Cartum (Agência Fides) - 3,9 milhões de
eleitores são chamados a votar a favor ou contra a independência do Sul
do Sudão no referendo a se realizar de 9 a 15 de janeiro. A maioria dos
eleitores vive no Sul do Sudão, mas muitos, originários do Sul, residem
no Norte e são inscritos nas listas eleitorais, assim como uma parte da
diáspora sudanesa no exterior. De acordo com especialistas, o êxito do
referendo é praticamente certo: o Sul do Sudão será independente,
criando assim um precedente em toda a África. Até o momento, com exceção
da Eritreia (que durante o período colonial era uma realidade separada
da Etiópia), os Estados africanos respeitaram rigorosamente a decisão da
Organização para a Unidade Africana (que em 2001 se tornou União
Africana), que no ato de sua constituição, em 1963, impôs o respeito das
fronteiras estabelecidas pelos colonizadores depois do Congresso de
Berlim, em 1884-85. Teme-se, portanto, que o referendo sudanês abra um
verdadeiro “Vaso de Pandora” e seja o início de novas controvérsias
entre Estados e regiões que reivindicam mais autonomia ou independência.
Esta perspectiva preocupa muitos políticos africanos. Não foi um caso
que, com o objetivo de não alimentar os independentistas do continente,
poucos Estados africanos tenham reconhecido a independência de Kossovo. O
maior risco é o uso instrumental da religião para apoiar projetos
independentistas. Na África, os exemplos de regiões potencialmente
secessionistas são vários: a enclave angolana de Cabinda, o Ogaden
etíope, as tensões na Nigéria e na República Democrática do Congo. Na
Somália, o Somaliland (no norte) já é, na prática um Estado
independente, que aguarda apenas o reconhecimento internacional. Em
nível regional, o Sul do Sudão independente entraria na esfera de
influência econômica e política do Quênia, que já tem uma grande
influência no país. Segundo o jornal queniano The Nation, 70 mil
quenianos vivem no Sul do Sudão, controlando na prática os setores
bancário, da aviação e da edilícia. A construção de novos oleodutos, de
estradas e linhas ferroviárias e telemáticas entre os dois países poderá
reforçar ulteriormente suas economias, permitindo que o Quênia enfrente
os desafios de seus próprio parceiros/rivais regionais. (L.M.) (Agência
Fides 8/1/2010)
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