Cartum (Agência Fides) - “Depois da euforia da
independência, será preciso fazer as contas com a dura realidade dos
milhares de sudaneses do sul que retornaram ao sul e não possuem nada.
Não existem escolas, hospitais e nem casas, e falta até mesmo água
potável” – diz à Fides Dom Macram Max Gassis, Bispo de El Obeid. O Sul
do Sudão votará no dia 9 de janeiro em um referendo para a
independência, um resultado que de acordo com as previsões, é quase
certo. “O movimento de regresso já começou há tempos” – explica Dom
Gassis. “Duas semanas atrás, estive na região de Twic, no Norte Bahr El
Ghazal, para onde, segundo me informaram as autoridades locais, já
retornaram 50 mil sudaneses do sul. Estas pessoas são descarregadas de
caminhões no meio do nada. Não têm nem mesmo um local decente para
dormir. Existe apenas um ponto de distribuição de água; não há
mosqueteiras, alimentos e medicamentos”. “Imagine que apenas na área de
Cartum, capital do atual Sudão unitário, há cerca de 4 milhões de
sudaneses do sul que podem retornar à sua região. Estamos diante de uma
potencial tragédia humanitária” – acrescenta do Bispo de El Obeid.
O
referendo está previsto no Acordo Inclusivo de Paz (CPI) assinado em
Nairóbi (Quênia) em 2005 pelo governo central sudanês e pelo Movimento
de Libertação do Povo Sudanês (SPLM), que colocou fim a uma guerra de
mais de 20 anos”. “O êxito do referendo é quase certo, porque o governo
de Cartum não fez nada para explicar a alternativa de manter o Sul do
Sudão no contexto do Sudão unitário mas em um regime de autonomia. O CPI
estabeleceu um prazo de 5 anos antes do referendo justamente para
permitir que o governo central adotasse uma política para convencer os
povos do sul a manter o Estado unitário. Não foi adotada alguma política
para reconhecer as exigências dos vários povos que compõem este País,
onde vivem várias confissões religiosas, e continua-se a insistir na
aplicação da Xariá” – diz Dom Gassis. Dom Gassis se diz preocupado pelo
futuro da Igreja no norte do Sudão, em caso de secessão: “O que será da
Igreja do norte uma vez que o Sudão for dividido em um Estado animista e
cristão e um Estado setentrional, de maioria islâmica? Temo que os
católicos que permanecerem aqui, assim como os coptas ortodoxos, corram o
risco de serem “protegidos” – segundo a interpretação mais rigorosa da
Xariá – e por conseguinte, possam ser tratados como cidadãos de segunda
categoria, ou pior ainda, serem vítimas de perseguições reais” – conclui
o Bispo de El Obeid. (L.M.) (8/1/2011)
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