dissolução o seu único objectivo. Quando o Daniel Oliveira (e outros que tais) defende as posições das minorias a ponto de lhes dar privilégios que a maioria não tem, não o faz por piedade ou sede de justiça: fá-lo por pura ideologia socialmente destrutiva, que é seguida de uma forma irracional através de uma cartilha de lobotomia política definida.

A chamada Utopia Negativa (marxismo cultural ou politicamente correcto actual) nasceu com a Escola de Frankfurt, conforme descrito aqui. Herbert Marcuse, Theodor Adorno e Max Horkheimer ligaram estritamente a investigação filosófica à sociologia e à psicologia e declararam inspirar-se em Hegel, Marx e Freud.
Com Hegel, os marxistas culturais insistem no carácter absoluto da Razão, isto é, “o que é real é racional, e o que é racional é real” (sic, Hegel) o que implica um determinismo que já está ultrapassado pela actual probabilística científica. Por outro lado, seguindo Hegel, os marxistas culturais refutam o Saber fora do seu carácter finito, ao contrário de Fichte que distinguiu o Saber Finito em constante evolução, do Saber Infinito. Depois, os marxistas culturais dizem que seguem Hegel no carácter dialéctico (ou carácter negativo) da Razão, ignorando contudo a parte mais importante da dialéctica de Hegel, que é a identidade positiva entre a realidade e a racionalidade. Em suma, os marxistas culturais pegam em Hegel, adulteram a sua filosofia, e depois dizem que se baseiam nele.
A Marx, os marxistas culturais vão buscar a essência da sua filosofia: a crítica à sociedade capitalista, a prognose do fim do capitalismo – que não só não acabou, como se transformou no neoliberalismo actual –, ignorando contudo quer o desenvolvimento da estrutura económica que deveria – segundo Marx – determinar a passagem à sociedade socialista, quer o conceito de Marx de que o homem é essencialmente constituído pelas necessidades e pelas relações de produção e trabalho que as satisfazem (a chamada “Esquerda Caviar”). A diferença ideológica entre o Bloco de Esquerda e o PS de Sócrates, por um lado, e o Partido Comunista está (essencialmente) aqui.
A Freud, os marxistas culturais foram buscar o conceito de “instinto”, entendido como tendência para o regresso a uma situação anterior, primordial ou originária; o “instinto”, segundo Freud, é o retorno à origem do Homem. Depois, foram buscar o conceito freudiano de “repressão”, sendo que (segundo os marxistas culturais) esta é exercida pela civilização sobre o tal “instinto” primordial e originário – ignorando os marxistas culturais a função positiva que, segundo Freud, essa repressão exerce, através do Superego, quer na formação da civilização quer na formação da personalidade humana normal. Por isso é que o Daniel Oliveira diz que “a normalidade exige intimidade”, porque a “normalidade” da personalidade humana está fora do conteúdo ideológico que retiraram de Freud.
Em suma, os marxistas culturais pegam em Freud, adulteram as suas conclusões científicas, e depois dizem que se baseiam nele.
Existem outras vacuidades dos marxistas culturais, como a negação filosófica da relação entre a “razão objectiva” versus “razão subjectiva”. Segundo os marxistas culturais, a tarefa da filosofia não é a de regressar à tradição objectivista do passado, mas antes a total e completa destruição do presente por meio de um “progresso da direcção da utopia que consiste na negação de tudo o que é inútil ao homem e impede o seu livre desenvolvimento” (“Eclipse da Razão”, Max Horkheimer). Paradoxalmente, existe muito de Hayek nesta ideia; vejam esta citação: “precisamos de reformas radicais para libertar o processo de crescimento espontâneo dos obstáculos que a loucura humana erigiu” (Hayek, “Road to Serfdom”). Contudo, e apesar de tudo, a utopia de Hayek é positiva, e não negativa como a dos marxistas culturais, porque pretende utilizar a realidade tal qual existe para chegar à sua utopia, enquanto que os marxistas culturais pretendem destruir a realidade social no seu todo para chegarem à sua utopia.
Para os marxistas culturais, para além da trilogia “Marx, Freud e Hegel”, só existem duas personalidades históricas que não são crucificadas, e que constituem verdadeiros ídolos: Nietzsche (na sua faceta niilista e anti-ética) e o Marquês de Sade, “porque ao declararem a identidade entre a Razão e o Domínio, as doutrinas impiedosas são mais piedosas do que as dos lacaios da burguesia” (“A Dialéctica do Iluminismo”, Adorno & Horkheimer).
Para os marxistas culturais, existe uma obcecação doentia na luta total contra o “domínio”: o domínio dos pais sobre os filhos, o domínio do dono sobre o gato, o domínio do gato sobre o rato, etc., e quando um filho mata o pai, não se trata de um crime, mas “de uma revolta contra o domínio estabelecido pela Razão burguesa”. Quando um heterossexual mata um homossexual, trata-se de “um crime hediondo que exprime o domínio da Razão burguesa sobre uma vítima da civilização”; quando um homossexual mata um heterossexual, trata-se da “reacção de uma vítima da História contra o domínio cultural da burguesia”. Se virem bem, a relação entre o Domínio e a Razão está sempre presente em qualquer coisa que o Daniel Oliveira escreva, e se for necessário acabar com a Razão para se acabar com o Domínio, então é perfeitamente legítimo para ele que entremos todos na irracionalidade.
Outra obcecação doentia dos marxistas culturais é tudo o que se relaciona com a sexualidade. A “repressão do instinto” é pau para toda a colher, tudo o que é “instinto” é valorizado, e a noção aristotélica de “virtude moral” baseada na Razão do “justo-meio” é desprezada sistematicamente pelo marxismo cultural.
A auto-sublimação da sexualidade destrói o primado da função genital, transforma todo o corpo em órgão erótico e transforma o trabalho em jogo, divertimento ou espectáculo. Com o advento do puro Eros, ficaria assim destruída a ordem repressiva da sexualidade procriadora” – “Eros e Civilização”, de Herbert Marcuse
Sendo que “a auto-sublimação da sexualidade destrói o primado da função genital”, legitima-se assim tacitamente a pedofilia através da necessidade da não-sublimação da sexualidade infantil (conforme defendido por Alfred Kinsley, Wilhelm Reich e Michel Foulcault, todos eles marxistas-freudianos), embora os marxistas culturais não assumam abertamente a defesa da pedofilia – para já; lá chegaremos: na Holanda já se iniciou a campanha politicamente correcta marxista-freudiana a favor da legalização da pedofilia.
Depois, consideram a procriação como expressão de uma sexualidade “repressiva”, legitimando assim a prática sexual homossexual, não-reprodutiva por excelência, como sendo “não-repressiva”, e portanto, superior à heterossexualidade.
Quando um homossexual se suicida, o marxista cultural vem dizer que “o suicídio resulta de uma manifestação de desespero perante a repressão da moral burguesa e do domínio dos lacaios da burguesia em relação a uma vítima da História”; quando um heterossexual se suicida, o marxista cultural não diz nada porque os suicídios são maioritariamente cometidos por heterossexuais, e porque o heterossexual faz parte da “maioria dos lacaios da burguesia” – salvo se o heterossexual suicida for um negro ou melhor: uma mulher negra.
Seria fastidioso enumerar aqui toda uma série de contradições ideológicas e filosóficas do marxismo cultural; trata-se de uma retórica risível que defende sistematicamente uma ideia e contradiz essa mesma ideia logo a seguir. Mas a triste realidade é que muita da filosofia inconscientemente absorvida pelos nossos políticos actuais é de origem marxista cultural – Sócrates incluído. Até o ortodoxo Jerónimo de Sousa não escapa.

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